domingo, 21 de junho de 2009

Por esta eu não esperava


Meus caros amigos, paz e bem!
No meu primeiro artigo deste blog eu dizia que este seria um tempo de renascimento para mim. Depois participei de um retiro com o Padre Arturo Paoli que insistia na necessidade de voltar a ser criança para poder fazer uma experiência de seguimento de Jesus. Não pensei que teria que viver isso até fisicamente...
Na última terça-feira, depois da minha hora de italiano, fui fazer a minha hora de bicicleta. Escolhi ir pelo bosque, numa estrada que eu já tinha feito uma vez. Durante o caminho encontrei uma descida de uma pequena coluna que eu já tinha feito antes. Confesso que parei por algum instante e pensei que não deveria descer, mas, mais uma vez eu não confiei na minha intuição e desci. Se arrependimento matasse...
Cai. No solo, alguns segundos me pareceram uma eternidade: perguntei-me se algo quebrou e o que quebrou. Pensei que nada. Levantei e vi que a bicicleta estava com a roda torta, sem condições de uso, comecei a caminhada de volta, empurrando–a. Enquanto caminhava vi que minha mão se mexia de um lado para o outro, mas era indolor.
O resultado desta novela imprevista foi que eu fui levado para o hospital público de Camposampero. Ali constataram que o braço se quebrou em dois lugares e fizeram a cirurgia colocando titânio e seis parafusos, que devo retirar em dois anos. Somente voltei para casa no sábado.
De que me valeu esta “linda” experiência? Primeiro: experimentei uma preocupação e atenção fraternas que cada vez mais me confirma a graça desta nova comunidade; segundo: eu sempre ouvi falar muito mal do Sistema de Saúde Italiano, mas o que encontrei aqui foi um hospital exemplar na rapidez do atendimento, na atenção de todos os trabalhadores e na tecnologia de ponta. Terceira: cheguei aqui com 120 kg e agora estou com 115 kg, ou seja, só falta eliminar 32 kg. Na verdade eu suportei estes dias porque o que eu tinha que fazer no convento eu podia fazer no hospital, que era ler e rezar. Já que caminhadas e bicicletas só num futuro breve.
É isto ai meus amigos: estou bem e estarei com o gesso por um mês.
Agora só falta deixar que o Senhor opere em mim as mesmas maravilhas que operou naquele que caiu do cavalo – Saulo de Tarso.
Bênçãos, beijos e abraços!

sábado, 20 de junho de 2009

Trezena

Ola, Paz e Bem!
Nos últimos dias me aconteceram tantas coisas boas que acabei ficando em silencio, sem tempo para compartilhar tudo isto com vocês. Foi a correria da vida por causa da Trezena de Santo Antônio, algumas visitas, o retiro com Pe. Arturo e a festa de Corpus Christi, aqui chamada de Corpus Domini e celebrada no domingo.
Vamos à partilha...
Primeiro devo dizer que recebi mais visitas. A primeira pessoa que me veio ver foi a Ir. Márcia com quem estive junto no conselho nacional da Família Franciscana do Brasil. Levei-a em Pádua para conhecer a cidade. Depois veio nestes dias Frei Carlos Trovarelli, provincial da província de Argentina e Uruguai. Ele estava em Roma e veio até Pádua e eu fui para lá para nos vermos, conversarmos, colocarmos a vida em dias. Por fim, neste dias me visitou a minha sobrinha Isabela (assim nos consideramos, mas ela é sobrinha da minha cunhada), ela mora em Milão.
A trezena de Santo Antônio foi algo que nunca vivenciei antes, simplesmente linda. Já falei para vocês de como a cidade onde estou é pequena, mas durante a trezena passou por nosso Santuário da Visão umas vinte mil pessoas, só no dia da festa deve ter vindo umas cinco mil pessoas; uns vinte corais cantaram na igreja ao longo da trezena; diversos sacerdotes vieram celebrar. Três coisas novas para mim:
- aqui tem uma tradição de consagrar as crianças a Santo Antônio. Elas são inscritas num livro do Santuário e voltam a cada ano para receber a bênção. Devo dizer que finalmente vi criança na Itália e em grande quantidade. Eu fui um dos frades que abençoou as crianças.
- no dia do Santo (assim é chamado Santo Antônio na Itália) a cidade de São Giorgio delle Pertiche ofereceu o azeite com o qual se acende a lâmpada na cela de Santo Antônio até a festa do próximo ano, quando outra cidade oferece, sempre representada por seu prefeito. Isto também se faz em Assis.
- a festa de Santo Antônio terminou com um lindo concerto no Santuário, com coro, piano e percussão. Eles executaram temas de diversos filmes religiosos enquanto cenas dos respectivos filmes eram projetadas e antes se lia um trecho dos sermões do Santo. Estavam presentes pessoas da TV italiana e o diretor do filme Santo Antonio, guerreiro de Deus. Ao final o maestro pediu contribuição, pois este coral estava voltando de uma longa viagem pelo Amazonas, onde foram se apresentar para comunidades ribeirinhas e ali estão construindo um hospital para câncer com trinta leitos. A Itália vive o momento do voluntariado dos leigos, muitos são os projetos deste tipo.
Ficamos por aqui. Nas páginas do Orkut ou do flicker vocês encontram as fotos. Abraços, beijos e bênçãos!

