tag:blogger.com,1999:blog-63898255765272245032024-02-06T21:10:34.415-08:00Seguimento Franciscano de CristoEste é um espaço de partilha da vida franciscana, onde o autor busca ajudar a si mesmo e aos outros na encantadora vocação de seguir Cristo conforme o fez Francisco de Assis.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.comBlogger33125tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-26357740764350284862013-03-15T00:49:00.000-07:002013-03-15T00:49:17.676-07:00RENÚNCIA DE BENTO XVI: MOMENTO DE SER FRANCISCANO O dia 11 de fevereiro de 2013 passou à história não somente como mais uma memória da aparição de Nossa Senhora em Lourdes (1858) ou da Conferência de Yalta (1945) com a qual as potências concordavam em terminar a segunda guerra, mas foi sinalizado com um fato que ofuscou até o noticiário brasileiro do carnaval: a renúncia do Papa Bento XVI ao ministério petrino.
No momento da renúncia, a minha comunidade estava reunida para a lectio divina e eu recebi a notícia imediata através de uma mensagem no celular. A minha reação foi aquela mais comum de todos os mortais: não acreditar. Assim foi também a reação dos cidadãos do lugar de nascimento de Bento XVI, que pensaram que era uma brincadeira de carnaval. Depois de um primeiro momento de ceticismo, dado à insistência do meu interlocutor, fui conferir e vi que todas as agências de notícias da Itália só falavam disso. Desde aquele momento esse é o assunto do mundo, com diversas leituras apropriadas ou não.
Fundamentalmente, olhando a repercussão pelo mundo, encontrei três reações à renúncia: a hierarquia da Igreja (os bispos) apoiaram e respeitaram a decisão do Papa, os meios de comunicação começaram a buscar o motivo da renúncia e especular sobre a sucessão, e os fiéis leigos mais simples ficaram desesperados, pensando que a Igreja vive uma crise.
Buscaremos esclarecer um pouco estas questões a partir de nossa visão cristã e franciscana. Antes, porém, devemos admitir que são tantas as especulações em torno dessa renúncia que começamos o nosso caminho buscando dar clareza a essas para depois enfrentar aquelas.
Alguns meios de comunicação dizem que este é o segundo papa a renunciar e outros dizem que este é o quinto. Qual posição é verdadeira? Curiosamente devo dizer que uma ou outra é valida, mas pessoalmente sustento a primeira. Para compreender esta suposta discrepância, devemos admitir que uma instituição com mais de dois mil anos não pode ser avaliada pelo critério de história de hoje, que se interessa por datas e medidas. Daí que encontramos na lista dos papas diversas questões que fazem ser difícil precisar não só a data do pontificado, como o motivo do término e até mesmo a lista é sujeita a mudança.
Para resolver a primeira questão prefiro ter em consideração a lista oficial dos papas, já que a lista muda de um historiador a outro. Os papas que geralmente são considerados como aqueles que renunciaram são quatro: S. Ponciano (230-235), Bento IX (1032 a 1048, sendo Papa por três vezes), S. Celestino V (1294) e Gregório XII (1406 a 1415), porém o problema é que do primeiro não temos registros históricos válidos da sua renúncia; Bento IX é uma história curiosa porque foi papa por três vezes, duas vezes foi deposto e não se tem certeza se chegou a renunciar na terceira vez; já a renúncia de Gregório antipapa foi para terminar com o cisma do ocidente (eleição), e neste caso renunciaram ele e todos os outros antipapas para que si fizesse a eleição de um novo para voltar a sede a Roma. Assim, dos quatro mencionados, o único que não paira uma dúvida sobre a renúncia é a de Celestino V, um papa que teve uma importância grande para os espirituais franciscanos. Por motivo dessa única certeza, eu me uno a tantos sérios historiadores para dizer que vivemos a segunda renúncia de um papa.
Uma outra questão que se põe é como será o processo de sucessão. As perguntas que se ouvem sobre este ponto é sobretudo de caráter politico. Seguramente este aspecto é e deve estar sempre presente nas relações humanas, mas nós pessoas de fé, não podemos cair nesta armadilha. Tivemos um conclave há pouco tempo, em 2005, e o processo será muito semelhante àquele, excluso obviamente o funeral do papa e o fato que, por decisão de Bento XVI, o papa deve ser eleito, em qualquer escrutínio, com dois terços dos votos.
João Paulo II tinha determinado que depois da décima votação bastava a maioria absoluta. Portanto a partir do dia 28 de fevereiro de 2013, às 20 horas do Vaticano, com a Sé de Roma vacante, o cardeal Tarcísio Bertone, carmelengo da Santa Romana Igreja, assume o governo interino da Igreja e o Cardeal Ângelo Sodano, decano do colégio cardinalício, assume a missão de convocar e presidir a eleição do novo pastor da Igreja. Um adágio famoso diz que no conclave, quem entra papa sai cardeal! Portanto qualquer suposição sobre candidatos é perda de tempo.
Agora podemos avaliar as repercussões da notícia. Comecemos por recordar que em 2005, com a morte de João Paulo II, tantos falavam da impossibilidade de substituí-lo e hoje se vê que era drama de um momento histórico. Recordemos que uma comunidade que sobreviveu à grande crise da morte e depois ascensão de seu fundador – Jesus Cristo – dificilmente desmoronará com uma sucessão ou renúncia do papa. Acho um drama desproporcional a leitura de crise que se faz nesse momento, e um desconhecimento da história da Igreja que passou vitoriosa por tantos outros momentos. Portanto, nesta questão, menos drama e mais fé.
Os meios de comunicação me fazem feliz pelo fato de ver como a questão religiosa, mesmo que perseguida, tem grande importância no nosso tempo. Mas rejeito a insistente pergunta que busca encontrar um outro motivo para a renúncia, além daquele que disse o papa: sentindo-se de idade avançada, não se vê em condições de conduzir a Igreja em um mundo com tantas mudanças. Pretender outras respostas é entrar num mar de suposições sem fim. Afinal, para mim que tenho a graça de conviver com anciãos da idade do papa, não precisa buscar outros motivos, basta ver que são pessoas que, ainda que boas, não conseguem mais gerir a própria vida, muito menos assumir o governo da diversidade da Igreja.
