domingo, 27 de dezembro de 2009
TUTTO CONCORRE AL BENE DI COLORO CHE AMANO DIO
Estava distante estes dias, esta foi uma razão do meu silêncio.
Nestes dias eu tive a graça de fazer aquele que considero o melhor retiro da minha vida (até hoje, naturalmente). Sozinho, longe de todos e de tudo, sem a preocupação com preparar retiro para os outros, abandonado na Palavra de Deus.
Quando ainda estava em Brasília, tivemos um retiro que foi animado pelo Frei Agostino Gardin, pessoa que me foi sempre vizinha, e muito mais desde quando aqui cheguei. Naquele retiro ele citou muitas vezes um tal Enzo Bianchi, até aquele momento desconhecido para mim. Fiquei sempre profundamente impressionado com a sua afirmação sobre o perigo da falta de fé no “homem religioso”, e usei este testo mil vezes para pregar retiro para outras pessoas.
Quando Deus me deu a graça de uma profunda crise que me abalou naquilo que eu mais acreditava (vida fraterna), eu comecei a escutar muito aquilo que pregava para os outros. Naquele momento o discuso da falta de fé me veio aos ouvidos como uma grande auto-crítica. Foi neste momento que repensei a minha vida já “repensada” e resolvi pedir ao Ministro Geral que me enviasse a qualquer lugar. Bom, vocês sabem onde vim parar, e não canso de afirmar que este tem sido o momento da graça do Senhor na minha vida.
Desde quando cheguei aqui eu tenho escutado Enzo Bianchi, tenho no meu computador todas as conferências que ele prega em Bose, e quando trabalho ou faço esportes eu o escuto no MP3. Penso que é uma graça de Deus quando se encontra alguém que se torna um pai espiritual, e eu encontrei. Adquiri sempre mais uma profunda identificação com o pensar deste homem. Eu dei crédito a ele, primeiramente porque Gardin me indicou, eu eu tenho grande apresso e admiração por este, e hoje tenho também por Bianchi.
Quem é Enzo Bianchi? Aqui na Itália eu penso que é a personalidade eclesial mais escutada. É um leigo, e cada vez mais me vai confirmado que são estes que chamam a Igreja a conversão. Hoje ele tem 64 anos, mas na sua juventude era já um “buscador de Deus”. Filho de pai ateu, ele foi desde menino educado pela mãe para ter uma vida de união com Deus. Fez a faculdade de economia no meio dos professores ateus do seu tempo, mas sempre manteve viva a sede de Deus. Daí que saiu pelo mundo buscando conhecer as diversas religiões, sem nunca colocar em dúvida a sua própria. Nele se encontra uma rara sintese de homem de cultura e homem de fé.
Um dia ele foi ajudar um amigo a restaurar a Igreja de São Segundo, em Bose. Ali encontrou uma vila abandonada, e resolveu ficar e fazer um caminho de seguinto de Jesus, valorizando sobretudo a Palavra de Deus. Três anos depois vieram duas pessoas pedindo para viver com ele a mesma experiência: uma jovem católica italiana e um pastor protestante sueco. Nasce assim a comunidade mista e ecumênica de Bose.
Depois de quarenta anos, Bose tem 70 monges. Uma comunidade ecumênica de homens e mulheres, católicos e outros cristãos. A grande força daquela comunidade é a Palavra de Deus. Com Enzo nestes meus 7 meses em Camposampiero, e sobretudo nestes dias de retiro, eu aprendi a revalorizar a Palavra de Deus, e sobretudo a fazer uma lectio divina, que indico para todos como único caminho possivel de conversão e de espiritualidade.
Escolhi ir para Bose, local onde pretendo voltar algumas vezes, quando não havia um retiro para um grupo. Ali fiquei de domingo a domingo. Quis estar só, participei das orações da comunidade, escutei um retiro pregado por Enzo sobre as parabolas de Jesus em Lucas, fiquei só diante do Senhor rezando com a Palavra de Deus (Lectio Divina), participei da Lectio da comunidade e tive encontros pessoais com Enzo Bianchi (isto foi um milagre). Primeira vez o encontrei, um homem muito interessante, que mais que dar respostas, ele tem a capacidade de escutar o outro com atenção e sem se impacientar. Ao final com poucas palavras, em geral usando a Palavra de Deus, ele resume o que pensa. Para mim disse: “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus!” (Rm 8). Amém! É verdade, posso dizer isto com toda força do meu coração.
Hoje está difícil resumir, mas me forçarei a terminar assim: no Brasil eu aprendi a ter grande admiração pelas comunidades laicais, isto eu ja disse antes. A comunidade de Bose me colocou novamente diante da realidade de leigos que se amam e querem viver o Evangelho, e me chamou ainda mais a atenção por ser ecumênica, mista, fundada na Palavra de Deus, nos Santos dos primeiros séculos (Padres da Igreja) e nas Regras da vida religiosas do oriente e do ocidente, entre elas São Francisco e Santa Clara. É uma realidade que vale a pena conhecer: cativante e desafiadora (http://www.monasterodibose.it).
Um abraço, ainda com votos de Feliz Natal e um ano novo cheio de Deus.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
A ESPIRITUALIDADE COMO RELAÇÃO
Uma verdadeira espiritualidade nos conduz à dimensão comunitária. Este foi o percurso natural de todas as espiritualidades: até mesmo aqueles que se decidiram por viver no deserto, eram cheios de uma abertura para o outro.
O ser humano é um ser feito para a relação. Não somos e não podemos ser mônadas, isoladas em si mesmas, mas somos feitos para nos abrirmos ao outro. E isto se deve a algumas motivações:
• No plano Trinitário: a grandeza da nossa fé, a singularidade da fé cristã, não é tanto a afirmação do monoteísmo, se pensarmos bem esta é a fé dos muçulmanos e dos judeus também. Até a filosofia, com um esforço profundamente humano, já tinha chegado à afirmação de um só deus. A singularidade da fé cristã é afirmar que existe um Deus-Comunidade. Um Deus que é ser-para–o-outro. Não existe como ser discípulo deste Deus, se não se afirma a dimensão comunitária da vida.
• No plano cosmógico: toda a criação tem em si uma lei de interdependência. Nós só vivemos na convivência. O ser humano é tão dependente do outro, que mesmo Adão tendo sido criado depois da criação de tantos outros elementos, ainda se queixava da solidão.
• No plano humano: nós dependemos do outro para viver em plenitude todas as nossas dimensões: física, psíquica e espiritual. Não é possível viver e amadurecer prescindindo da convivência com o outro. O outro me faz crescer.
Sejamos honestos: tantas vezes a nossa tentação é reconhecer como Sartre que o outro é meu inferno. Mas se nos deixarmos libertar das armadilhas do nosso “eu” sempre tendencioso, chegaremos a ver que o outro, ainda que seja o meu inimigo mais perverso, merece agradecimento. Quem mais nos ajuda a crescer é justamente o outro, e muito mais se este se torna nosso algoz, porque nos ensina a ser muito mais críticos, prudentes e capazes de nos avaliarmos tal como somos, e não pelos exageros daquilo que pensam de nós, de bem ou de mal.
Diante das dificuldades da vida de cada um de nós, a fuga para um isolamento se torna fácil. Sem dúvida que o suportar a solidão consigo mesmo, faz parte de uma pessoa madura, mas de todo modo o outro é uma graça na nossa vida, independentemente de como ele seja, poderá sempre nos trazer algo de bom. Basta a capacidade de saber distinguir o que posso aproveitar do encontro com cada pessoa, e discernir isto é ESPIRITUALIDADE.
Até mais! Fiquem com Deus.
O ser humano é um ser feito para a relação. Não somos e não podemos ser mônadas, isoladas em si mesmas, mas somos feitos para nos abrirmos ao outro. E isto se deve a algumas motivações:
• No plano Trinitário: a grandeza da nossa fé, a singularidade da fé cristã, não é tanto a afirmação do monoteísmo, se pensarmos bem esta é a fé dos muçulmanos e dos judeus também. Até a filosofia, com um esforço profundamente humano, já tinha chegado à afirmação de um só deus. A singularidade da fé cristã é afirmar que existe um Deus-Comunidade. Um Deus que é ser-para–o-outro. Não existe como ser discípulo deste Deus, se não se afirma a dimensão comunitária da vida.
• No plano cosmógico: toda a criação tem em si uma lei de interdependência. Nós só vivemos na convivência. O ser humano é tão dependente do outro, que mesmo Adão tendo sido criado depois da criação de tantos outros elementos, ainda se queixava da solidão.
• No plano humano: nós dependemos do outro para viver em plenitude todas as nossas dimensões: física, psíquica e espiritual. Não é possível viver e amadurecer prescindindo da convivência com o outro. O outro me faz crescer.
Sejamos honestos: tantas vezes a nossa tentação é reconhecer como Sartre que o outro é meu inferno. Mas se nos deixarmos libertar das armadilhas do nosso “eu” sempre tendencioso, chegaremos a ver que o outro, ainda que seja o meu inimigo mais perverso, merece agradecimento. Quem mais nos ajuda a crescer é justamente o outro, e muito mais se este se torna nosso algoz, porque nos ensina a ser muito mais críticos, prudentes e capazes de nos avaliarmos tal como somos, e não pelos exageros daquilo que pensam de nós, de bem ou de mal.
Diante das dificuldades da vida de cada um de nós, a fuga para um isolamento se torna fácil. Sem dúvida que o suportar a solidão consigo mesmo, faz parte de uma pessoa madura, mas de todo modo o outro é uma graça na nossa vida, independentemente de como ele seja, poderá sempre nos trazer algo de bom. Basta a capacidade de saber distinguir o que posso aproveitar do encontro com cada pessoa, e discernir isto é ESPIRITUALIDADE.
Até mais! Fiquem com Deus.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
FRANCISCO DE ASSIS – O IRMÃO MENOR
Estou fazendo neste tempo a releitura das fontes franciscanas, agora na sua edição italiana mais nova. Tenho lido também os livros de alguns franciscanólogos. Tem sido uma bela redescoberta da figura de Francisco de Assis.
Francisco é exemplo vivo daquele ser com o coração aberto a Deus e plasmado do Seu Espírito. A sua experiência parte do encontro com o Crucifixo-Ressuscitado, que o levará depois a ser ele mesmo “crucificado”, e por isto “homem aberto”, que encontra o outro como um irmão, menor, até alcançar “o outro de todo outro” que é o mistério da irmã Morte.
Tudo iniciou com o leproso e ele mesmo fala no seu Testamento: “O Senhor deu a mim, Frei Francisco, de começar a fazer penitência assim: quando estava nos pecados me parecia coisa muito amarga ver os leprosos, e o Senhor mesmo me conduziu entre eles e usei com eles misericórdia. E distanciando-me deles, o que me parecia amargo me foi transformado em doçura da alma e do corpo” (Tradução a partir do texto italiano). O contraste “amargo-doce” marca este encontro que determinou uma mudança interior radical, uma verdadeira e própria conversão, que se repercutirá não só sobre sua relação com Deus, mas também sobre sua visão do homem e do universo.
Nas narrações mais ricas de Tomás de Celano e Boaventura existe um contraste entre um “antes” de horror e repugnância, e um “depois” falando assim do beijo com o qual Francisco marca o encontro com o leproso, expressão forte de comunhão e amor, de fraternidade profunda.
Eis agora que a dificuldade de Francisco de se avizinhar da diversidade assim tão fortemente diferente, se transforma, à luz do Cristo, em capacidade de encontrar e fazer comunhão. Em um momento de “estado de inquietude espiritual”, como o define Manselli – um dos seus maiores estudiosos -, Francisco encontra o Crucificado na pequena igrejinha de São Damião, fora de Assis. O Cristo sofredor se torna para Francisco “espaço de encontro”, confirmando o precedente episódio do leproso. Reconhecendo em Cristo o rosto de Deus, ele acolhe o convite a reconhecer no último e mais desfigurado homem o próprio rosto de Cristo, e ele olha com os olhos que entrevê, mesmo se não ainda completamente, o mistério que é este Deus, mistério que fala, que envolve, que move e co-move fora de si. É esta consciência que o impulsiona a escolher a marginalidade como estilo de vida; esta posição entre os homens e no mundo lhe permite de se tornar homem ecumênico e, portanto homem do encontro, irmão menor.