domingo, 7 de junho de 2009

A VIDA POR AQUI

A vida vai tomando seu rumo cada vez mais claro aqui Camposampiero, aos poucos vou conhecendo os frades, os leigos (me tratam como uma peça rara, pois quase não existem estrangeiros por aqui!!!), tenho minha vida diária sempre mais ordenada e proveitosa e vou me sentindo sempre mais em casa.
A Itália é o único país do mundo, naturalmente depois do Brasil, onde eu me sinto em casa. Já tinha esta impressão antes. Acho o povo italiano, a parte que é grosseiro, muito semelhante ao brasileiro. Eu estava antes em Roma e agora estou numa região muito diferente: o Norte. Aqui é a parte mais rica, mais organizada, mais “germanizada”, pois foi ocupada pela Áustria. Penso que a diferença entre Roma e aqui é algo como Rio de Janeiro e Brasília, Nova Iorque e Washington.
A cidade é pequena, falo de Camposampiero, e por isto tem um povo acolhedor. A comida é perigosa, pois ainda que eu sinta falta do tempero do Brasil, eu me acostumo facilmente à comida estrangeira e aqui se come bem. Sempre pensei que o italiano é tão comilão quando o brasileiro, e ambos têm uma boa culinária. Contudo, a falta de um tempero que me seduza, fez com que eu tenha mais disponibilidade de emagrecer.
Neste domingo tivemos mais um dia da trezena. Impressiona-me a suntuosidade da liturgia. Cada dia tem celebrante diferente, que vem com co-celebrantes de um determinado vicariato da diocese de Treviso; um coral, e, sobretudo, o Santuário da Visão cheio.
Hoje, segunda-feira, eu começarei um retiro com Pe. Arturo Paoli. Aqui, onde vivo, é uma casa de retiro e estou aproveitando estas boas oportunidades para estar nos retiros e outros encontros. O pregador, que já viveu no Brasil tem um currículo de vida muito interessante, vale a pensa ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arturo_Paoli
É isto. Um abraço e preces contínuas.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Trezena de Santo Antônio