A posição mais sóbria penso que encontro na hierarquia da Igreja: viver este momento com sobriedade e no limite daquilo que o papa nos disse em poucas palavras. Não vivemos uma crise, mas um momento de parar para recomeçar, com a graça de Deus e na certeza, como dizia o Senhor a Francisco, que esta não é obra nossa, mas d’Ele. >>>Quem tem a graça de conviver com a pessoa de Ratzinger, diz sempre que é um homem gentil, simples e inteligente, a sua renúncia se encaixa muito bem neste perfil.
Vale recordar que no seu breve pontificado teve gestos de amor para com o Brasil: escolheu Aparecida para ser a sede da V Conferencia dos bispos de América Latina e escolheu o Rio para ser sede da JMJ. Quando o encontrei em Assis em 2007 ele me disse que o Brasil tinha sido a sua experiência mais bela.
Creio que a renúncia ao poder é uma coisa que somente tem coragem de fazer uma pessoa de Espirito, afinal quantos anciãos se ligam sempre mais ao poder. A isto se acrescenta a grandeza de assumir o próprio limite, rompendo a tendência que temos de pensar-nos onipotentes.
Ao legado de Bento XVI, se acrescenta agora este último, que depois de quase 800 anos sem uma renúncia de Papa, deve dizer a nossa Igreja e não somente ao bispo de Roma, que, em uma sociedade onde se tende a viver sempre mais, o bem da Igreja está acima dos nossa projetos pessoais, e que por isso, como disse o papa, ele tem o direito e até o dever de renunciar.
Se isto nos servirá de testemunho, já conseguimos fazer uma leitura cristã e franciscana deste momento, ou seja profética.
(Publicado na Revista Irmao Menos, Fraternidade Sao Francisco da OFS de Brasilia)<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsZ1gpUSbB5PSUoS1KTK85WTSpl5g-e5m7O69JJjhrF2GieRawQCen03Xcb_qm7FQXhuSq2daL_8vG1lXuIVOfNSgMdftLgCQ-UwPYa6dq7gxALBUPVQcR0sNpq9Ob-qpfB2OqW178SeNL/s1600/scansione0001.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsZ1gpUSbB5PSUoS1KTK85WTSpl5g-e5m7O69JJjhrF2GieRawQCen03Xcb_qm7FQXhuSq2daL_8vG1lXuIVOfNSgMdftLgCQ-UwPYa6dq7gxALBUPVQcR0sNpq9Ob-qpfB2OqW178SeNL/s320/scansione0001.jpg" /></a>Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-18670560281833448982011-05-16T01:08:00.000-07:002011-05-16T01:15:02.793-07:00Ser peregrino e viandanteHoje, 16 de maio de 2011, se fazem dois anos que cheguei em Camposampiero, a menor cidade onde já vivi na minha vida, com cerca de seis mil habitantes.<br />Viver em uma outra cultura, com outra língua, outro tudo. Ser o estranho do ninho, o estrangeiro, ou, como dizem aqui, o extra-comunitário, é ocasião de sofrimento para a maioria das pessoas, mas devo confessar que me faz muito bem esta nova experiência. Viver no exterior é ter a possibilidade de renascer sob muitos aspectos da vida, e se se vence a resistência ao outro, se consegue aprender muita coisa.<br />Recordo-me que nos primeiros dias tudo era novo, talvez interessante, media tudo a partir do Brasil. No contacto com os brasileiros, e com outros, vejo que o segundo momento é aquele de começar a mistificar tudo que é da própria pátria, ai o Brasil começa a não ter problemas e tudo daqui já não vale mais. Busquei escapar desta tentação e manter um olhar critico com a minha cultura, mas sou sabedor que isto é praticamente impossível, pois avalio a minha cultura com o coração (sou sujeito dela), enquanto avalio a Itália com a razão (ela è objecto).<br />A graça de Deus fez com que hoje eu sinta a Itália, na sua diferença com o Brasil, como a minha segunda pátria. Com isto não quero que ninguém se encha de poesia sobre o tema, porque a maioria dos estrangeiros vivem a experiência italiana como uma cruz. Digo sempre que é algo muito estranho, pois praticamente nunca encontrei uma pessoa que viva na Itália porque gosta, mas sim porque deve viver. E isto acontece porque aqui sefaz uma distinção cada vez mais rígida entre aquele que é daqui e aquele que é de fora, e tal distinção não faz parte do modo de ser do brasileiro: somos um povo nascido do encontro de muitas culturas.<br />Nos primeiros dias que aqui cheguei, eu era muito atento à situação do estrangeiro na bíblia: como o povo de Israel se pensava como único escolhido e Deus lhes exigia de darem atenção ao estranho, depois no segundo testamento se diz que todos somos estrangeiros, porque a nossa pátria é o Céu; ao passo que todos somos concidadãos. Poder antecipar esta experiência do ser “forasteiro e viandante” era para mim muito interessante, além do que comecei a me sentir profundamente livre, porque não devia representar um papel diante de ninguém: era somente o forasteiro brasileiro, sem obrigação de falar bem, de falar bonito e de representar nada.<br />Tudo isto me fez buscar e alcançar uma vivência tranquila com o povo italiano e seu modo de ser. Cada vez mais me convenço que a cultura é um elemento determinante e condicionador daquilo que somos, ao passo que além dela está o ser humano, na sua grandeza e limitação comum a todos os povos. Vivo assim a serenidade de buscar encontrar um irmão e uma irmã em cada um, mais que um membro desta ou daquela nação. Outros dois elementos tranquilizadores para mim é saber que estou aqui por uma tempo determinado e ter a possibilidade de celebrar uma vez por mês com meus conterrâneos brasileiros em Mantua.<br />Dois anos se passaram, e este é para mim tempo de graça e salvação. Por tudo isto louvado seja Deus!Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-29638808278443289472011-05-13T18:18:00.001-07:002011-05-13T19:02:21.414-07:00Nota da CNBB a respeito da decisão do Supremo Tribunal Federal quanto à união entre pessoas do mesmo sexoNós, Bispos do Brasil em Assembleia Geral, nos dias 4 a 13 de maio, reunidos na casa da nossa Mãe, Nossa Senhora Aparecida, dirigimo-nos a todos os fiéis e pessoas de boa vontade para reafirmar o princípio da instituição familiar e esclarecer a respeito da união estável entre pessoas do mesmo sexo. Saudamos todas as famílias do nosso País e as encorajamos a viver fiel e alegremente a sua missão. Tão grande é a importância da família, que toda a sociedade tem nela a sua base vital. Por isso é possível fazer do mundo uma grande família.