Depois do abraço ao leproso e da palavra do Crucificado em São Damião, em Francisco acontece uma mudança interior profunda, mas também de horizontes, que o portará ao Alverne e a receber o amoroso sinal dos estigmas. Se pode dizer que passou do centro do mundo, cento do seu mundo que era Assis, às margens do mundo, fazendo desta margens a sua ecumene, ou seja, o seu mundo, a sua casa, que é também a casa de todos os outros, os diferentes dele.
Ele morreu como viveu, isto é, indo sempre ao encontro ao outro, pobremente, armado somente da sua única certeza: o seu Senhor crucificado-ressuscitado que resolve em si até as contradições, até a Morte. A presença de Francisco no horizonte da história assinala, portanto, um momento de graça e uma exultante experiência de diálogo universal e fecundo.
Penso que o lugar certo, o lugar franciscano, ou seja, onde o franciscano pode encontrar Deus, é o leproso e o Crucificado. É ai que Francisco se encontrou com o seu Senhor, com a sua fé, e seguramente consigo mesmo e os outros.
Um abraço. Vamos em frente!
Francisco é exemplo vivo daquele ser com o coração aberto a Deus e plasmado do Seu Espírito. A sua experiência parte do encontro com o Crucifixo-Ressuscitado, que o levará depois a ser ele mesmo “crucificado”, e por isto “homem aberto”, que encontra o outro como um irmão, menor, até alcançar “o outro de todo outro” que é o mistério da irmã Morte.
Tudo iniciou com o leproso e ele mesmo fala no seu Testamento: “O Senhor deu a mim, Frei Francisco, de começar a fazer penitência assim: quando estava nos pecados me parecia coisa muito amarga ver os leprosos, e o Senhor mesmo me conduziu entre eles e usei com eles misericórdia. E distanciando-me deles, o que me parecia amargo me foi transformado em doçura da alma e do corpo” (Tradução a partir do texto italiano). O contraste “amargo-doce” marca este encontro que determinou uma mudança interior radical, uma verdadeira e própria conversão, que se repercutirá não só sobre sua relação com Deus, mas também sobre sua visão do homem e do universo.
Nas narrações mais ricas de Tomás de Celano e Boaventura existe um contraste entre um “antes” de horror e repugnância, e um “depois” falando assim do beijo com o qual Francisco marca o encontro com o leproso, expressão forte de comunhão e amor, de fraternidade profunda.
Eis agora que a dificuldade de Francisco de se avizinhar da diversidade assim tão fortemente diferente, se transforma, à luz do Cristo, em capacidade de encontrar e fazer comunhão. Em um momento de “estado de inquietude espiritual”, como o define Manselli – um dos seus maiores estudiosos -, Francisco encontra o Crucificado na pequena igrejinha de São Damião, fora de Assis. O Cristo sofredor se torna para Francisco “espaço de encontro”, confirmando o precedente episódio do leproso. Reconhecendo em Cristo o rosto de Deus, ele acolhe o convite a reconhecer no último e mais desfigurado homem o próprio rosto de Cristo, e ele olha com os olhos que entrevê, mesmo se não ainda completamente, o mistério que é este Deus, mistério que fala, que envolve, que move e co-move fora de si. É esta consciência que o impulsiona a escolher a marginalidade como estilo de vida; esta posição entre os homens e no mundo lhe permite de se tornar homem ecumênico e, portanto homem do encontro, irmão menor.
Depois do abraço ao leproso e da palavra do Crucificado em São Damião, em Francisco acontece uma mudança interior profunda, mas também de horizontes, que o portará ao Alverne e a receber o amoroso sinal dos estigmas. Se pode dizer que passou do centro do mundo, cento do seu mundo que era Assis, às margens do mundo, fazendo desta margens a sua ecumene, ou seja, o seu mundo, a sua casa, que é também a casa de todos os outros, os diferentes dele.
Ele morreu como viveu, isto é, indo sempre ao encontro ao outro, pobremente, armado somente da sua única certeza: o seu Senhor crucificado-ressuscitado que resolve em si até as contradições, até a Morte. A presença de Francisco no horizonte da história assinala, portanto, um momento de graça e uma exultante experiência de diálogo universal e fecundo.
Penso que o lugar certo, o lugar franciscano, ou seja, onde o franciscano pode encontrar Deus, é o leproso e o Crucificado. É ai que Francisco se encontrou com o seu Senhor, com a sua fé, e seguramente consigo mesmo e os outros.
Um abraço. Vamos em frente!
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Francisco de Assis: plenamente humano
Nestes dias estamos comemorando o Pobrezinho de Assis, uma pessoa tão reconciliada consigo mesmo, com Deus e com as criaturas que acaba por extrapolar os confins do mundo católico, para ser atrativo a outros cristãos e a outras pessoas.
Gosto sempre de recordar como fiquei impressionado quando visitei Assis pela primeira fez. Era o ano 1996 e eu fiquei estupefato com o grande número de budistas que estavam em oração silenciosa na tumba de Francisco. Enquanto os cristãos faziam barulho nas basílicas superiores, eles estavam lá, não para encontrar-se com a arte, mas para se encontrarem com Francisco.
Depois, ao longo dos anos, eu fui me deixando atrair sempre mais por esta figura. Primeiramente, foi lendo os Fioretti que fiquei encantado por Francisco, a ponto de pedir para entrar no postulantado do Jardim da Imaculada. Depois, sobretudo a formação do noviciado, me moveram para aceitar plenamente este homem e sua espiritualidade. Acredito que a isto eu devo ter suportado uma série de coisas.
É interessante porque quando se lê as biografias medievais, elas tendem a fazer uma imagem do santo tão angelical que acabam produzindo no leitor o sentimento de que é impossível chegar a ser assim. Devemos reconhecer que esta tendência está presente na hagiografia de Francisco, mas ao mesmo tempo deixa escapar um Francisco muito humano, simpático, dócil, terno e vigoroso. Francisco é um santo simpático, não é como alguns que nos provocam uma distância quando queremos conhecer a sua vida.
A sua grandeza nos coloca diante do imenso desafio que é atualizar o seu carisma no mundo de hoje. Na verdade penso que diante de pessoas grandes tendemos somente a repetir os gestos e formas, pois é muito difícil conseguirmos entender o essencial da sua vida. Aqui está o desafio, sempre mais instigante, para os filhos de Francisco: fazer com que a nossa vida transpareça o carisma de Francisco, sem aprisionar este carisma, que pode e deve ser vivido fora das instituições franciscanas.
Se pensarmos nos grandes desafios da modernidade: ecumenismo, diálogo, ecologia, justiça, paz, etc, e nos eternos sonhos da humanidade: encontro com Deus, auto-reconciliação, fraternidade, etc, veremos que no Irmão de Assis encontraremos uma resposta, uma direção a ser seguida, e que após tantos séculos permanece valida para nós hoje.
Que o Santo de Assis e do mundo todo nos ajude na vocação comum de seguir o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Gosto sempre de recordar como fiquei impressionado quando visitei Assis pela primeira fez. Era o ano 1996 e eu fiquei estupefato com o grande número de budistas que estavam em oração silenciosa na tumba de Francisco. Enquanto os cristãos faziam barulho nas basílicas superiores, eles estavam lá, não para encontrar-se com a arte, mas para se encontrarem com Francisco.
Depois, ao longo dos anos, eu fui me deixando atrair sempre mais por esta figura. Primeiramente, foi lendo os Fioretti que fiquei encantado por Francisco, a ponto de pedir para entrar no postulantado do Jardim da Imaculada. Depois, sobretudo a formação do noviciado, me moveram para aceitar plenamente este homem e sua espiritualidade. Acredito que a isto eu devo ter suportado uma série de coisas.
É interessante porque quando se lê as biografias medievais, elas tendem a fazer uma imagem do santo tão angelical que acabam produzindo no leitor o sentimento de que é impossível chegar a ser assim. Devemos reconhecer que esta tendência está presente na hagiografia de Francisco, mas ao mesmo tempo deixa escapar um Francisco muito humano, simpático, dócil, terno e vigoroso. Francisco é um santo simpático, não é como alguns que nos provocam uma distância quando queremos conhecer a sua vida.
A sua grandeza nos coloca diante do imenso desafio que é atualizar o seu carisma no mundo de hoje. Na verdade penso que diante de pessoas grandes tendemos somente a repetir os gestos e formas, pois é muito difícil conseguirmos entender o essencial da sua vida. Aqui está o desafio, sempre mais instigante, para os filhos de Francisco: fazer com que a nossa vida transpareça o carisma de Francisco, sem aprisionar este carisma, que pode e deve ser vivido fora das instituições franciscanas.
Se pensarmos nos grandes desafios da modernidade: ecumenismo, diálogo, ecologia, justiça, paz, etc, e nos eternos sonhos da humanidade: encontro com Deus, auto-reconciliação, fraternidade, etc, veremos que no Irmão de Assis encontraremos uma resposta, uma direção a ser seguida, e que após tantos séculos permanece valida para nós hoje.
Que o Santo de Assis e do mundo todo nos ajude na vocação comum de seguir o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Que coisa é a fé?
Tem algumas perguntas na vida que são tão complexas que dão a impressão que vale tudo como resposta, ao mesmo tempo que não vale nada. Parece que diante destas perguntas nós não conseguimos verbalizar claramente que coisa é esta sobre a qual queremos discursar.
Veja, se nos perguntarmos quem é Deus, podemos dar milhões de respostas. Na verdade a tentação mais comum será dar aquela resposta que aprendemos no catecismo. Uma resposta útil para educar na fé, mas penso que a maturidade, os anos que passam, deve nos permitir forjar uma resposta experiencial. Mas esta resposta, já por ser experiencial, em geral, não pode ser facilmente verbalizada. Basta pensar que os místicos não conseguem transmitir com palavras a experiência de encontro que tiveram com Deus. Assim, penso que Deus, em certo sentido, só pode ser experienciado e conhecido pelo encontro de fé. Com isto logo se coloca um problema colateral: para que estudar teologia? Ora, a teologia nos coloca diante de um mistério (Deus) e diante de um grande risco: pensarmos em conhecer Deus somente pelos livros, sem uma experiência vital, quando assim o fazemos, e é algo comum, Ele é facilmente instrumentalizado para estar a nosso serviço.
Ao dizer que a fé é o caminho para conhecer Deus, parece que já definimos muita coisa, mas é pura ilusão pensar assim. Se pedirmos a um enamorado que defina a pessoa amada e o sentimento que os liga, ele terá um grande problema, pois ao mesmo tempo que tem certeza sobre o que sente, não conseguirá com palavras dizer tudo o que sente. Isto é o que acontece quando tentamos falar sobre Deus e sobre fé. São entes sobre os quais nós balbuciamos e não falamos.
A fé, não como definição dogmática, mas como encontro de amor, é o eixo que conduz a história da salvação. De certo que ela não tem um valor em si, é uma via para ser percorrida neste vale de lágrimas, e que um dia será substituída pela visão.
O encontro com Deus não é fácil. Quase sempre ele passa pela cruz, pela rejeição, pelo silêncio de Deus, pelo desprezo. Um místico chamado Thomas Merton, vai dizer que se pensarmos que encontramos Deus numa via de facilidade, podemos ter certeza que encontramos tudo, menos Deus. Neste sentido é preocupante que é sempre mais presente a tendência de fazer da espiritualidade uma psicologia ou uma experiência de prazer pessoal, onde se conclui, pelo choro ou outro sentimento, que me encontrei com Deus, mas isto não é verdadeiro.
Por cultura, creio que nós latinos tendemos a confundir fé com sentimento: se nos emocionamos diante do Sagrado ou se vemos alguém se emocionar, logo concluímos que houve uma experiência de fé. Aqui na Europa o risco é da intelectualização da experiência de Deus, se há planejamento e racionalidade, Deus foi encontrado. Contudo, a fé passa por tudo isto, mas a fé não é isto: não é sentimento só, não é razão só, não é só corpo, não se reduz ao espírito e não se condensa na alma. Ainda mais: a fé não é só a devoção, não é o ter dons diversos, não é o falar bem das coisas sagradas e nem sequer é um estado de vocação na Igreja. A fé, como experiência de abandono total em Deus, deve se apropriar de tudo que somos e temos, só a partir daí que vamos deixando-nos morrer, para que Ele viva em nós.