Ontem começou a Trezena de Santo Antônio. A igreja, Santuário da Visão, ficou cheia com a presença de párocos de uma parte da diocese de Treviso e muitos peregrinos.
A realidade eclesial da Itália é muito diversa daquela que temos no Brasil. Para que tenham uma idéia aqui no município de Camposampiero moram dez mil pessoas e aqui tem duas paróquias, uma da diocese de Pádua e outra da diocese de Treviso. Cada uma tem três padres e além deles tem o nosso convento, onde somos em 25 frades. Imaginem agora este exercício para uma população tão pequena.
Faz-me pensar nas nossas paróquias do Brasil com um padre para cinqüenta mil pessoas ou mais.
Ontem aprendi uma coisa interessante. O pároco explicou para todos que para Santo Antônio, aqui chamado somente de O Santo, se faz trezena e não novena ou tríduo, como no caso de outros santos, porque a tradição popular diz que Santo Antônio é tão profícuo em milagres que concede até treze graças em um só dia.
Hoje comecei a fazer minha caminhada matutina, vou entre os dois santuários e a tarde faço uma hora de bicicleta. Hoje também estarei retomando uma coisa que abandonei a mais de 14 anos: quando fui ordenado diácono eu parei de tocar piano e órgão. Desde quando cheguei aqui eu topo com vários pianos, já contei uns 10 no convento (pianos, harmônios e órgãos). A cada encontro eles parecem me dizer: “Venha!!!” Ontem fui na biblioteca e encontrei alguns manuais, achei um piano que fica numa sala e assim não perturba ninguém e assim, a partir de hoje, estarei reservando uma hora, depois do almoço, para retomar a vida com um viés mais artístico.
Beijos!!!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O Caminho do Santo

Na véspera de Pentecostes aconteceu aqui a peregrinação dos jovens de Camposampiero a Pádua, chamada Il Cammino di Sant’Antonio. Participaram cerca de 1000 jovens, e entre eles alguns adultos, naturalmente. Para mais informações acesse http://www.ilcamminodisantantonio.it
Para mim foi uma experiência novíssima e interessante, cada vez mais comum na Europa. O caminho mais famoso, sem dúvida, é aquele de Compostela, com mais de 800 km. A partir deste nasceram muitos outros caminhos, e existem hoje as pessoas que buscam fazer todos estes caminhos. Que caminham pela Europa em busca destas peregrinações a pé e levam consigo uma caderneta para receber um carimbo.
O Caminho de Santo Antônio tem 25km. Faz o trajeto que o Santo fez, desde a sua casa (Camposampiero) até o lugar onde deveria morrer (Pádua), mas ele morreu antes da cidade, em Arcella. A procissão de jovens tem quatro paradas para oração, lanche e toalete. O menor trecho da procissão é feito em silêncio, e isto me deixou muito impressionado.
O grupo era composto fundamentalmente de italianos, mas chegou também um grupo de Croácia e outro da Sérvia, ambos trazidos por um frade. Havia também um brasileiro (adivinha!!!).
No convento onde vivo tem uma enfermeira que cuida da saúde dos frades, porque aqui tem alguns idosos. Eu fui para fazer uma consulta, porque os frades desde que cheguei decidiram me emagrecer (não consigo entender porque eles pensam isto!!!). O resultado da primeira consulta, na qual eu fui preparado para diminuir comida, deixar o vinho das refeições e ela, depois de ver minha taxas, me recomendou de continuar sem fazer uma dieta, tomar sempre meio copo de vinho nas refeições e NÃO fazer a peregrinação, pois eu estava, por primeira vez na minha vida com hipoglicemia. Estou cuidando disto agora para ver a dieta no futuro. Os frades da comunidade dizem que eu comprei a enfermeira e os de fora me pedem o nome e telefone da mesma. Nunca saí tão feliz de um encontro com um profissional de saúde.
Eu fui no furgão durante a peregrinação. Com dois frades, eu tinha a missão de chegar nas paradas antes dos peregrinos e preparar o ambiente para o momento de reflexão e oração.
A peregrinação começou com um belíssimo show do famoso grupo focolarino: Gen Rosso, um show de canto e dança. Pelas 23h30min saiu para Pádua, fazendo todo o caminho ao lado de um rio, um trecho deste caminho é chamado: Cammino di Sant’Antonio. Chegamos a Pádua pelas 8h30min e houve a missa a 10h, com a qual se concluiu a peregrinação.
Em uma sociedade com poucos jovens e com uma juventude distante da Igreja, estas iniciativas de evangelização têm grande importância, pois logram ser um catalisador da juventude. Foi uma experiência bela para mim, oxalá ela um dia seja praticada no nosso Brasil.