<br /><br />A diferença sexual é originária e não mero produto de uma opção cultural. O matrimônio natural entre o homem e a mulher bem como a família monogâmica constituem um princípio fundamental do Direito Natural. As Sagradas Escrituras, por sua vez, revelam que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança e os destinou a ser uma só carne (cf. Gn 1,27; 2,24). Assim, a família é o âmbito adequado para a plena realização humana, o desenvolvimento das diversas gerações e constitui o maior bem das pessoas.<br /> <br />As pessoas que sentem atração sexual exclusiva ou predominante pelo mesmo sexo são merecedoras de respeito e consideração. Repudiamos todo tipo de discriminação e violência que fere sua dignidade de pessoa humana (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 2357-2358).<br /> <br />As uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo recebem agora em nosso País reconhecimento do Estado. Tais uniões não podem ser equiparadas à família, que se fundamenta no consentimento matrimonial, na complementaridade e na reciprocidade entre um homem e uma mulher, abertos à procriação e educação dos filhos. Equiparar as uniões entre pessoas do mesmo sexo à família descaracteriza a sua identidade e ameaça a estabilidade da mesma. É um fato real que a família é um recurso humano e social incomparável, além de ser também uma grande benfeitora da humanidade. Ela favorece a integração de todas as gerações, dá amparo aos doentes e idosos, socorre os desempregados e pessoas portadoras de deficiência. Portanto têm o direito de ser valorizada e protegida pelo Estado.<br /> <br />É atribuição do Congresso Nacional propor e votar leis, cabendo ao governo garanti-las. Preocupa-nos ver os poderes constituídos ultrapassarem os limites de sua competência, como aconteceu com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal. Não é a primeira vez que no Brasil acontecem conflitos dessa natureza que comprometem a ética na política.<br /> <br />A instituição familiar corresponde ao desígnio de Deus e é tão fundamental para a pessoa que o Senhor elevou o Matrimônio à dignidade de Sacramento. Assim, motivados pelo Documento de Aparecida, propomo-nos a renovar o nosso empenho por uma Pastoral Familiar intensa e vigorosa.<br /> <br />Jesus Cristo Ressuscitado, fonte de Vida e Senhor da história, que nasceu, cresceu e viveu na Sagrada Família de Nazaré, pela intercessão da Virgem Maria e de São José, seu esposo, ilumine o povo brasileiro e seus governantes no compromisso pela promoção e defesa da família.<br /> <br />Aparecida (SP), 11 de maio de 2011<br /> <br />Dom Geraldo Lyrio Rocha<br /> Presidente da CNBB<br /> Arcebispo de Mariana – MG<br /> <br />Dom Luiz Soares Vieira<br /> Vice Presidente da CNBB<br /> Arcebispo de Manaus – AM<br /> <br />Dom Dimas Lara Barbosa<br /> Secretário Geral da CNBB<br /> Arcebispo nomeado para Campo Grande - MSFrei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-59684253897576068282011-05-10T14:31:00.000-07:002011-05-10T14:32:58.546-07:00Quando a morte fala mais alto…Nestes dias estou, ingenuamente, assustado com a repercussão que teve a morte de Osama Bin Laden. Ingenuamente, porque não seria de se esperar de mim tal susto, mas o problema que se criou foi a coincidência de épocas e fatos: Páscoa, beatificação de João Paulo II e morte de Bin Laden.<br />A morte continua sendo o grande enigma da vida humana. No passado, para chegar a uma resposta sobre o tema, os seres humanos apelavam para a reencarnação ou outra explicação espiritualizante. Com o advento do cristianismo, ouvimos o discurso claro da ressurreição. Na verdade, como vemos no Segundo Testamento, esse é o novo e insistente anúncio da Igreja: Ele vive! Atualmente, o enigma continua a bater em nossa porta e depois de séculos de vida cristã, chama-me a atenção que a nossa evangelização ainda se mostra falha, sobretudo neste aspecto. <br />Vejamos dois exemplos: Uma pesquisa internacional mostra o Brasil como a nação não muçulmana onde mais se acredita em Deus. Por outro lado, o Brasil está entre as nações que mais crê em reencarnação e somente cerca de metade dos brasileiros acredita na ressurreição. Se isto já entristece, saibamos que entre os freqüentadores habituais da missa dominical na Itália, somente 30% acredita na ressurreição de Jesus. Falhamos naquilo que é mais inquietante na vida humana (o fim da vida, a morte) e naquilo que é essencial no cristianismo, a ressurreição. Se não conseguimos convencer que há vida pós morte, como fazer para anunciar que o evangelho traz vida já nessa nossa existência terrena?<br />A noticia que chama a atenção no mundo de hoje é aquela sobre morte (violência) e prazer (sexo, magia). Basta ver quais filmes fazem sucesso e que literatura mais se vende. Por esse motivo tem mais repercussão a morte de Bin Laden que a Páscoa do Senhor ou a vida doada de João Paulo II. Afinal o que é a vida, o amor, a doação, diante do espetáculo de uma super potência que busca um homem por dez anos, encontra-o e, ato contínuo, mata-o sem julgamento?<br />A repercussão do fato na mídia faz ver o tanto de ilusão que absorvemos, fruto de uma sociedade não crítica, que acredita em tudo que ouve. Esquecemos de fazer perguntas básicas. Verdadeiramente, não teria sido possível encontrá-lo nesses dez anos? Quem mais matou na história humana, os EUA ou a Al Qaeda? Com essa morte o terrorismo chegou ao fim? È justa tal comemoração de uma vingança?<br />Seguramente, a morte de Bin Laden é mais que um símbolo [político / imperialista], não uma causa que possa produzir efeito vivificador. É um passo a mais na inqualificável separação entre oriente e ocidente, muçulmanos e cristãos, que são promotores e vitimas de seculares guerras. <br />Pensemos, no entanto, na morte esquecida de Cristo e na Sua vida não celebrada, aquela que foi causa da nossa salvação. O novo Adão não ressuscitou para si somente, mas para dar a vida por todos.