Esta é uma tarefa difícil, pois facilmente a força do nosso eu é tão grande que substituímos Deus por nós mesmos e pensamos que O encontramos. Contudo esta é uma tarefa para toda a vida e a tarefa mais bela da nossa vida: o encontro com o totalmente Outro, que de algum modo já está no que há de mais profundo de nós. Sem este encontro nós não nos tornamos nem humanos nem divinos. Sem este encontro nós não somos pessoas e não nos encontramos com a nossa identidade mais íntima. A vida sem fé é sem sabor, sem sentido e extremamente fugaz.
Um abraço grande. Fiquem com Deus e que Ele lhes abençoe!
Veja, se nos perguntarmos quem é Deus, podemos dar milhões de respostas. Na verdade a tentação mais comum será dar aquela resposta que aprendemos no catecismo. Uma resposta útil para educar na fé, mas penso que a maturidade, os anos que passam, deve nos permitir forjar uma resposta experiencial. Mas esta resposta, já por ser experiencial, em geral, não pode ser facilmente verbalizada. Basta pensar que os místicos não conseguem transmitir com palavras a experiência de encontro que tiveram com Deus. Assim, penso que Deus, em certo sentido, só pode ser experienciado e conhecido pelo encontro de fé. Com isto logo se coloca um problema colateral: para que estudar teologia? Ora, a teologia nos coloca diante de um mistério (Deus) e diante de um grande risco: pensarmos em conhecer Deus somente pelos livros, sem uma experiência vital, quando assim o fazemos, e é algo comum, Ele é facilmente instrumentalizado para estar a nosso serviço.
Ao dizer que a fé é o caminho para conhecer Deus, parece que já definimos muita coisa, mas é pura ilusão pensar assim. Se pedirmos a um enamorado que defina a pessoa amada e o sentimento que os liga, ele terá um grande problema, pois ao mesmo tempo que tem certeza sobre o que sente, não conseguirá com palavras dizer tudo o que sente. Isto é o que acontece quando tentamos falar sobre Deus e sobre fé. São entes sobre os quais nós balbuciamos e não falamos.
A fé, não como definição dogmática, mas como encontro de amor, é o eixo que conduz a história da salvação. De certo que ela não tem um valor em si, é uma via para ser percorrida neste vale de lágrimas, e que um dia será substituída pela visão.
O encontro com Deus não é fácil. Quase sempre ele passa pela cruz, pela rejeição, pelo silêncio de Deus, pelo desprezo. Um místico chamado Thomas Merton, vai dizer que se pensarmos que encontramos Deus numa via de facilidade, podemos ter certeza que encontramos tudo, menos Deus. Neste sentido é preocupante que é sempre mais presente a tendência de fazer da espiritualidade uma psicologia ou uma experiência de prazer pessoal, onde se conclui, pelo choro ou outro sentimento, que me encontrei com Deus, mas isto não é verdadeiro.
Por cultura, creio que nós latinos tendemos a confundir fé com sentimento: se nos emocionamos diante do Sagrado ou se vemos alguém se emocionar, logo concluímos que houve uma experiência de fé. Aqui na Europa o risco é da intelectualização da experiência de Deus, se há planejamento e racionalidade, Deus foi encontrado. Contudo, a fé passa por tudo isto, mas a fé não é isto: não é sentimento só, não é razão só, não é só corpo, não se reduz ao espírito e não se condensa na alma. Ainda mais: a fé não é só a devoção, não é o ter dons diversos, não é o falar bem das coisas sagradas e nem sequer é um estado de vocação na Igreja. A fé, como experiência de abandono total em Deus, deve se apropriar de tudo que somos e temos, só a partir daí que vamos deixando-nos morrer, para que Ele viva em nós.
Esta é uma tarefa difícil, pois facilmente a força do nosso eu é tão grande que substituímos Deus por nós mesmos e pensamos que O encontramos. Contudo esta é uma tarefa para toda a vida e a tarefa mais bela da nossa vida: o encontro com o totalmente Outro, que de algum modo já está no que há de mais profundo de nós. Sem este encontro nós não nos tornamos nem humanos nem divinos. Sem este encontro nós não somos pessoas e não nos encontramos com a nossa identidade mais íntima. A vida sem fé é sem sabor, sem sentido e extremamente fugaz.
Um abraço grande. Fiquem com Deus e que Ele lhes abençoe!
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
A fé: uma questão fundamental
Queridos, Paz e bem! Antes de tudo perdão pelo atraso em colocar textos. Aqui pra frente serão colocados com pontualidade. Estávamos no verão, e entre saídas e chegadas, eu não tive como atualizar o blog. Abraços.
Quando se estuda teologia, tem uma disciplina chamada teologia fundamental onde se reflete sobre a fé. O nome da disciplina é este porque ela se confronta com temas importantes que permeiam todas as outras disciplinas (se querem um nome antigo, tratados), e porque ela trata de temas que são preliminares ao estudo da teologia.
Recordando-me nestes dias do tempo que lecionei introdução à teologia, eu pensava um paralelo para poder compreender a espiritualidade: a fé é o seu fundamento. Mas também a fé é algo que cresce com a própria espiritualidade. Fé é um dom, mas também uma responsabilidade pessoal diante do sagrado.
Quando nós pensamos em nós mesmos ou se perguntamos a outros se têm fé, logo vem, quase sempre automaticamente, uma resposta afirmativa. Recordo-me da pergunta do Senhor Jesus: “Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?”. Tenho a impressão que a facilidade com a qual nós afirmamos a fé destoa da pergunta de Jesus, pois Ele parece “descrer” que encontrará um mundo cheio de fiéis. Reconhecer, até com muita dor, que não somos pessoas de fé, é o primeiro passo para começar a tê-la.
No mês de julho eu participei de um retiro com um sacerdote de 97 anos, Arturo Paoli (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arturo_Paoli), um homem de uma lucidez, atualidade e força que destoam daquilo que se pode pensar de alguém desta idade. Um homem que teve uma história de vida luminosa em nível de igreja, até os 47 anos, e depois de uma enorme perseguição por parte de seus pares aqui na Itália, ele pediu a Paulo VI para ir para América Latina, viveu inclusive no Brasil. Na viagem de ida ele conheceu um irmão da congregação de Charles de Foucauld e pediu para entrar na congregação. Depois de um sim do superior geral, ele foi rejeitado pelo formador e por fim admitido. Foi viver no deserto durante anos e naquela experiência, sem o poder, sem as luzes, sem o palco, sem os alunos, ele percebeu que não tinha fé. Ele nos dizia que era a experiência mais desoladora do mundo, algo semelhante a uma depressão, mas muito pior.
Ele percebeu que ele não tinha uma fé, mas confiava nas suas qualidades, no seu talento, no seu poder, ou seja, em si mesmo. Somente depois de um episódio no deserto, é que Ele começou a perceber o essencial e encontrou consolo: não sou eu que busco Deus, é Ele que está me buscando!
Olha, devo-lhes dizer que a minha experiência pessoal de vida foi muito semelhante. Eu pensava ter fé quando era o centro das atenções, quando tinha poder, contava com palco e auditório, suposto amor e respeito. Quando eu perdi tudo isto, e algo mais, que foi a proximidade dos irmãos, aos poucos eu fui decidindo de deixar tudo, inclusive Deus. Para explicar: a experiência de doença e morte coloca muitas pessoas no ponto crucial da fé, mas isto é ainda pior quando se passa pela experiência da “própria morte” em vida. Desta experiência eu fui para uma fuga de Deus, um vazio, a constatação de que não tinha fé, o desejo de Deus, uma busca e um encontro, que de algum modo Camposampiero foi o deserto que eu precisava.
Contar estas duas histórias, de dois ministros da Igreja, somente serve para nos ajudar a colocarmo-nos diante da questão de Jesus: o Filho do Homem encontrará fé em mim?Sugiro que pense sobre isto. Mas coloque-se também a questão anterior a esta: o que é fé?
Até a próxima, daqui a uma semana. Abraços e bênçãos!
Quando se estuda teologia, tem uma disciplina chamada teologia fundamental onde se reflete sobre a fé. O nome da disciplina é este porque ela se confronta com temas importantes que permeiam todas as outras disciplinas (se querem um nome antigo, tratados), e porque ela trata de temas que são preliminares ao estudo da teologia.
Recordando-me nestes dias do tempo que lecionei introdução à teologia, eu pensava um paralelo para poder compreender a espiritualidade: a fé é o seu fundamento. Mas também a fé é algo que cresce com a própria espiritualidade. Fé é um dom, mas também uma responsabilidade pessoal diante do sagrado.
Quando nós pensamos em nós mesmos ou se perguntamos a outros se têm fé, logo vem, quase sempre automaticamente, uma resposta afirmativa. Recordo-me da pergunta do Senhor Jesus: “Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?”. Tenho a impressão que a facilidade com a qual nós afirmamos a fé destoa da pergunta de Jesus, pois Ele parece “descrer” que encontrará um mundo cheio de fiéis. Reconhecer, até com muita dor, que não somos pessoas de fé, é o primeiro passo para começar a tê-la.
No mês de julho eu participei de um retiro com um sacerdote de 97 anos, Arturo Paoli (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arturo_Paoli), um homem de uma lucidez, atualidade e força que destoam daquilo que se pode pensar de alguém desta idade. Um homem que teve uma história de vida luminosa em nível de igreja, até os 47 anos, e depois de uma enorme perseguição por parte de seus pares aqui na Itália, ele pediu a Paulo VI para ir para América Latina, viveu inclusive no Brasil. Na viagem de ida ele conheceu um irmão da congregação de Charles de Foucauld e pediu para entrar na congregação. Depois de um sim do superior geral, ele foi rejeitado pelo formador e por fim admitido. Foi viver no deserto durante anos e naquela experiência, sem o poder, sem as luzes, sem o palco, sem os alunos, ele percebeu que não tinha fé. Ele nos dizia que era a experiência mais desoladora do mundo, algo semelhante a uma depressão, mas muito pior.
Ele percebeu que ele não tinha uma fé, mas confiava nas suas qualidades, no seu talento, no seu poder, ou seja, em si mesmo. Somente depois de um episódio no deserto, é que Ele começou a perceber o essencial e encontrou consolo: não sou eu que busco Deus, é Ele que está me buscando!
Olha, devo-lhes dizer que a minha experiência pessoal de vida foi muito semelhante. Eu pensava ter fé quando era o centro das atenções, quando tinha poder, contava com palco e auditório, suposto amor e respeito. Quando eu perdi tudo isto, e algo mais, que foi a proximidade dos irmãos, aos poucos eu fui decidindo de deixar tudo, inclusive Deus. Para explicar: a experiência de doença e morte coloca muitas pessoas no ponto crucial da fé, mas isto é ainda pior quando se passa pela experiência da “própria morte” em vida. Desta experiência eu fui para uma fuga de Deus, um vazio, a constatação de que não tinha fé, o desejo de Deus, uma busca e um encontro, que de algum modo Camposampiero foi o deserto que eu precisava.
Contar estas duas histórias, de dois ministros da Igreja, somente serve para nos ajudar a colocarmo-nos diante da questão de Jesus: o Filho do Homem encontrará fé em mim?Sugiro que pense sobre isto. Mas coloque-se também a questão anterior a esta: o que é fé?
Até a próxima, daqui a uma semana. Abraços e bênçãos!
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Encontro com o Senhor – Valor da Palavra de Deus
Paz e Bem!
Nos últimos tempos eu tenho me colocado com seriedade a pergunta sobre o que é essencial na espiritualidade. Há um tempo atrás, depois do Sínodo sobre a Vida Consagrada, foi publicada a Exortação Apóstolica Vita Consecrata, pelo Papa João Paulo II. Ao longo do texto ela diz que o essencial, o característico da vida consagrada é a confissão da Trindade, o sinal da fraternidade o serviço da caridade. Contudo, devemos reconhecer que isto não é peculiaridade da vida consagrada, mas o ideal da vida de qualquer pessoa.
Quando falo de espiritualidade, não penso que ela seja apenas um elo que me liga a Deus, mas algo que dá sabor a toda a existência. Podemos pensar que um sorvete sem sabor se torna apenas um punhado de gelo, assim é a vida sem espiritualidade: podemos fazer tudo, mas não tem sabor. Torna-se como o sal sem gosto ou a luz que não ilumina. Ou seja, a espiritualidade dá sentido a tudo aquilo que somos e que temos; dá um norte ao nosso pensar e ao nosso querer; dá uma unicidade à nossa mente, coração, psique e corpo.
