sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A fé: uma questão fundamental

Queridos, Paz e bem! Antes de tudo perdão pelo atraso em colocar textos. Aqui pra frente serão colocados com pontualidade. Estávamos no verão, e entre saídas e chegadas, eu não tive como atualizar o blog. Abraços.

Quando se estuda teologia, tem uma disciplina chamada teologia fundamental onde se reflete sobre a fé. O nome da disciplina é este porque ela se confronta com temas importantes que permeiam todas as outras disciplinas (se querem um nome antigo, tratados), e porque ela trata de temas que são preliminares ao estudo da teologia.
Recordando-me nestes dias do tempo que lecionei introdução à teologia, eu pensava um paralelo para poder compreender a espiritualidade: a fé é o seu fundamento. Mas também a fé é algo que cresce com a própria espiritualidade. Fé é um dom, mas também uma responsabilidade pessoal diante do sagrado.
Quando nós pensamos em nós mesmos ou se perguntamos a outros se têm fé, logo vem, quase sempre automaticamente, uma resposta afirmativa. Recordo-me da pergunta do Senhor Jesus: “Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?”. Tenho a impressão que a facilidade com a qual nós afirmamos a fé destoa da pergunta de Jesus, pois Ele parece “descrer” que encontrará um mundo cheio de fiéis. Reconhecer, até com muita dor, que não somos pessoas de fé, é o primeiro passo para começar a tê-la.
No mês de julho eu participei de um retiro com um sacerdote de 97 anos, Arturo Paoli (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arturo_Paoli), um homem de uma lucidez, atualidade e força que destoam daquilo que se pode pensar de alguém desta idade. Um homem que teve uma história de vida luminosa em nível de igreja, até os 47 anos, e depois de uma enorme perseguição por parte de seus pares aqui na Itália, ele pediu a Paulo VI para ir para América Latina, viveu inclusive no Brasil. Na viagem de ida ele conheceu um irmão da congregação de Charles de Foucauld e pediu para entrar na congregação. Depois de um sim do superior geral, ele foi rejeitado pelo formador e por fim admitido. Foi viver no deserto durante anos e naquela experiência, sem o poder, sem as luzes, sem o palco, sem os alunos, ele percebeu que não tinha fé. Ele nos dizia que era a experiência mais desoladora do mundo, algo semelhante a uma depressão, mas muito pior.
Ele percebeu que ele não tinha uma fé, mas confiava nas suas qualidades, no seu talento, no seu poder, ou seja, em si mesmo. Somente depois de um episódio no deserto, é que Ele começou a perceber o essencial e encontrou consolo: não sou eu que busco Deus, é Ele que está me buscando!
Olha, devo-lhes dizer que a minha experiência pessoal de vida foi muito semelhante. Eu pensava ter fé quando era o centro das atenções, quando tinha poder, contava com palco e auditório, suposto amor e respeito. Quando eu perdi tudo isto, e algo mais, que foi a proximidade dos irmãos, aos poucos eu fui decidindo de deixar tudo, inclusive Deus. Para explicar: a experiência de doença e morte coloca muitas pessoas no ponto crucial da fé, mas isto é ainda pior quando se passa pela experiência da “própria morte” em vida. Desta experiência eu fui para uma fuga de Deus, um vazio, a constatação de que não tinha fé, o desejo de Deus, uma busca e um encontro, que de algum modo Camposampiero foi o deserto que eu precisava.
Contar estas duas histórias, de dois ministros da Igreja, somente serve para nos ajudar a colocarmo-nos diante da questão de Jesus: o Filho do Homem encontrará fé em mim?Sugiro que pense sobre isto. Mas coloque-se também a questão anterior a esta: o que é fé?
Até a próxima, daqui a uma semana. Abraços e bênçãos!

2 comentários:

  1. Finalmente apareceu algo. Estava com saudades dos seus textos. Um abraço. Ednah

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  2. Eis o mistério de Deus.......

    Paz e bem

    Manoel

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