<br />Que a Páscoa, que não se reduz a alguns dias, seja para cada um de nós, celebração da vida. E a vida se celebra a cada momento, sem deixar-se perder nenhuma gota do grande amor que Deus derramou nos nossos corações.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-69145849245684553752010-11-17T02:52:00.001-08:002010-11-17T02:52:43.503-08:00Um olhar de fora, mas profundamente dentro (2)No mês de setembro, quando estive no Brasil, encontrei a campanha eleitoral no seu auge: era uma guerra descomunal pelo poder. Eu sempre fui muito interessado ao desenvolvimento da política nacional e do Distrito Federal, daqui eu leio a cada dia as notícias, sempre fui assíduo e interessado eleitor, mas desta vez eu não votei porque deveria viajar a Milão (400 km ida e vinda) para transferir o título ao Consulado do Brasil e depois deveria ir a cada turno de votação.<br />O voto não é obrigatório na União Européia, aqui o voto é compreendido como um direito, e por isto a pessoa pode renunciá-lo. Isto tem produzido a pouca frequência dos eleitorer às urnas, na última eleição francesa somente 20% dos eleitores foram votar. Já no Brasil o voto é compreendido como um dever para com a democracia. <br />Confesso que experimentei uma certa alegria em não ter que votar. Somos uma nação pacífica, um povo amigável, mas quando é momento de eleição aparece o que temos de pior: tanta mentira, calúnia, raiva e corrupção que só mostra que o que está em jogo é o poder e os seus frutos. No fundo a ilusão é do eleitor que pensa estar escolhendo entre projetos diversos, mas fundamentamente estamos escolhendo pessoas diversas que têm em comum o interesse pelo poder e não pelo bem do povo. <br />Uma discussão que era muito presente era sobre a catolicidade dos candidatos, que diga-se: todos se tornam pessoas de fé e em geral católicas, numa nação de maioria católica. É uma “fé” oportunista, que usa Deus e a Igreja em função de um projeto de partido. Como corolário desta discussão veio aquela sobre o aborto. Partilho com vocês a realidade italiana sobre este tema: aqui o aborto é legalizado e pode ser feito na rede pública. Muitos médicos não o fazem por objeção de consciência e a surpresa é que o número de abortos clandestinos cresceu desde a legalização, foram cerca de 200 mil no ano passado. O motivo é para as pessoas que têm dinheiro é ainda cômodo não usarem a rede pública para manterem-se no anonimato. Dizer que a legalização diminui o número de abortos, se mostra como um argumento falacioso.<br />A principal preocupação que ficou no meu coração, como fruto desta eleição é a seguinte: temos uma carência de lideranças católicas-leigas para o mundo da política. Aprofundemos:<br />• Me parece equivocado buscar um candidato católico nas eleições. Muitas vezes não é o candidato que se diz católico que irá devender os valores do evangelho. É preciso olhar o compromisso pessoal do candidato e do seu partido com os valores do reino de Deus, e é preciso ver também que nem todo bom católico tem capacidade para ser bom político.<br />• Sou profundamente convencido que a política não é só lugar de corruptos, a crença na opinião contrária está fazendo com que o povo brasileiro, em especial os jovens, percam o interesse pela democracia que foi conquistada com o sangue e a vida de muitos dos nossos antepassados. Precisamos de garantir a presença de pessoas de valor no mundo da política.<br />• Na política a sedução pela fraude é muito presente, mais que em outros âmbitos. Daí é preciso que a comunidade cristã tenha a sabedoria de acompanhar com suas orações e com atos os seus eleitos: estas pessoas se vêem abandonadas e caluniadas pelos seus irmãos de fé. Não seria esta uma bela missão para a população de Brasília?<br />• A rejeição pela política tem feito com que este tema seja rejeitado nas nossas paróquias e isto é um equívoco, pois se o Evangelho é um anúncio de salvação para o ser humano, e este é por natureza político, logo o mesmo Evangelho deve tocar também este homem-político. Daí que devemos encorajar a comunidade cristã a assumir a vida política, precisamos de gente de fé que entre nas instituições políticas para transformá-las a partir de dentro. E nisto tenho a clareza que não precisamos de um partido da Igreja, pois nenhum partido pode esgotar todos os valores do Evangelho, opção partidária é questão de consciência pessoal. Precisamos de cristãos leigos que se façam presentes na diversidade dos partidos para levar a eles o valor do Evangelho. O triste que muitas vezes estes cristãos se perdem e se tornam mais partidários que pessoas de fé. Além disto, historicamente os partidos ditos “cristãos” não representaram os valores defendidos pela Igreja.<br />• A última eleição presidencial do Brasil foi muito marcada pelo disse-não-disse das TVs católicas e do episcopado. Eu nunca usei o meu ministério sacerdotal para pedir votos e não manifesto minhas opções a não ser para pessoas íntimas. Acredito que precisamos nos cuidar ao dar as nossas opiniões, pois muitas vezes os religiosos não são os mais capazes para emitir posições sobre política. Devemos dar fundamentos evangélicos e ser capaz de ver que a opção partidária é muito relativa, pois, como disse, nenhum partido esgota os valores do Evangelho e será que podemos ariscar o anúncio da Boa Nova para justificar um candidato?. O pior desta situação é que vemos clérigos ocupando lugar de leigos e leigos fugindo da vida social e política.<br />Enfim, celebrando nestes dias para a comunidade brasileira em Mantua, eu conclamei a assembléia para rezar pela nova presidente e por todos os eleitos. Alguns rostos faziam cara de desaprovação. Meus irmãos, a campanha acabou, resta-nos agora rezar pelos nossos governantes e cobrar deles o zelo efetivo pelo bem do Brasil, não só nesta geração, mas pensando também nas gerações futuras.<br />Basta. Falo muito. Abraços e bênçãos.<br />Até mais.