Sem espiritualidade não é possível construir uma relação com Deus, uma fraternidade ou uma vida apostólica, seria uma ilusão. E aqui está justamente o risco da pessoa que se julga de fé: se afadigar por outros valores, justificando sempre que está trabalhando por Deus. Daí que devemos ter sempre um modo de como acrisolar, purificar, medir a nossa verdadeira opção por Deus.
Acredito que temos dois modos de evitar este perigo: a direção espiritual, que não entendo necessariamente como diálogo com um sacerdote, mas como partilha de vida com alguém de espírito, e que para isto não basta a confissão; contudo tem um meio que acredito ainda mais: a Lectio Divina – leitura orante da Palavra de Deus.
A Palavra de Deus, diferentemente dos sacramentos, é acessível a todos. Os sacramentos sem a Palavra se tornam idolatria, pois não encontram um terreno fértil em nós. A leitura da Palavra dá a oportunidade de se escutar, de falar com o Senhor e, o mais difícil, de escutar o Senhor. Em outras palavras: é oração – fundamento de uma verdadeira espiritualidade.
A vocação de Francisco de Assis, para citar um santo entre muitos, começa justamente com o encontro com a Palavra e é esta palavra que vai dando sentido à vida de Francisco: “É isto que eu quero, isso que procuro, é isso que desejo fazer de todo o coração.”
Entre outros sites sobre lectio divina, eu encontrei este do qual gostei mais: http://antoniosilvio.tripod.com/LECTIO/LDPT.HTM
Um abraço e bênçãos para todos.
Nos últimos tempos eu tenho me colocado com seriedade a pergunta sobre o que é essencial na espiritualidade. Há um tempo atrás, depois do Sínodo sobre a Vida Consagrada, foi publicada a Exortação Apóstolica Vita Consecrata, pelo Papa João Paulo II. Ao longo do texto ela diz que o essencial, o característico da vida consagrada é a confissão da Trindade, o sinal da fraternidade o serviço da caridade. Contudo, devemos reconhecer que isto não é peculiaridade da vida consagrada, mas o ideal da vida de qualquer pessoa.
Quando falo de espiritualidade, não penso que ela seja apenas um elo que me liga a Deus, mas algo que dá sabor a toda a existência. Podemos pensar que um sorvete sem sabor se torna apenas um punhado de gelo, assim é a vida sem espiritualidade: podemos fazer tudo, mas não tem sabor. Torna-se como o sal sem gosto ou a luz que não ilumina. Ou seja, a espiritualidade dá sentido a tudo aquilo que somos e que temos; dá um norte ao nosso pensar e ao nosso querer; dá uma unicidade à nossa mente, coração, psique e corpo.
Sem espiritualidade não é possível construir uma relação com Deus, uma fraternidade ou uma vida apostólica, seria uma ilusão. E aqui está justamente o risco da pessoa que se julga de fé: se afadigar por outros valores, justificando sempre que está trabalhando por Deus. Daí que devemos ter sempre um modo de como acrisolar, purificar, medir a nossa verdadeira opção por Deus.
Acredito que temos dois modos de evitar este perigo: a direção espiritual, que não entendo necessariamente como diálogo com um sacerdote, mas como partilha de vida com alguém de espírito, e que para isto não basta a confissão; contudo tem um meio que acredito ainda mais: a Lectio Divina – leitura orante da Palavra de Deus.
A Palavra de Deus, diferentemente dos sacramentos, é acessível a todos. Os sacramentos sem a Palavra se tornam idolatria, pois não encontram um terreno fértil em nós. A leitura da Palavra dá a oportunidade de se escutar, de falar com o Senhor e, o mais difícil, de escutar o Senhor. Em outras palavras: é oração – fundamento de uma verdadeira espiritualidade.
A vocação de Francisco de Assis, para citar um santo entre muitos, começa justamente com o encontro com a Palavra e é esta palavra que vai dando sentido à vida de Francisco: “É isto que eu quero, isso que procuro, é isso que desejo fazer de todo o coração.”
Entre outros sites sobre lectio divina, eu encontrei este do qual gostei mais: http://antoniosilvio.tripod.com/LECTIO/LDPT.HTM
Um abraço e bênçãos para todos.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Uma palavra sobre espiritualidade
Ola, Caríssimos,
Paz e Bem!
Hoje é o dia de Santo Inácio de Loyola, um dos grandes fundadores da vida consagrada e um pai da espiritualidade moderna. Escolhi este dia, o último do mês de julho, para dar um novo enfoque a este blog, que até agora era uma partilha da minha vida e a partir de agora buscará somar algumas reflexões mais pontuais.
A igreja, ao longo dos seus dois mil anos, acumulou diversas formas de espiritualidade que, nascidas na vida consagrada, transbordaram para o mundo dos leigos, e em um lugar e outro produziram frutos fecundos. Se pensarmos na história iremos nos reportar à espiritualidade monástica, à mendicante – entre elas a franciscana, e a espiritualidade inaciana. A colaboração de cada uma pode ser sintetizada assim: a espiritualidade monástica colocou o elemento do “só Deus”, para isto ajudava a fuga do mundo; os mendicantes acrescentaram elementos como fraternidade, pobreza, castidade e obediência, e a espiritualidade inaciana acrescentou os tempos de retiro e métodos.
A espiritualidade Franciscana é mais do que a espiritualidade de Francisco, é a espiritualidade de uma família na qual Francisco está presente como membro, como pai e como irmão. Esta forma de espiritualidade foi sempre avessa ao método, no sentido inaciano. Pessoalmente, como era de se esperar eu sou um apaixonado por esta forma de espiritualidade, sem, no entanto, deixar de reconhecer o valor de outras formas de espiritualidade para outras pessoas. Penso que aqui está o segredo: de absoluto nós temos poucas coisas que devem ser uniformes entre todos, a maioria da coisas pelas quais brigamos para uniformizar, podem e devem ser diferentes – mostram a força criativa do Espírito de Deus.
Acredito que existem elementos, como aqueles antes apresentados, que podem e devem ser assimilados por toda pessoa que quer ser de “espírito”: não há como pensar a espiritualidade sem um saber distanciar-se do mundo para buscar a Deus (o modo como entendemos este distanciar-se, deve variar); não há como pensar uma intimidade com Deus sem uma vida de fraternidade e de conselhos evangélicos (estes não são propriedades dos consagrados – ainda bem!!!) e não há como pensar em um progresso na vida espiritual sem reservar tempos fortes para o Senhor e uma certa metodologia de encontro.
Tenho tido a impressão que o desejo de encontrar uma certa segurança conceitual tem marcado muito a nossa época, daí a busca de projetos, métodos e formas de mensurar o crescimento e estabelecer metas. Por isto a força que na nossa modernidade têm as formas de espiritualidade ligadas aos jesuítas, como por exemplo a Renovação Carismática. Sem menosprezar o seu valor como espiritualidade, mas desejando provocar uma reflexão, manifesto a minha impressão de tantos anos: nós franciscanos não estamos conseguindo apresentar Francisco ao mundo de hoje, pois se o fizéssemos ele atrairia de um modo espetacular, pois o Irmão de Assis é um figura humana e cristã extraordinária, que responde aos anseios do ser humano de hoje.
Cansei de ouvir pessoas fazerem um pérfido comentário: “Francisco, sim; mas as ordens franciscanas, não!” Talvez, mas do que as nossas preocupações de salvar as instituições, devemos pensar em saber apresentar o carisma, a pessoa de Francisco para o mundo de hoje, pois ele não pertence aos “franciscanos” mais vai mais além das ordens e do mundo cristão.
Vivemos um momento de uma significativa diminuição numérica dos membros das ordens franciscanas que parecem realizar o desejo de Francisco expresso em Celano: “Oh! Se fosse possível que o mundo só visse os frades raramente e se admirasse de serem tão poucos!” (70b). É este o momento ideal para percebermos que as ordens religiosas, mais que a Igreja, são transitórias, o que importa é o carisma de Francisco: é mais significativo um carisma sem ordens, do que ordens sem carisma. A salvação numérica os institutos passa pela volta ao carisma do fundador, ao qual nós franciscanos e franciscanos somos chamados sempre de novo.
Um abraço, cheio de ternura e bênçãos.
Paz e Bem!
Hoje é o dia de Santo Inácio de Loyola, um dos grandes fundadores da vida consagrada e um pai da espiritualidade moderna. Escolhi este dia, o último do mês de julho, para dar um novo enfoque a este blog, que até agora era uma partilha da minha vida e a partir de agora buscará somar algumas reflexões mais pontuais.
A igreja, ao longo dos seus dois mil anos, acumulou diversas formas de espiritualidade que, nascidas na vida consagrada, transbordaram para o mundo dos leigos, e em um lugar e outro produziram frutos fecundos. Se pensarmos na história iremos nos reportar à espiritualidade monástica, à mendicante – entre elas a franciscana, e a espiritualidade inaciana. A colaboração de cada uma pode ser sintetizada assim: a espiritualidade monástica colocou o elemento do “só Deus”, para isto ajudava a fuga do mundo; os mendicantes acrescentaram elementos como fraternidade, pobreza, castidade e obediência, e a espiritualidade inaciana acrescentou os tempos de retiro e métodos.
A espiritualidade Franciscana é mais do que a espiritualidade de Francisco, é a espiritualidade de uma família na qual Francisco está presente como membro, como pai e como irmão. Esta forma de espiritualidade foi sempre avessa ao método, no sentido inaciano. Pessoalmente, como era de se esperar eu sou um apaixonado por esta forma de espiritualidade, sem, no entanto, deixar de reconhecer o valor de outras formas de espiritualidade para outras pessoas. Penso que aqui está o segredo: de absoluto nós temos poucas coisas que devem ser uniformes entre todos, a maioria da coisas pelas quais brigamos para uniformizar, podem e devem ser diferentes – mostram a força criativa do Espírito de Deus.
Acredito que existem elementos, como aqueles antes apresentados, que podem e devem ser assimilados por toda pessoa que quer ser de “espírito”: não há como pensar a espiritualidade sem um saber distanciar-se do mundo para buscar a Deus (o modo como entendemos este distanciar-se, deve variar); não há como pensar uma intimidade com Deus sem uma vida de fraternidade e de conselhos evangélicos (estes não são propriedades dos consagrados – ainda bem!!!) e não há como pensar em um progresso na vida espiritual sem reservar tempos fortes para o Senhor e uma certa metodologia de encontro.
Tenho tido a impressão que o desejo de encontrar uma certa segurança conceitual tem marcado muito a nossa época, daí a busca de projetos, métodos e formas de mensurar o crescimento e estabelecer metas. Por isto a força que na nossa modernidade têm as formas de espiritualidade ligadas aos jesuítas, como por exemplo a Renovação Carismática. Sem menosprezar o seu valor como espiritualidade, mas desejando provocar uma reflexão, manifesto a minha impressão de tantos anos: nós franciscanos não estamos conseguindo apresentar Francisco ao mundo de hoje, pois se o fizéssemos ele atrairia de um modo espetacular, pois o Irmão de Assis é um figura humana e cristã extraordinária, que responde aos anseios do ser humano de hoje.
Cansei de ouvir pessoas fazerem um pérfido comentário: “Francisco, sim; mas as ordens franciscanas, não!” Talvez, mas do que as nossas preocupações de salvar as instituições, devemos pensar em saber apresentar o carisma, a pessoa de Francisco para o mundo de hoje, pois ele não pertence aos “franciscanos” mais vai mais além das ordens e do mundo cristão.
Vivemos um momento de uma significativa diminuição numérica dos membros das ordens franciscanas que parecem realizar o desejo de Francisco expresso em Celano: “Oh! Se fosse possível que o mundo só visse os frades raramente e se admirasse de serem tão poucos!” (70b). É este o momento ideal para percebermos que as ordens religiosas, mais que a Igreja, são transitórias, o que importa é o carisma de Francisco: é mais significativo um carisma sem ordens, do que ordens sem carisma. A salvação numérica os institutos passa pela volta ao carisma do fundador, ao qual nós franciscanos e franciscanos somos chamados sempre de novo.
Um abraço, cheio de ternura e bênçãos.
terça-feira, 21 de julho de 2009
Sono guarito!!!
Caríssimos,
Paz e Bem!
Como se diz na Itália: Sono guarito!!! Ontem fui ao hospital de Camposampiero e me foi tirado o gesso (na verdade algodão e gaze) e os pontos. Confesso que tinha grande curiosidade de ver meu braço, depois de um mês. Fiquei surpreendido ao ver como ele diminui com a perda de massa muscular e assustado ao ver que aqui eles não usam mais ponto com linha, mas grampeiam a cirurgia. Eu tinha vinte grampos e já imaginei a dor que seria para tirar tudo isto, mas eu nem senti eles tirarem. Resultado: não senti dor nem antes, nem durante e nem depois da cirurgia.
Agora tenho que reacostumar meu braço a se movimentar bem, depois de ficar tanto tempo parado. Dói um pouco para se mover, mas aos poucos já percebi que ele vai voltando ao normal. Planejo voltar às atividades físicas na semana que vem.
Deixei de postar o título dos livros que estou lendo porque desde quando terminei a teologia eu acalento o desejo de fazer uma leitura continuada da Palavra de Deus e agora tenho o tempo propício. Escolhi fazer não uma leitura cronológica ou na ordem que estão os livros dispostos na Bíblia, mas numa ordem escolhida por mim. Assim já li as Cartas de João, buscando contemplar o amor a Deus e ao próximo; o Evangelho de Marcos, querendo ver o primeiro anúncio do evento Jesus de Nazaré e agora, aproveitando deste meu tempo de distância, resolvi entrar no deserto com o povo de Israel, estou lendo o Êxodo. A minha amiga de infância, que vive como missionária leiga na Argentina, chamada Lúcia, resolveu aderir e iremos fazer este caminho juntos, partilhando esta lectio divina por e-mail.
Queridos, a vida continua. Entre as alegrias deste dia, partilho com vocês a reeleição de minha amiga Madre Maria Longo como superiora geral da queridas Salesianas dos Sagrados Corações.
Um beijo no coração de cada um. Continuo rezando por muitos no meu terço matinal e na missa.
domingo, 12 de julho de 2009
Rumo aos Santuários
Paz e Bem!
Perdão pelo silêncio, mas estava longe por vários dias. Aceitei sair de casa porque é difícil dizer não a quem se ama: viajei alguns dias com os amigos da Comunidade Doce Mãe de Deus pela Itália e França.
Estou agora no trem, de Milão para Pádua, e aproveito para escrever.
No dia 30 de junho, chegaram à minha casa Inaldo, Ir. Marliane, Paulo e Naide, Gabriel e Clara, e Adielson. Chegaram de carro de Milão e me roubaram por alguns dias. Eles voltaram ao Brasil no dia 9 de julho e eu comecei a longa viagem de volta para casa: no total foram 9 horas de trem, mas teve muitas outras nas estações de Vintemiglia, Milão e Pádua. Ahh! Aproveitei para ver Isabela (minha sobrinha) em Milão.
Posso dizer que não conheci quase nada de novo na viagem, mas quero partilhar com vocês algumas impressões:
- Assis: como ir a Assis e não ficar de algum modo transformado!? Já perdi as contas das vezes que ali estive. Desta vez fiz a visita guiada pela primeira vez, o guia foi o universalmente reconhecido como simpático Frei Vogran. Ficamos hospedados no primeiro convento franciscano – Rivotorto.
- Lourdes: é um santuário mariano muito belo, e não falo somente de arquitetura, mas do clima de fé que se respira ali. Foi a oportunidade que tive para agradecer a minha Mãe Imaculada por todos os presentes que me deu nos últimos tempos. Ela sabe o quanto a amo.
- Gassin: esta parte pra mim foi nova. Conheci a comunidade e o trabalho dos seis membros da CDMD que trabalham ali. Se bela é a paisagem do Golfo de Saint Tropez, devo dizer que muito mais belo é o trabalho e o desafio evangelizador vivido por eles.
Agradecido a Deus, voltei para meu refúgio, como lobo (assim o dizia São Francisco), no dia 11 de julho.
domingo, 21 de junho de 2009
Por esta eu não esperava
Meus caros amigos, paz e bem!
No meu primeiro artigo deste blog eu dizia que este seria um tempo de renascimento para mim. Depois participei de um retiro com o Padre Arturo Paoli que insistia na necessidade de voltar a ser criança para poder fazer uma experiência de seguimento de Jesus. Não pensei que teria que viver isso até fisicamente...
Na última terça-feira, depois da minha hora de italiano, fui fazer a minha hora de bicicleta. Escolhi ir pelo bosque, numa estrada que eu já tinha feito uma vez. Durante o caminho encontrei uma descida de uma pequena coluna que eu já tinha feito antes. Confesso que parei por algum instante e pensei que não deveria descer, mas, mais uma vez eu não confiei na minha intuição e desci. Se arrependimento matasse...
Cai. No solo, alguns segundos me pareceram uma eternidade: perguntei-me se algo quebrou e o que quebrou. Pensei que nada. Levantei e vi que a bicicleta estava com a roda torta, sem condições de uso, comecei a caminhada de volta, empurrando–a. Enquanto caminhava vi que minha mão se mexia de um lado para o outro, mas era indolor.
O resultado desta novela imprevista foi que eu fui levado para o hospital público de Camposampero. Ali constataram que o braço se quebrou em dois lugares e fizeram a cirurgia colocando titânio e seis parafusos, que devo retirar em dois anos. Somente voltei para casa no sábado.
De que me valeu esta “linda” experiência? Primeiro: experimentei uma preocupação e atenção fraternas que cada vez mais me confirma a graça desta nova comunidade; segundo: eu sempre ouvi falar muito mal do Sistema de Saúde Italiano, mas o que encontrei aqui foi um hospital exemplar na rapidez do atendimento, na atenção de todos os trabalhadores e na tecnologia de ponta. Terceira: cheguei aqui com 120 kg e agora estou com 115 kg, ou seja, só falta eliminar 32 kg. Na verdade eu suportei estes dias porque o que eu tinha que fazer no convento eu podia fazer no hospital, que era ler e rezar. Já que caminhadas e bicicletas só num futuro breve.
É isto ai meus amigos: estou bem e estarei com o gesso por um mês.
Agora só falta deixar que o Senhor opere em mim as mesmas maravilhas que operou naquele que caiu do cavalo – Saulo de Tarso.
Bênçãos, beijos e abraços!
sábado, 20 de junho de 2009
Trezena
Ola, Paz e Bem!
Nos últimos dias me aconteceram tantas coisas boas que acabei ficando em silencio, sem tempo para compartilhar tudo isto com vocês. Foi a correria da vida por causa da Trezena de Santo Antônio, algumas visitas, o retiro com Pe. Arturo e a festa de Corpus Christi, aqui chamada de Corpus Domini e celebrada no domingo.
Vamos à partilha...
Primeiro devo dizer que recebi mais visitas. A primeira pessoa que me veio ver foi a Ir. Márcia com quem estive junto no conselho nacional da Família Franciscana do Brasil. Levei-a em Pádua para conhecer a cidade. Depois veio nestes dias Frei Carlos Trovarelli, provincial da província de Argentina e Uruguai. Ele estava em Roma e veio até Pádua e eu fui para lá para nos vermos, conversarmos, colocarmos a vida em dias. Por fim, neste dias me visitou a minha sobrinha Isabela (assim nos consideramos, mas ela é sobrinha da minha cunhada), ela mora em Milão.
A trezena de Santo Antônio foi algo que nunca vivenciei antes, simplesmente linda. Já falei para vocês de como a cidade onde estou é pequena, mas durante a trezena passou por nosso Santuário da Visão umas vinte mil pessoas, só no dia da festa deve ter vindo umas cinco mil pessoas; uns vinte corais cantaram na igreja ao longo da trezena; diversos sacerdotes vieram celebrar. Três coisas novas para mim:
- aqui tem uma tradição de consagrar as crianças a Santo Antônio. Elas são inscritas num livro do Santuário e voltam a cada ano para receber a bênção. Devo dizer que finalmente vi criança na Itália e em grande quantidade. Eu fui um dos frades que abençoou as crianças.
- no dia do Santo (assim é chamado Santo Antônio na Itália) a cidade de São Giorgio delle Pertiche ofereceu o azeite com o qual se acende a lâmpada na cela de Santo Antônio até a festa do próximo ano, quando outra cidade oferece, sempre representada por seu prefeito. Isto também se faz em Assis.
- a festa de Santo Antônio terminou com um lindo concerto no Santuário, com coro, piano e percussão. Eles executaram temas de diversos filmes religiosos enquanto cenas dos respectivos filmes eram projetadas e antes se lia um trecho dos sermões do Santo. Estavam presentes pessoas da TV italiana e o diretor do filme Santo Antonio, guerreiro de Deus. Ao final o maestro pediu contribuição, pois este coral estava voltando de uma longa viagem pelo Amazonas, onde foram se apresentar para comunidades ribeirinhas e ali estão construindo um hospital para câncer com trinta leitos. A Itália vive o momento do voluntariado dos leigos, muitos são os projetos deste tipo.
Ficamos por aqui. Nas páginas do Orkut ou do flicker vocês encontram as fotos. Abraços, beijos e bênçãos!
Nos últimos dias me aconteceram tantas coisas boas que acabei ficando em silencio, sem tempo para compartilhar tudo isto com vocês. Foi a correria da vida por causa da Trezena de Santo Antônio, algumas visitas, o retiro com Pe. Arturo e a festa de Corpus Christi, aqui chamada de Corpus Domini e celebrada no domingo.
Vamos à partilha...
Primeiro devo dizer que recebi mais visitas. A primeira pessoa que me veio ver foi a Ir. Márcia com quem estive junto no conselho nacional da Família Franciscana do Brasil. Levei-a em Pádua para conhecer a cidade. Depois veio nestes dias Frei Carlos Trovarelli, provincial da província de Argentina e Uruguai. Ele estava em Roma e veio até Pádua e eu fui para lá para nos vermos, conversarmos, colocarmos a vida em dias. Por fim, neste dias me visitou a minha sobrinha Isabela (assim nos consideramos, mas ela é sobrinha da minha cunhada), ela mora em Milão.
A trezena de Santo Antônio foi algo que nunca vivenciei antes, simplesmente linda. Já falei para vocês de como a cidade onde estou é pequena, mas durante a trezena passou por nosso Santuário da Visão umas vinte mil pessoas, só no dia da festa deve ter vindo umas cinco mil pessoas; uns vinte corais cantaram na igreja ao longo da trezena; diversos sacerdotes vieram celebrar. Três coisas novas para mim:
- aqui tem uma tradição de consagrar as crianças a Santo Antônio. Elas são inscritas num livro do Santuário e voltam a cada ano para receber a bênção. Devo dizer que finalmente vi criança na Itália e em grande quantidade. Eu fui um dos frades que abençoou as crianças.
- no dia do Santo (assim é chamado Santo Antônio na Itália) a cidade de São Giorgio delle Pertiche ofereceu o azeite com o qual se acende a lâmpada na cela de Santo Antônio até a festa do próximo ano, quando outra cidade oferece, sempre representada por seu prefeito. Isto também se faz em Assis.
- a festa de Santo Antônio terminou com um lindo concerto no Santuário, com coro, piano e percussão. Eles executaram temas de diversos filmes religiosos enquanto cenas dos respectivos filmes eram projetadas e antes se lia um trecho dos sermões do Santo. Estavam presentes pessoas da TV italiana e o diretor do filme Santo Antonio, guerreiro de Deus. Ao final o maestro pediu contribuição, pois este coral estava voltando de uma longa viagem pelo Amazonas, onde foram se apresentar para comunidades ribeirinhas e ali estão construindo um hospital para câncer com trinta leitos. A Itália vive o momento do voluntariado dos leigos, muitos são os projetos deste tipo.
Ficamos por aqui. Nas páginas do Orkut ou do flicker vocês encontram as fotos. Abraços, beijos e bênçãos!
domingo, 7 de junho de 2009
A VIDA POR AQUI
A vida vai tomando seu rumo cada vez mais claro aqui Camposampiero, aos poucos vou conhecendo os frades, os leigos (me tratam como uma peça rara, pois quase não existem estrangeiros por aqui!!!), tenho minha vida diária sempre mais ordenada e proveitosa e vou me sentindo sempre mais em casa.