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-75440009836175693352010-11-03T08:39:00.001-07:002010-11-03T08:39:51.957-07:00Um olhar de fora, mas profundamente dentro (1)Estive no Brasil no mês de setembro e vivi a maravilhosa experiência de viver com os meus familiares a amigos, a maioria eu não via há quinze meses. Foi pouco tempo para saborear o meu país e muito tempo para estar longe da vida de estudos, pois tenho que aproveitar o tempo de férias para ir reunindo material para a tese em liturgia.<br />Onde é a minha pátria? Quando as pessoas me perguntavam se estava ansioso para chegar no Brasil ou se vivo a saudade hoje, eu sempre digo assim: cheguei no Brasil quando o avião aterrizou e sai quando o avião decolou. Voltar a Brasília, depois de meses, era para mim a prova de fogo de meus sentimentos: ali vivi as minhas maiores felicidades e tristezas. Me perguntava como meu coração se moveria ao ver lugares e pessoas que me eram tão afins. Hoje, depois de voltar a Itália, lhes confesso: estou em paz, mas uma paz tão interessante que me possibilita dizer: nada, nem niguém a pode roubar. Estou sempre mais em casa na Itália, sem perder jamais meus laços com meu Brasil: sou brasileiro na Itália.<br />Na verdade existem duas coisas que eu sinto falta do Brasil: meus amigos (as) e a liturgia. De vez em quando eu fujo para celebrar para a comunidade brasileira de Mantova para matar a saudade e com os amigos eu busco sobreviver com os meios de comunicação, sobretudo internet. Descobrir estes sentimentos em mim era interessante, pois me foram fazendo perceber que fui sendo transformado em um ser humano normal: com sentimentos, amigos, inimigos, saudades, etc. <br />Quando falo da falta de amigos e da liturgia é porque nós, brasileiros que aqui estamos, vamos percebendo a riqueza da nossa igreja: uma liturgia viva, a participação ativa do laicato, a amizade, a alegria. Tudo isto não se vive na realidade italiana, e não porque é melhor ou pior, mas porque é diferente. Fundamentalmente, mesmo sem perceber isto claramente, o meu escasso apostolado me fez ter poucos e bons amigos leigos.<br />Esperei passar o fusuê das eleições (quanta poluição sonora e visual) para só depois escrever no meu blog. Na próxima vez quero compartilhar com vocês uma avaliação das eleições, olhadas por mim (profundamente brasileiro) a partir de fora (Itália).<br />Quero aqui agradecer muito, de coração a todos os meus amados amigos e amigas (incluída a minha família) pelas muitas e efusivas manifestações de amizade, carinho e proximidade nos dias que passei pelo Brasil. Confesso-lhes que faltou tempo para ver todos aqueles que eu queria e para conseguir atender todos os convites. Posso dizer que o resultado das férias foram 5 kg a mais no meu corpo e muitos, muitos quilos de amor e felicidade para meu coração. Deus lhes recompense sempre.<br />Abraços grandes.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-63859915145582052142010-08-22T02:52:00.000-07:002010-08-22T02:53:35.988-07:00Terra Santa ou Terra do Santo<span style="font-weight:bold;"></span>Nestes dias eu tive a oportunidade de pelegrinar a Terra Santa. Hoje muitos entendidos preferem chamar de Terra do Santo, o verdadeimente Santo: Jesus. Usarei nos meus textos o nome mais popular Terra Santa.<br />Neste espaço buscarei dividir com vocês um tanto daquilo que experimentei nestes dias. Partimos de Verona no dia 12 de agosto e voltamos de Tel Aviv no dia 19 de agosto. Éramos 45 pessoas, sendo um brasileiro (euzinho mesmo), dois romenos e o restante era italiano. No grupo tinhamos seis sacerdotes e um frade, sendo que dos sacerdotes só um não era franciscano conventual.<br />Eu recusei por três vezes no Brasil o convite para ir a Terra Santa, pois vivia viajando e queria reservar esta experiência para os 25 anos de ordenação. Acontece que quando trabalhei organizando a biblioteca conventual de Camposampiero, encontrei as anotações de Provincial, Frei Gianni, para esta peregrinação, li e fiquei desejoso de fazer a experiência. Na visita de Gianni a Camposampiero eu lhe disse que um dia desejaria fazer este caminho com ele, e ele me disse venha na próxima, pois depois nao terei muito tempo.<br />Gianni é biblista que estudou também em Jerusalém. Já seguiu trinta grupos na Terra Santa. A cada ano ele organiza a seguintes peregrinações: Nas pegadas de Cristo, nas pegadas de Moisés e nas pegadas de São Paulo. Em cada lugar ele buscava o texto bíblico para explicar o que aconteceu ali, e acrescentava o aspecto histórico e arqueológico. A peregrinação foi de fato um retiro na Terra Santa.<br />Foi boa pelo lugar, pelo guia e pelo grupo, com quem estabeleci uma bela relação de convivência.<br />Tirei umas mil fotos, que estão no endereço: http://www.flickr.com/photos/frjoaobenedito/ e no meu orkut: fr.joaobenedito@gmail.<br />Nas semanas seguintes irei falar do que vi em cada dia de peregrinação.<br />Um beijo. Fiquem com Deus. Que Ele vos abençoe!<br />Frei JoãoFrei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-11418762299044231282010-08-05T13:29:00.001-07:002010-08-05T13:29:49.551-07:00Uma experiência inesquecívelNa comunidade onde moro, reside o capelão do hospital de Camposampiero. Nestes dias ele tirou férias e eu tive a oportunidade de substitui-lo do dia 18 ao dia 31 de julho e voltarei lá nos dias 22 a 29 de agosto.<br />Desta vez irei fazer uma especie de entrevista comigo mesmo, para dizer como foi a experiência de ser capelão num hospital público no norte da Itália.<br />Como funciona a saúde na Itália?<br />A Itália tem uma grande diferença sócio-econômica entre norte e sul, eu estou na região rica do norte. Aqui a saúde depende de cada região. No Veneto o sistema público é tão bom que não existe lugar para o sistema privado. <br />Eu tive que usar o hospital primeiro como paciente, e funciona assim: você vai ao seu médico de base e ele te encaminha para a clínica especializada. O médico de base trabalha em clínica fora do hospital, e pode ser procurado de segunda a sexta-feira. De posse do encaminhamento a pessoa marca o exame por internet, telefone ou no hospital. Se paga uma taxa por cada exame, que varia, mas para uma consulta é algo em torno de R$ 30,00.