A Itália é o único país do mundo, naturalmente depois do Brasil, onde eu me sinto em casa. Já tinha esta impressão antes. Acho o povo italiano, a parte que é grosseiro, muito semelhante ao brasileiro. Eu estava antes em Roma e agora estou numa região muito diferente: o Norte. Aqui é a parte mais rica, mais organizada, mais “germanizada”, pois foi ocupada pela Áustria. Penso que a diferença entre Roma e aqui é algo como Rio de Janeiro e Brasília, Nova Iorque e Washington.
A cidade é pequena, falo de Camposampiero, e por isto tem um povo acolhedor. A comida é perigosa, pois ainda que eu sinta falta do tempero do Brasil, eu me acostumo facilmente à comida estrangeira e aqui se come bem. Sempre pensei que o italiano é tão comilão quando o brasileiro, e ambos têm uma boa culinária. Contudo, a falta de um tempero que me seduza, fez com que eu tenha mais disponibilidade de emagrecer.
Neste domingo tivemos mais um dia da trezena. Impressiona-me a suntuosidade da liturgia. Cada dia tem celebrante diferente, que vem com co-celebrantes de um determinado vicariato da diocese de Treviso; um coral, e, sobretudo, o Santuário da Visão cheio.
Hoje, segunda-feira, eu começarei um retiro com Pe. Arturo Paoli. Aqui, onde vivo, é uma casa de retiro e estou aproveitando estas boas oportunidades para estar nos retiros e outros encontros. O pregador, que já viveu no Brasil tem um currículo de vida muito interessante, vale a pensa ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arturo_Paoli
É isto. Um abraço e preces contínuas.
A Itália é o único país do mundo, naturalmente depois do Brasil, onde eu me sinto em casa. Já tinha esta impressão antes. Acho o povo italiano, a parte que é grosseiro, muito semelhante ao brasileiro. Eu estava antes em Roma e agora estou numa região muito diferente: o Norte. Aqui é a parte mais rica, mais organizada, mais “germanizada”, pois foi ocupada pela Áustria. Penso que a diferença entre Roma e aqui é algo como Rio de Janeiro e Brasília, Nova Iorque e Washington.
A cidade é pequena, falo de Camposampiero, e por isto tem um povo acolhedor. A comida é perigosa, pois ainda que eu sinta falta do tempero do Brasil, eu me acostumo facilmente à comida estrangeira e aqui se come bem. Sempre pensei que o italiano é tão comilão quando o brasileiro, e ambos têm uma boa culinária. Contudo, a falta de um tempero que me seduza, fez com que eu tenha mais disponibilidade de emagrecer.
Neste domingo tivemos mais um dia da trezena. Impressiona-me a suntuosidade da liturgia. Cada dia tem celebrante diferente, que vem com co-celebrantes de um determinado vicariato da diocese de Treviso; um coral, e, sobretudo, o Santuário da Visão cheio.
Hoje, segunda-feira, eu começarei um retiro com Pe. Arturo Paoli. Aqui, onde vivo, é uma casa de retiro e estou aproveitando estas boas oportunidades para estar nos retiros e outros encontros. O pregador, que já viveu no Brasil tem um currículo de vida muito interessante, vale a pensa ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arturo_Paoli
É isto. Um abraço e preces contínuas.
terça-feira, 2 de junho de 2009
Trezena de Santo Antônio
Ontem começou a Trezena de Santo Antônio. A igreja, Santuário da Visão, ficou cheia com a presença de párocos de uma parte da diocese de Treviso e muitos peregrinos.
A realidade eclesial da Itália é muito diversa daquela que temos no Brasil. Para que tenham uma idéia aqui no município de Camposampiero moram dez mil pessoas e aqui tem duas paróquias, uma da diocese de Pádua e outra da diocese de Treviso. Cada uma tem três padres e além deles tem o nosso convento, onde somos em 25 frades. Imaginem agora este exercício para uma população tão pequena.
Faz-me pensar nas nossas paróquias do Brasil com um padre para cinqüenta mil pessoas ou mais.
Ontem aprendi uma coisa interessante. O pároco explicou para todos que para Santo Antônio, aqui chamado somente de O Santo, se faz trezena e não novena ou tríduo, como no caso de outros santos, porque a tradição popular diz que Santo Antônio é tão profícuo em milagres que concede até treze graças em um só dia.
Hoje comecei a fazer minha caminhada matutina, vou entre os dois santuários e a tarde faço uma hora de bicicleta. Hoje também estarei retomando uma coisa que abandonei a mais de 14 anos: quando fui ordenado diácono eu parei de tocar piano e órgão. Desde quando cheguei aqui eu topo com vários pianos, já contei uns 10 no convento (pianos, harmônios e órgãos). A cada encontro eles parecem me dizer: “Venha!!!” Ontem fui na biblioteca e encontrei alguns manuais, achei um piano que fica numa sala e assim não perturba ninguém e assim, a partir de hoje, estarei reservando uma hora, depois do almoço, para retomar a vida com um viés mais artístico.
Beijos!!!
A realidade eclesial da Itália é muito diversa daquela que temos no Brasil. Para que tenham uma idéia aqui no município de Camposampiero moram dez mil pessoas e aqui tem duas paróquias, uma da diocese de Pádua e outra da diocese de Treviso. Cada uma tem três padres e além deles tem o nosso convento, onde somos em 25 frades. Imaginem agora este exercício para uma população tão pequena.
Faz-me pensar nas nossas paróquias do Brasil com um padre para cinqüenta mil pessoas ou mais.
Ontem aprendi uma coisa interessante. O pároco explicou para todos que para Santo Antônio, aqui chamado somente de O Santo, se faz trezena e não novena ou tríduo, como no caso de outros santos, porque a tradição popular diz que Santo Antônio é tão profícuo em milagres que concede até treze graças em um só dia.
Hoje comecei a fazer minha caminhada matutina, vou entre os dois santuários e a tarde faço uma hora de bicicleta. Hoje também estarei retomando uma coisa que abandonei a mais de 14 anos: quando fui ordenado diácono eu parei de tocar piano e órgão. Desde quando cheguei aqui eu topo com vários pianos, já contei uns 10 no convento (pianos, harmônios e órgãos). A cada encontro eles parecem me dizer: “Venha!!!” Ontem fui na biblioteca e encontrei alguns manuais, achei um piano que fica numa sala e assim não perturba ninguém e assim, a partir de hoje, estarei reservando uma hora, depois do almoço, para retomar a vida com um viés mais artístico.
Beijos!!!
segunda-feira, 1 de junho de 2009
O Caminho do Santo
Na véspera de Pentecostes aconteceu aqui a peregrinação dos jovens de Camposampiero a Pádua, chamada Il Cammino di Sant’Antonio. Participaram cerca de 1000 jovens, e entre eles alguns adultos, naturalmente. Para mais informações acesse http://www.ilcamminodisantantonio.it
Para mim foi uma experiência novíssima e interessante, cada vez mais comum na Europa. O caminho mais famoso, sem dúvida, é aquele de Compostela, com mais de 800 km. A partir deste nasceram muitos outros caminhos, e existem hoje as pessoas que buscam fazer todos estes caminhos. Que caminham pela Europa em busca destas peregrinações a pé e levam consigo uma caderneta para receber um carimbo.
O Caminho de Santo Antônio tem 25km. Faz o trajeto que o Santo fez, desde a sua casa (Camposampiero) até o lugar onde deveria morrer (Pádua), mas ele morreu antes da cidade, em Arcella. A procissão de jovens tem quatro paradas para oração, lanche e toalete. O menor trecho da procissão é feito em silêncio, e isto me deixou muito impressionado.
O grupo era composto fundamentalmente de italianos, mas chegou também um grupo de Croácia e outro da Sérvia, ambos trazidos por um frade. Havia também um brasileiro (adivinha!!!).
No convento onde vivo tem uma enfermeira que cuida da saúde dos frades, porque aqui tem alguns idosos. Eu fui para fazer uma consulta, porque os frades desde que cheguei decidiram me emagrecer (não consigo entender porque eles pensam isto!!!). O resultado da primeira consulta, na qual eu fui preparado para diminuir comida, deixar o vinho das refeições e ela, depois de ver minha taxas, me recomendou de continuar sem fazer uma dieta, tomar sempre meio copo de vinho nas refeições e NÃO fazer a peregrinação, pois eu estava, por primeira vez na minha vida com hipoglicemia. Estou cuidando disto agora para ver a dieta no futuro. Os frades da comunidade dizem que eu comprei a enfermeira e os de fora me pedem o nome e telefone da mesma. Nunca saí tão feliz de um encontro com um profissional de saúde.
Eu fui no furgão durante a peregrinação. Com dois frades, eu tinha a missão de chegar nas paradas antes dos peregrinos e preparar o ambiente para o momento de reflexão e oração.
A peregrinação começou com um belíssimo show do famoso grupo focolarino: Gen Rosso, um show de canto e dança. Pelas 23h30min saiu para Pádua, fazendo todo o caminho ao lado de um rio, um trecho deste caminho é chamado: Cammino di Sant’Antonio. Chegamos a Pádua pelas 8h30min e houve a missa a 10h, com a qual se concluiu a peregrinação.
Em uma sociedade com poucos jovens e com uma juventude distante da Igreja, estas iniciativas de evangelização têm grande importância, pois logram ser um catalisador da juventude. Foi uma experiência bela para mim, oxalá ela um dia seja praticada no nosso Brasil.
Para mim foi uma experiência novíssima e interessante, cada vez mais comum na Europa. O caminho mais famoso, sem dúvida, é aquele de Compostela, com mais de 800 km. A partir deste nasceram muitos outros caminhos, e existem hoje as pessoas que buscam fazer todos estes caminhos. Que caminham pela Europa em busca destas peregrinações a pé e levam consigo uma caderneta para receber um carimbo.
O Caminho de Santo Antônio tem 25km. Faz o trajeto que o Santo fez, desde a sua casa (Camposampiero) até o lugar onde deveria morrer (Pádua), mas ele morreu antes da cidade, em Arcella. A procissão de jovens tem quatro paradas para oração, lanche e toalete. O menor trecho da procissão é feito em silêncio, e isto me deixou muito impressionado.
O grupo era composto fundamentalmente de italianos, mas chegou também um grupo de Croácia e outro da Sérvia, ambos trazidos por um frade. Havia também um brasileiro (adivinha!!!).
No convento onde vivo tem uma enfermeira que cuida da saúde dos frades, porque aqui tem alguns idosos. Eu fui para fazer uma consulta, porque os frades desde que cheguei decidiram me emagrecer (não consigo entender porque eles pensam isto!!!). O resultado da primeira consulta, na qual eu fui preparado para diminuir comida, deixar o vinho das refeições e ela, depois de ver minha taxas, me recomendou de continuar sem fazer uma dieta, tomar sempre meio copo de vinho nas refeições e NÃO fazer a peregrinação, pois eu estava, por primeira vez na minha vida com hipoglicemia. Estou cuidando disto agora para ver a dieta no futuro. Os frades da comunidade dizem que eu comprei a enfermeira e os de fora me pedem o nome e telefone da mesma. Nunca saí tão feliz de um encontro com um profissional de saúde.
Eu fui no furgão durante a peregrinação. Com dois frades, eu tinha a missão de chegar nas paradas antes dos peregrinos e preparar o ambiente para o momento de reflexão e oração.
A peregrinação começou com um belíssimo show do famoso grupo focolarino: Gen Rosso, um show de canto e dança. Pelas 23h30min saiu para Pádua, fazendo todo o caminho ao lado de um rio, um trecho deste caminho é chamado: Cammino di Sant’Antonio. Chegamos a Pádua pelas 8h30min e houve a missa a 10h, com a qual se concluiu a peregrinação.
Em uma sociedade com poucos jovens e com uma juventude distante da Igreja, estas iniciativas de evangelização têm grande importância, pois logram ser um catalisador da juventude. Foi uma experiência bela para mim, oxalá ela um dia seja praticada no nosso Brasil.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
AOS AMIGOS…
Estou já na minha nova casa, em Camposampiero. A distância vai dando a possibilidade de acalmar os ânimos e eu vou voltando ao normal, ajudado pela tranqüilidade deste lugar, de algum modo bucólico; a vida de compromissos comunitários (oração, refeição, encontro com os frades e alguns poucos leigos); o tempo para oração pessoal, direção e confissão; e um bom tempo para leitura (algo que sempre gostei e que não tinha tempo nos últimos anos).