<br />Na minha cidade tem um hospital superdimensionado. Em uma população de seis mil habitantes, ele tem 8 andares, com cerca de mil leitos. É impecavelmente limpo, bem mantido e nunca o encontrei cheio. Recordo que ele pode ser usado, e é, pelas cidades vizinhas, mas existem muitos bons hospitais na região.<br />Uma coisa me chama a atenção: a fama dos profissionais de saúde no Brasil é de serem estressados, aqui eles são tão tranquilos e gentis, que destoa daquilo que existe fora dos hospitais.<br /><br />Qual o trabalho do capelão?<br />A Itália é para mim uma sociedade invejável no senso que aqui vejo que, muito mais que no Brasil, há uma integração entre fé e cultura, mesmo que seja uma sociedade secularizada e com baixo percentual de frequência na igreja. <br />A Igreja da Itália leva com muita seriedade o trabalho nos hospitais. Aqui neste hospital a equipe é constituída por um sacerdote, um diácono e uma religiosa, sinto sempre falta de leigos (as) na pastoral italiana, muito marcada pela presença do clero. O sacerdote está no hospital todos os dias das 8 as 20 h, e quando não está, o celular fica disponível para o caso de emergência: morte e terminal. Eu fui chamado neste tempo duas vezes a noite para defuntos: a meia-noite e às 2:27 h.<br />Todos os que estão internados no hospital têm a possibilidade de receber a cada dia a comunhão e de solicitar unção e confissão. Tem a cada dia o rosário e a missa. <br />Quando acontece um óbito, aqui que é ainda mais diverso do Brasil, na hora a família chama o capelão que faz a primeira parte da encomendação. O corpo fica três dias na geladeira, por burocracia italiana. Ao final deste período, o pároco vem para acompanhar o corpo para a missa no cemitério ou na paróquia, e ele celebra a última parte da encomendação. Isto é possível porque as paróquias do Veneto são pequeníssimas.<br /><br />O que significa isto para mim?<br />Aprendi com o sofrimento que a única possibilidade de humanização é a cruz: sem esta experiência nós somos iludidos sobre nós mesmos, os outros e Deus. É o sofrimento que nos faz humanos, ou melhor, ele tem uma força de nos fazer crudelíssimos ou nos converter.<br />Durante estes dias no hospital eu estava lidando todo o tempo com o limite da situação humana: dor, doença e morte. Encontrei pessoas com diversas histórias de vida, mas profundamente abertas. Que aprenderam a sorrir e a ter desejos simples. <br />Um homem me dizia assim, mostrando as fotos com os grandes do mundo: ele era chefe-militar do palácio presidencial em Roma, muito rico e cercado de pessoas. Acreditava ter poder e amigos. Hoje está numa ala de pacientes terminais, com câncer. Concluía: Deus foi o único amigo que me sobrou de fato e tudo aqui que vivi antes foi ilusão.<br />Já uma mulher, que aceitava a comunhão, mas não aceitava a confissão, me dizia: se alguém tem que se confessar comigo é Deus – Ele sempre me perseguiu, me fez viúva aos 28 anos, me deu um câncer e uma mestátase. Ela foi sincera comigo, e desde aquele dia eu a visito todo dia, com uma missão: possibilitar àquela paciente terminal de fazer a experiência do amor de Deus.<br />O hospital é isto: não tem tempo, não tem hora. Tudo pode acontecer. Mas você se encontra com a humanidade na sua forma mais simples: sem as ilusões que temos sobre nós mesmos, nos nossos limites e com a possibilidade de um encontro sereno com o Senhor.<br />Em resumo:<br />Quando me diziam que eu fazia bem a eles eu pensava e às vezes dizia: vocês é que me fazem bem. Eu só sorria, conversava e oferecia sacramentos. Eles me deixaram impressas algumas convicções que vou somando na minha vida: a vida humana é algo muito mais simples que nossos devaneios.<br />Diante daqueles corpos envelhecidos e doentes, mas que continham um espírito vigoroso, eu pensava: como somos pequenos, só vale a pena usar estes poucos anos para Deus e os irmãos, o resto é ilusão.<br />Partilho com vocês porque creio que tenho o dever de narrar esta experiência bela para vocês, seja para lhes envolver ou, melhor, para lhes encorajar a fazer o mesmo.<br />Fiquem com Deus!<br />PS: parto para terra santa no dia 12 de agosto, ali estarei por uma semana.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-26887536312420750992010-06-07T14:57:00.000-07:002010-06-07T15:01:34.803-07:00Rumo ao Congresso do ano SacerdotalPaz e Bem!<br />Hoje eu parto para Roma para participar do congresso de conclusão do ano sacerdotal.<br />O número de participantes é tão grande que tiveram que dividir-nos em dois grupos, por línguas: um na Basilica de São Paulo e outro na Basilica de São João, eu estarei nesta.<br />Tenho já a carteira de habilitação européia, passei do difícil exame e amanhã saio daqui dirigindo um furgão, levando unas 2 toneladas de livros para serem doados para nossa faculdade em Roma. Eu sou o bibliotecário do convento, e estes livros chegaram aqui doados por um padre de uma paróquia vizinha.<br />Rezem por nós sacerdotes participantes do congresso. Terei a alegria de ver muitos amigos. <br />Um abraço e que Deus lhes abençoe!Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-53704915985110919752010-05-22T00:43:00.000-07:002010-05-22T00:46:44.828-07:00Visitei o Santo Sudário<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdcrrH8YBPUvio0S5B3g3OU8VAtiKjdsSeQ7OZoH-EuHsGYrnC5CESk5uDIC2QNS-jmViuZhPReHOv4q6YlQ1StC_HWznLilw6MMcSg5c4OQIeyMFG5cG6lfCLgxrK5V91CKNr3bow3EcB/s1600/scansione0005.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 130px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdcrrH8YBPUvio0S5B3g3OU8VAtiKjdsSeQ7OZoH-EuHsGYrnC5CESk5uDIC2QNS-jmViuZhPReHOv4q6YlQ1StC_HWznLilw6MMcSg5c4OQIeyMFG5cG6lfCLgxrK5V91CKNr3bow3EcB/s320/scansione0005.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5473997645822189522" /></a><br />Ontem eu estive em <span style="font-weight:bold;">Turim </span>para ver o Santo Sudário, junto com um grupo de pessoas de Loreggia, fomos em três ônibus. Partimos as 5 da manhã e retornamos pela uma da manhã de hoje. Fizemos cerca de 800 km.