Desde quando tomei a decisão sair da Ordem, eu vivi uma série de demonstrações de amizade. A avaliação sincera que faço hoje, depois da tempestade, é que: por mais que ficou claro a falta de amor de alguns, ficou claro também como eu tenho amigos sinceros. É fácil ficarmos falando mal uns dos outros, ficarmos com leva-e-traz que não expressam uma total verdade sobre as outras pessoas envolvidas, mas talvez nos esquecemos facilmente de agradecer. Por isto eu resolvi colocar por escrito a minha gratidão a algumas pessoas que sei que estiveram comigo todo o tempo, outras que sofreram sem meu conhecimento – rezaram, outras que se aproximaram no final do percurso. Não é possível escrever o nome de todos agora, mas uma atitude eu tomei em relação a meu futuro: serei grato e não me constrangerei em manifestar esta minha gratidão para com estas pessoas, pois elas também não se constrangeram, em momento algum em estar comigo – e tenho consciência que eu não fui um amigo fácil durante este tempo.
Em outros tempos, até para manter uma postura pública de não ferir suscetibilidades, eu me acostumei a agradecer sem mencionar nomes. Só que, na verdade, estes agradecimentos não existem, pois quando se agradece se fala de pessoas concretas. Ainda reconhecendo que muitas pessoas me ajudaram de muitas maneiras, tenho no meu coração algumas pessoas que, conforme eu tenho dito, saem desta história, juntamente comigo, como amigos que levarei até a vida eterna, pois de um modo ou de outro foram presença de Deus na minha vida. Como a palavra de Deus diz: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro!” (Eclo 6, 14), devo dizer que cheguei aos 39 anos deixando de lado a ilusão de homem público (que pensa que tem muitos amigos!!!) e ao mesmo tempo com a consciência que descobri que tenho alguns “tesouros valiosos” na minha vida e estes nada, nem ninguém vão me os tirar.
Permitam-me citar alguns nomes e dizer o porquê os cito:
Começo a minha lista pelos amigos que já os reconhecia de muito tempo: Valcir – que foi um grande sofredor com toda a minha história e foi sempre o advogado próximo. Tive a sorte de ter um irmão que se tornou amigo; Luciana – amiga de longa data e que sofreu enormemente juntamente comigo, ficando ao meu lado em cada decisão.
Frei Lindor Tofful: costumo brincar que ele é argentino, mas é bom. Mas devo dizer que muitos frades argentinos foram meu porto seguro, como esquecer a presença amiga e orante de Zoilo, Carlos Trovarelli, Jorge Fernandez e outros. Contudo a relação com Lindor foi muito mais profunda, sincera, confidencial. No meu sofrimento em Roma, foi com este frade que eu abri meu coração. Ele sofreu comigo, me corrigiu, me apoiou. Foi ao Brasil duas vezes para me visitar e fez de tudo para evitar minha saída.
Conheci Frei Lindor quando eu era postulante e ele secretário da FALC (Federação dos Conventuais da América Latina), depois nos encontramos algumas vezes – sobretudo quando eu era Ministro Provincial e ele trabalhava com os formadores da FALC, quando eu era Conselheiro Geral ele foi eleito Secretário Geral para Formação. É um homem muito capaz e dou graças a Deus porque ele estava em Roma durante o momento que a minha história me levou a renúncia. Eu sempre dei passos errados sem falar com ele antes, por isto renunciei e por isto pedi para sair.
Neste processo ele se demonstrou como um irmão sem qualquer medida ou restrição. Foi para mim não o irmão mais velho da parábola, mas o pai misericordioso. Quando lhe disse que não iria sair, ele que foi sempre muito respeitoso com minha decisão, praticamente me trouxe roupa nova, anel e sandálias para os pés.
Posso dizer que se é raro ter um amigo, e quando este amigo é frade e argentino, se torna ainda mais raro. Uma brincadeira!!!
Márcia e Carlos Reis: este casal apareceu na minha vida de um modo curioso – eles conheciam Frei Jorge que era conselheiro da equipe 55, mesma equipe do casal. Eu fui apresentado para eles quando estava de férias com Frei Jorge em Alagoas, era o ano 2000. Estávamos todos com roupa de banho e até hoje a Márcia zomba do modo como me conheceu. Nunca pensei que anos depois seríamos tão próximos, a começar que eu fui o sacerdote da equipe 55 por algum tempo.
Quando eu renunciei a minha função de Conselheiro Geral da Ordem, este casal foi procurado pelo querido Frei Faustino que pedia-lhes para cuidar de mim. E eles cumpriram fielmente.
Nas suas diferentes reações, eles manifestaram amor e atenção para comigo. O refrão que sempre escutei foi: independentemente da sua opção, nós somos seus amigos. E a amizade se manifestou e se manteve quando eu era conselheiro, quando resolvi sair e quando desisti de sair. Busquei fazer deles os primeiros a saberem das grandes notícias de minha vida e eles me inseriram na casa deles não como hóspede, mas como um membro da família, onde eu pude gozar da tranqüilidade que se tem em um lar.
Eles sabem o quanto me foi difícil dizer a eles e aos meus amados irmãos (João Carlos, Larissa, Guiga e Mariana) um adeus, um até logo. Foi uma das poucas vezes que tive que conter choro (não porque não continha, mas porque não chorava). Na ocasião eu fui “salvo” por um telefonema!!!
Além de terem me oferecido um lar, eles se sacrificaram economicamente para me darem um trabalho, que foi a THP Solutions, onde eles investiram para que eu tivesse uma empresa minha e do seu filho, e, no momento que resolvi ficar na Ordem, Márcia assumiu-a para levar o projeto adiante.
Inaldo da Silva e Paulo: Quando decidi sair, eu comecei a fugir de todo mundo. Era difícil lidar com a sensação de fracasso e com uma história sem explicação clara nem mesmo para mim. Para todos que me ligavam eu sempre fugia e se enviavam e-mail eu não respondia. Inaldo e Paulo, eu os conheci há alguns anos, ao Inaldo eu conheci primeiro, era o ano 1988. Desde quando voltei ao Brasil, Inaldo me bombardeava de sms e chamadas ao celular, eu trocava de número e ele encontrava o novo. Um dia eu pedi para uma amiga atender e dizer para ele que o celular estava com ela, eu estava fora de Brasília, não queria contato com ninguém e ninguém sabia precisar o meu paradeiro. Ao final ele falou: “Nós estamos partindo para Brasília para encontrar Frei João, não importa o que ele vai fazer da sua vida, somos seus amigos. Ficaremos em Brasília o tempo necessário para encontrá-lo e se a senhora é amiga dele, vai ajudar-nos nesta tarefa!!!”. Ao final eu falei: com estes não funcionou o meu argumento, tenho um problema.
Para resolver o problema eu liguei pela primeira vez para Frei Janusz, eu não o buscava desde quando cheguei no Brasil. Frei Janusz, com o seu jeito pacífico, me aconselhou a recebê-los, pois somos amigos, e a falar com Dom Frei João Wilk. Na verdade eu fiquei até aborrecido com Frei Janusz, mas depois pensei: “Afinal, se eu liguei, não era para escutar o que eu penso. Não me custa nada escutar o que ele disse!” No mesmo dia liguei para Inaldo e falei, vocês venceram, vou estar aqui com vocês, no hotel, durante toda a sua estadia em Brasília. Terminei a ligação para Inaldo, liguei para Frei João Wilk, fui visitá-lo, escutei e ele me pediu para procurar Dom Frei Fernando. Voltei a Brasília, estive com Inaldo e Paulo, eles foram os grandes responsáveis para meu coração ir se tornando novamente carne. Quando eles se foram, eu parti para Piracicaba e no encontro com Frei Fernando eu chegava à seguinte conclusão: “Frei Fernando, eu nunca questionei a minha vocação, estou saindo por mágoa. Estou sofrendo e sei, agora, que muita gente está sofrendo comigo. Irei colocar um fim neste sofrimento, telefonar para o Ministro Geral e voltar para a Ordem, para onde ele quiser!” E assim o fiz...
Inaldo e Paulo, e neles a Comunidade Doce Mãe de Deus, tiveram a ousadia de não respeitar tanto a posição de um homem em crise. Foram os amigos fiéis que se tornaram “poderosa proteção” para mim contra mim mesmo. Acredito que hoje nós somos tão respeitosos da individualidade que não percebemos que em algum momento, por ser amigo, é preciso interferir na vida do outro para dizer: “amigo, não se destrua!” Eles não me pediram para ficar na Ordem nem no sacerdócio, mas me fizeram refletir sobre o erro que estava cometendo.
Eis uma amizade curiosa: tinha tudo para não dar certo. Eles são de um grupo com o qual nunca tive maior aproximação (RCC), estavam geograficamente distantes, eram mais próximos de outros frades da Ordem e não tivemos encontros em quantidade, mas valeu a qualidade destes encontros. Frei Janusz naquele dia por telefone dizia: “João, conversa com eles, são seus amigos, e quem sabe a graça de Deus virá de onde não se espera!” E veio mesmo, foram os leigos que me fizeram começar o caminho da “volta do filho pródigo”.
Tudo isto me faz chegar a algumas conclusões:
1. Estou, diante de Deus, ligado a estas pessoas, por um vínculo mais forte que a morte: o amor. Por elas eu rezo cada dia, a elas eu quero bem, e delas não admito que se fale mal, porque se houver algo errado nelas, eu mesmo vou dizer.
2. Devemos saber o momento justo, o motivo e o modo de “desrespeitar” a individualidade, pois em nome dela nós podemos ver muitas pessoas deixarem até um caminho vocacional (sacerdócio, matrimônio, etc) sem uma razão suficientemente grande.
3. O consagrado (sacerdote, religioso) não deve ter medo dos leigos. Percebi que a nossa vocação é até mais valorizada pelos leigos que por nós mesmos. Acredito que a fidelidade à nossa vocação e aos compromissos que assumimos, na atualidade da Igreja e do mundo, passa pela proximidade com leigos que nos ajudem a viver a nossa opção e a desmistificar a vocação laical, reconhecendo o seus valor e as duas dificuldades. É bom para o padre estar em um grupo laical (OFS, ENS, ECC, RCC, Focolarinos, etc) e cair do pedestal para ser um irmão, que ajuda e se deixa ajudar.
4. Reconheço hoje o dom das novas comunidades na Igreja, afinal fui salvo por uma delas. Valorizo as ordens antigas, mas ao mesmo tempo vejo que as novas comunidades, muitas delas laicais, são o sopro do Espírito na Igreja de hoje, e como tal devem ser acolhidas e ajudadas no seu processo de maturação.
Este texto nasce do coração e da “pena” de alguém que é “sobrevivente de uma grande tribulação e que quer lavar e alvejar suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap. 7, 14) e que reconhece que foi a graça da vocação sacerdotal e religiosas que lhe proporcionou o dom destes amigos. Hoje sou mais agradecido pelos amigos que tenho do que choroso pelos que pensei que tinha.
A todos os meus amigos, os mencionados e os ocultos, os lembrados e os esquecidos, os de ontem e os de hoje, os católicos e os de outros redis, os que me procuraram e os que se esconderam de modo respeitoso, a todos a minha gratidão, e estejam certos que hoje eu rezo cada dia por vocês.
E se tem outros motivos de ação de graças, um deles para mim é eu ter chegado à liberdade e maturidade de poder escrever hoje estas linhas. Espero que o que passei me ensine a ser mais livre, mais humano, ou seja, mais cristão, mais sacerdote, mais franciscano.
Um beijo no coração de cada um.
Frei João Benedito Ferreira de Araújo
Estou já na minha nova casa, em Camposampiero. A distância vai dando a possibilidade de acalmar os ânimos e eu vou voltando ao normal, ajudado pela tranqüilidade deste lugar, de algum modo bucólico; a vida de compromissos comunitários (oração, refeição, encontro com os frades e alguns poucos leigos); o tempo para oração pessoal, direção e confissão; e um bom tempo para leitura (algo que sempre gostei e que não tinha tempo nos últimos anos).