<br /><span style="font-weight:bold;">O Sudário está exporto depois de dez anos</span> e é a primeira vez depois da restauração do tecido. Se prevê, como nas outras vezes, que venham em torno de três milhões de fiéis para a visita, ontem a fila era imensa.<br />Qual a minha sensação diante do Sudário? <span style="font-weight:bold;">Uma coisa impressionante.</span> Mesmo que a Igreja não chame o Sudário de relíquia da Paixão, devemos reconhecer que estamos diante de um tecido miraculoso: uma impressão sem tinta, uma pintura que não transpassa o tecido e que não tem espessura, tantos detalhes que nos reportam à narração dos evangelhos. <br />Eu não sou um caçador de relíquias e sempre fui muito prudente em relação a elas, mas o Sudário é sem dúvida uma coisa que impressiona. Diante dele eu não busquei a certeza da ciência, isto é importante, mas nao é tudo. <span style="font-weight:bold;">Busquei sim atravessar aquele tecido com o olhar da fé </span>e me deixar carregar para dentro do mistério de Cristo.<br />Celebrei a missa para o grupo na Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora, onde viveu e está sepultado<span style="font-weight:bold;"> São João Bosc</span>o.<br />Foi a minha primeira experiência mais vizinha com um grupo de italianos, foi muito interessante: depois que se vence a resistência reverencial que eles têm diante dos sacerdotes, a convivência se faz tranquila e amigável. Para minha surpresa no grupo tinha uma brasileira que não fala português porque voltou para a Itália com oito anos e havia um outro João, um peruano que a mãe batizou com este nome para homenagear a um brasileiro.<br />Um abraço para todos. Fiquem com Deus.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-71836218094456695142010-05-16T19:26:00.001-07:002010-05-16T19:26:49.952-07:00Um ano de CamposampieroHoje faz um ano que cheguei aqui em Camposampiero. No dia 13 de maio de 2009 eu peguei o vôo Brasília-Lisboa-Roma, e depois o Ministro Geral me trouxe para este convento. Nunca fiquei tanto tempo longe do Brasil.<br />Fiz uma grande revisão deste tempo que vivo aqui, que foi para mim um grande retiro. Agora quero partilhar com vocês um pouco de tudo isto, pois uma das conquistas deste tempo é saber que para se viver verdadeiramente uma vocação é preciso fazer o caminho inverso do usual e ter a capacidade de partilhar a vida, e a vida é feita de vitórias e fracassos.<br />Eu muitas vezes na minha vida cristã celebrei a semana santa, como sacerdote eu presidi estas celebrações por onze vezes antes de vir para cá. Este ano eu presidi a semana santa com um novo sentimento: eu havia passado pela experiência de cruz, de morte, de traição como o Senhor, e agora tinha a possibilidade de entrar no mistério pascal de uma maneira mais decisiva. Aqui posso dizer o que foi fundamental na minha vida: tudo que me aconteceu me fez mais humano.<br />Quando eu aceitei o convite do Ministro Geral para vir para Itália, eu vim decidido a mudar de vida, e esta decisão foi o diferencial da minha existência. Creio que de tudo que passei, isto é somente o que importa, deixando de lado definitamente pessoas, lugares e circunstâncias que me fizeram sofrer.<br />Posso lhes dizer uma coisa surpreendente: quando penso na vida que tenho hoje e naquela de antes, sou grato a Deus por tudo que me aconteceu. Acho que em tantos anos de vida religiosa, nunca estive tão bem e sem ter que carregar um mundo de preocupações na minhas costas. Mas quero dizer, tentanto ajudar a todos que possam sofrer qualquer dificuldade: somente quando nos decidimos a aceitar a graça de Deus e mudar de vida, é que conseguimos fazer do nosso sofrimento uma ocasião de graça, de vitória e até de alegria. É este o meu olhar para tudo que me aconteceu.<br />Camposampiero ficará sempre na minha história como o lugar do meu renascimento: ficarão sempre as cicatrizes da morte, mas sem a dor da cruz. E por isto eu posso louvar o meu Senhor, que esteve comigo, até quando eu não percebi: "Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!" (Gn 28, 16)<br />Enfim, posso testemunhar que, uma pessoa sem uma experiência de sofrimento, de abandono e de morte (a tristeza profunda é uma certa morte), pode falar de cruz, mas somente a cruz vivida faz com que sejamos mais misericordiosos e mais próximos de Deus.<br />A todos a minha gratidão, pois a certeza que tudo isto me trouxe é que a minha vida não me pertence, e que tenho consciência que junto a mim estavam muitas outras pessoas sofrendo e rezando.<br />De Brasília me ficou a saudade. Não da cidade, mas de pessoas com quem compartilhei a vida, especialmente a minha família e muitos leigos, principalmente casais, que conheci nas pastorais. Para todos a bênção de Deus.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-89203502800970053902010-04-28T02:13:00.000-07:002010-04-28T02:14:01.350-07:00Tema da TesiNo nosso último encontro eu lhes falava da minha interrogação diante do falimento da instituição seminário: qual poderia ser a mudança substancial? Durante muito tempo, sobretudo tendo a graça de viver um pouco de tudo na minha vida, eu me perguntava para onde se deveria deslocar o eixo, o essencial, da formação seminarística, deixando de lado o eixo intelectual, que é aquele que domina hoje. A primeira conclusão é que este eixo deveria ser a espiritualidade, a bíblia ou a liturgia.<br />Num segundo momento eu vi que a liturgia é o mais englobante, pois ela contém a espiritualidade e a bíblia, além de que a espiritualidade sem a liturgia se torna algo egoísta e a bíblia sem a liturgia se torna facilmente instrumentalizada. <br />Chegando na faculdade eu comecei logo nos primeiros dias a buscar um orientador e gostei dos textos de um professor. Conversei com ele, Giorgio Bonaccorso, um monge de Santa Giustina que se interessou muito pelo tema e fez algumas indicações. Me dizia que não é a liturgia em geral que é formativa, mas é o rito. Ele trabalha com pedagogos na Universidade de Pádua e me dizia que hoje existe um consenso entre eles: a falta de rito está fazendo com que a família não consiga mais formar o filho, a escola não forma o aluno e a sociedade não forma o cidadão.