Desde quando tomei a decisão sair da Ordem, eu vivi uma série de demonstrações de amizade. A avaliação sincera que faço hoje, depois da tempestade, é que: por mais que ficou claro a falta de amor de alguns, ficou claro também como eu tenho amigos sinceros. É fácil ficarmos falando mal uns dos outros, ficarmos com leva-e-traz que não expressam uma total verdade sobre as outras pessoas envolvidas, mas talvez nos esquecemos facilmente de agradecer. Por isto eu resolvi colocar por escrito a minha gratidão a algumas pessoas que sei que estiveram comigo todo o tempo, outras que sofreram sem meu conhecimento – rezaram, outras que se aproximaram no final do percurso. Não é possível escrever o nome de todos agora, mas uma atitude eu tomei em relação a meu futuro: serei grato e não me constrangerei em manifestar esta minha gratidão para com estas pessoas, pois elas também não se constrangeram, em momento algum em estar comigo – e tenho consciência que eu não fui um amigo fácil durante este tempo.
Em outros tempos, até para manter uma postura pública de não ferir suscetibilidades, eu me acostumei a agradecer sem mencionar nomes. Só que, na verdade, estes agradecimentos não existem, pois quando se agradece se fala de pessoas concretas. Ainda reconhecendo que muitas pessoas me ajudaram de muitas maneiras, tenho no meu coração algumas pessoas que, conforme eu tenho dito, saem desta história, juntamente comigo, como amigos que levarei até a vida eterna, pois de um modo ou de outro foram presença de Deus na minha vida. Como a palavra de Deus diz: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro!” (Eclo 6, 14), devo dizer que cheguei aos 39 anos deixando de lado a ilusão de homem público (que pensa que tem muitos amigos!!!) e ao mesmo tempo com a consciência que descobri que tenho alguns “tesouros valiosos” na minha vida e estes nada, nem ninguém vão me os tirar.
Permitam-me citar alguns nomes e dizer o porquê os cito:
Começo a minha lista pelos amigos que já os reconhecia de muito tempo: Valcir – que foi um grande sofredor com toda a minha história e foi sempre o advogado próximo. Tive a sorte de ter um irmão que se tornou amigo; Luciana – amiga de longa data e que sofreu enormemente juntamente comigo, ficando ao meu lado em cada decisão.
Frei Lindor Tofful: costumo brincar que ele é argentino, mas é bom. Mas devo dizer que muitos frades argentinos foram meu porto seguro, como esquecer a presença amiga e orante de Zoilo, Carlos Trovarelli, Jorge Fernandez e outros. Contudo a relação com Lindor foi muito mais profunda, sincera, confidencial. No meu sofrimento em Roma, foi com este frade que eu abri meu coração. Ele sofreu comigo, me corrigiu, me apoiou. Foi ao Brasil duas vezes para me visitar e fez de tudo para evitar minha saída.
Conheci Frei Lindor quando eu era postulante e ele secretário da FALC (Federação dos Conventuais da América Latina), depois nos encontramos algumas vezes – sobretudo quando eu era Ministro Provincial e ele trabalhava com os formadores da FALC, quando eu era Conselheiro Geral ele foi eleito Secretário Geral para Formação. É um homem muito capaz e dou graças a Deus porque ele estava em Roma durante o momento que a minha história me levou a renúncia. Eu sempre dei passos errados sem falar com ele antes, por isto renunciei e por isto pedi para sair.
Neste processo ele se demonstrou como um irmão sem qualquer medida ou restrição. Foi para mim não o irmão mais velho da parábola, mas o pai misericordioso. Quando lhe disse que não iria sair, ele que foi sempre muito respeitoso com minha decisão, praticamente me trouxe roupa nova, anel e sandálias para os pés.
Posso dizer que se é raro ter um amigo, e quando este amigo é frade e argentino, se torna ainda mais raro. Uma brincadeira!!!
Márcia e Carlos Reis: este casal apareceu na minha vida de um modo curioso – eles conheciam Frei Jorge que era conselheiro da equipe 55, mesma equipe do casal. Eu fui apresentado para eles quando estava de férias com Frei Jorge em Alagoas, era o ano 2000. Estávamos todos com roupa de banho e até hoje a Márcia zomba do modo como me conheceu. Nunca pensei que anos depois seríamos tão próximos, a começar que eu fui o sacerdote da equipe 55 por algum tempo.
Quando eu renunciei a minha função de Conselheiro Geral da Ordem, este casal foi procurado pelo querido Frei Faustino que pedia-lhes para cuidar de mim. E eles cumpriram fielmente.
Nas suas diferentes reações, eles manifestaram amor e atenção para comigo. O refrão que sempre escutei foi: independentemente da sua opção, nós somos seus amigos. E a amizade se manifestou e se manteve quando eu era conselheiro, quando resolvi sair e quando desisti de sair. Busquei fazer deles os primeiros a saberem das grandes notícias de minha vida e eles me inseriram na casa deles não como hóspede, mas como um membro da família, onde eu pude gozar da tranqüilidade que se tem em um lar.
Eles sabem o quanto me foi difícil dizer a eles e aos meus amados irmãos (João Carlos, Larissa, Guiga e Mariana) um adeus, um até logo. Foi uma das poucas vezes que tive que conter choro (não porque não continha, mas porque não chorava). Na ocasião eu fui “salvo” por um telefonema!!!
Além de terem me oferecido um lar, eles se sacrificaram economicamente para me darem um trabalho, que foi a THP Solutions, onde eles investiram para que eu tivesse uma empresa minha e do seu filho, e, no momento que resolvi ficar na Ordem, Márcia assumiu-a para levar o projeto adiante.
Inaldo da Silva e Paulo: Quando decidi sair, eu comecei a fugir de todo mundo. Era difícil lidar com a sensação de fracasso e com uma história sem explicação clara nem mesmo para mim. Para todos que me ligavam eu sempre fugia e se enviavam e-mail eu não respondia. Inaldo e Paulo, eu os conheci há alguns anos, ao Inaldo eu conheci primeiro, era o ano 1988. Desde quando voltei ao Brasil, Inaldo me bombardeava de sms e chamadas ao celular, eu trocava de número e ele encontrava o novo. Um dia eu pedi para uma amiga atender e dizer para ele que o celular estava com ela, eu estava fora de Brasília, não queria contato com ninguém e ninguém sabia precisar o meu paradeiro. Ao final ele falou: “Nós estamos partindo para Brasília para encontrar Frei João, não importa o que ele vai fazer da sua vida, somos seus amigos. Ficaremos em Brasília o tempo necessário para encontrá-lo e se a senhora é amiga dele, vai ajudar-nos nesta tarefa!!!”. Ao final eu falei: com estes não funcionou o meu argumento, tenho um problema.
Para resolver o problema eu liguei pela primeira vez para Frei Janusz, eu não o buscava desde quando cheguei no Brasil. Frei Janusz, com o seu jeito pacífico, me aconselhou a recebê-los, pois somos amigos, e a falar com Dom Frei João Wilk. Na verdade eu fiquei até aborrecido com Frei Janusz, mas depois pensei: “Afinal, se eu liguei, não era para escutar o que eu penso. Não me custa nada escutar o que ele disse!” No mesmo dia liguei para Inaldo e falei, vocês venceram, vou estar aqui com vocês, no hotel, durante toda a sua estadia em Brasília. Terminei a ligação para Inaldo, liguei para Frei João Wilk, fui visitá-lo, escutei e ele me pediu para procurar Dom Frei Fernando. Voltei a Brasília, estive com Inaldo e Paulo, eles foram os grandes responsáveis para meu coração ir se tornando novamente carne. Quando eles se foram, eu parti para Piracicaba e no encontro com Frei Fernando eu chegava à seguinte conclusão: “Frei Fernando, eu nunca questionei a minha vocação, estou saindo por mágoa. Estou sofrendo e sei, agora, que muita gente está sofrendo comigo. Irei colocar um fim neste sofrimento, telefonar para o Ministro Geral e voltar para a Ordem, para onde ele quiser!” E assim o fiz...
Inaldo e Paulo, e neles a Comunidade Doce Mãe de Deus, tiveram a ousadia de não respeitar tanto a posição de um homem em crise. Foram os amigos fiéis que se tornaram “poderosa proteção” para mim contra mim mesmo. Acredito que hoje nós somos tão respeitosos da individualidade que não percebemos que em algum momento, por ser amigo, é preciso interferir na vida do outro para dizer: “amigo, não se destrua!” Eles não me pediram para ficar na Ordem nem no sacerdócio, mas me fizeram refletir sobre o erro que estava cometendo.
Eis uma amizade curiosa: tinha tudo para não dar certo. Eles são de um grupo com o qual nunca tive maior aproximação (RCC), estavam geograficamente distantes, eram mais próximos de outros frades da Ordem e não tivemos encontros em quantidade, mas valeu a qualidade destes encontros. Frei Janusz naquele dia por telefone dizia: “João, conversa com eles, são seus amigos, e quem sabe a graça de Deus virá de onde não se espera!” E veio mesmo, foram os leigos que me fizeram começar o caminho da “volta do filho pródigo”.
Tudo isto me faz chegar a algumas conclusões:
1. Estou, diante de Deus, ligado a estas pessoas, por um vínculo mais forte que a morte: o amor. Por elas eu rezo cada dia, a elas eu quero bem, e delas não admito que se fale mal, porque se houver algo errado nelas, eu mesmo vou dizer.
2. Devemos saber o momento justo, o motivo e o modo de “desrespeitar” a individualidade, pois em nome dela nós podemos ver muitas pessoas deixarem até um caminho vocacional (sacerdócio, matrimônio, etc) sem uma razão suficientemente grande.
3. O consagrado (sacerdote, religioso) não deve ter medo dos leigos. Percebi que a nossa vocação é até mais valorizada pelos leigos que por nós mesmos. Acredito que a fidelidade à nossa vocação e aos compromissos que assumimos, na atualidade da Igreja e do mundo, passa pela proximidade com leigos que nos ajudem a viver a nossa opção e a desmistificar a vocação laical, reconhecendo o seus valor e as duas dificuldades. É bom para o padre estar em um grupo laical (OFS, ENS, ECC, RCC, Focolarinos, etc) e cair do pedestal para ser um irmão, que ajuda e se deixa ajudar.
4. Reconheço hoje o dom das novas comunidades na Igreja, afinal fui salvo por uma delas. Valorizo as ordens antigas, mas ao mesmo tempo vejo que as novas comunidades, muitas delas laicais, são o sopro do Espírito na Igreja de hoje, e como tal devem ser acolhidas e ajudadas no seu processo de maturação.
Este texto nasce do coração e da “pena” de alguém que é “sobrevivente de uma grande tribulação e que quer lavar e alvejar suas vestes no sangue do Cordeiro” (Ap. 7, 14) e que reconhece que foi a graça da vocação sacerdotal e religiosas que lhe proporcionou o dom destes amigos. Hoje sou mais agradecido pelos amigos que tenho do que choroso pelos que pensei que tinha.
A todos os meus amigos, os mencionados e os ocultos, os lembrados e os esquecidos, os de ontem e os de hoje, os católicos e os de outros redis, os que me procuraram e os que se esconderam de modo respeitoso, a todos a minha gratidão, e estejam certos que hoje eu rezo cada dia por vocês.
E se tem outros motivos de ação de graças, um deles para mim é eu ter chegado à liberdade e maturidade de poder escrever hoje estas linhas. Espero que o que passei me ensine a ser mais livre, mais humano, ou seja, mais cristão, mais sacerdote, mais franciscano.
Um beijo no coração de cada um.
Frei João Benedito Ferreira de Araújo
terça-feira, 19 de maio de 2009
Cheguei para minha nova vida
No dia 13 de maio de 2009 eu parti de Brasilia para Roma, via Lisboa. Nao planejei sair de Brasilia no dia de Nossa Senhora de Fatima, mas a providencia assim o quis. Na verdade eu ate planejei sair em outro dia, visto que o Ministro Geral me tinha dito para chegar a Roma no dia 15, mas nao havia voo de Brasilia saindo no dia 14.
A viagem foi das mais tranquilas de minha vida, talvez porque refletiu a tranquilidade na qual me encontro.
No dia 16 o Ministro Geral veio me trazer a Camposampiero, a minha nova base. De Roma a Camposampiero sao mais ou menos 500km. A viagem se desenvolve com rapidez pelas auto estradas da Italia. Foi um tempo agradavel
A viagem foi das mais tranquilas de minha vida, talvez porque refletiu a tranquilidade na qual me encontro.
No dia 16 o Ministro Geral veio me trazer a Camposampiero, a minha nova base. De Roma a Camposampiero sao mais ou menos 500km. A viagem se desenvolve com rapidez pelas auto estradas da Italia. Foi um tempo agradavel
Assinar:
Postagens (Atom)