<br />O tema do rito é hoje comum na psicologia, pedagogia, sociologia e antropopologia. Bonaccorso me fazia ver que o problema não é só no seminário, mas é o mesmo na vida consagrada, na catequese, na família e na sociedade.<br />A minha tese de mestrado buscará colocar a importância da revalorização do rito em prol da formação para a vida consagrada e sobretudo sacerdotal.<br />Até breve. Um abraço e bênçãos de Deus.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-10740680258593591622010-04-25T12:20:00.000-07:002010-04-25T12:25:08.101-07:00Mestrado em LiturgiaQuero partilhar com vocês a minha vida acadêmica. Voltar ao banco escolar depois de anos de distância não é uma tarefa fácil: sinto o cansaço desta tarefa, mas confesso-lhes que estou cheio de entusiamo com o meu curso. <br />O curso é um mestrado em liturgia com especialização em pastoral, na Abadia Beneditina de Santa Giustina. Na cidade de Pádua tem três mestrados: espiritualidade, liturgia e pastoral. Eu tenho aulas de segunda a quarta-feira, assim é pensado para facilitar a vida dos párocos que fazem o curso. <br />Quando ouvem que faço mestrado em liturgia, é comum que as pessoas me façam perguntas sobre celebrações, na verdade isto não é tema do meu mestrado. A faculdade de Santa Giustina se interessa pelo estudo do rito no seu aspecto antropológico e fenomenológico, daí que temos poucos cursos voltados para teologia da celebração.<br />Escolhi esta faculdade porque vinha em resposta a uma reflexão que faço há alguns anos e agora muito mais: existe um consenso no mundo eclesial que o problema da atual formação para o presbiterato e vida religiosa está numa fase anterior – na falta de formação humana e cristã. Eu concordo com isto, mas sempre mais tenho a impressão que o seminário (ou casa de formação) não consegue formar o ser humano, o cristão ou o consagrado. Fundamentalmente, penso que o seminário, como pensado pelo Concílio de Trento, já cumpriu seu papel e não tem muito mais a oferecer à Igreja de hoje, os frutos destes seminário pipocam no mundo atual.<br />Me explico de modo melhor: sou convicto que o equívoco do seminário nos moldes de Trento está no fazer o eixo formativo recair sobre a formação intelectual. Ora, o intelecto não forma a pessoa, que é conduzida sobretudo pela vontade. A partir de tal percepção eu sempre me perguntei qual deveria ser o eixo formativo do seminário. É a esta pergunta que buscarei responder com a tese de mestrado.<br />Nos vemos depois. Na ocasião iremos aprofundar sobre o que propriamente irei tratar na minha tese.<br />Boa semana e fiquem com Deus.<br />PS.: Irei postar sempre algo no domingo e na quarta-feira.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-21982041895167710772010-04-21T02:05:00.000-07:002010-04-21T02:06:19.653-07:00Primeira experiência de Semana SantaPaz e Bem!<br />Tenho tido uma vida muito cheia de atividades. Confesso que depois de anos de correria, já aprendido a gostar da quietude que vivi nos meus 9 primeiros meses em Camposampiero. Como lhes falei anteriormente, no mesmo período eu tive que assumir atividades pastorais aqui no santuário e começar o mestrado em liturgia na Abadia de Santa Justina em Pádua.<br />A minha semana santa foi intensa de confissões. O meu convento é a penitenciaria (lugar de confissões) da diocese de Treviso. Temos sempre pessoas que vêm se confessar aqui, e por isto temos uma escala periodica de atendimentos, eu estou no confessionário duas na quinta-feira e duas na sexta, ao passo que os confessores ordinários estão todos os dias. Eu, como sabem, estou aqui sobretudo para estudar.<br />Na semana santa trabalhamos em multirão, porque era uma multidão de pecadores. Estive no confessionário de domingo de ramos a sábado santo, das 9h as 19h, exceto quando tive que sair para celebrar fora. Eu celebrei em geral na casa de repouso de Camposampiero, exceto na quinta-feira santa que celebrei numa casa de deficientes mentais.<br />O contato com as pessoas no confessionário, mais que o altar, permite de conhecer melhor o pessoal, a cultura e a prática religiosa.<br />Na próxima vez falarei dos meus estudos. Grande abraço e fiquem com Deus!<br />Frei João de AraújoFrei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-57658950326961643422010-02-21T13:10:00.001-08:002010-02-22T04:11:31.096-08:00Relíquias do Santo e algo maisHoje quero dividir com vocês uma experiência linda que vivemos aqui na Itália nestes dias. Desde o ano 2008 os ossos de Santo Antônio, aqui chamado somente de O Santo, foram colocados num lugar provisório da Basílica de Pádua, para que fosse restaurada a Arca do Santo, uma linda capela da Basílica. Nestes dias, de segunda-feira até ontem, as relíquias foram tiradas do túmulo provisório e expostas para a veneração pública num caixão de cristal. Aqui veio a grande surpresa: na segunda-feira eram 15 mil fiéis nafila, na terça 23 mil, na sexta eram 47 mil. Os frades pediram ao Vaticano para prolongar a veneração por mais uma semana, mas não foi concedido. Na sexta a fila ja tinha 5 km e as pessoas estavam debaixo de chuva ou neve, com fé e devoção. Minha gente, este é Santo Antônio. Não precisa dizer mais nada. Estive concelebrando na Basília na quarta-feira de cinzas e ontem eu fui para a bela cerimônia de encerramento e lacre do corpo na arca restaurada. Pedi meu documento de participação, pois esta é a quarta vez que as relíquias são expostas em 800 anos. Vivi coisas belas nestes dias de ministério sacerdotal: celebrei ontem em Fossalta, por primeira vez preguei em italiano, e sinto que consigo dizer o que quero. Hoje cebrelei na casa de repouso (idosos), uma missa linda, diante de mim idosos em cadeiras de rodas. Depois da missa fiquei com eles por uma hora, fazendo pouca coisa, como tocá-los, abençoá-los, dar um sorriso, e ver a alegria deles com o pouco. A tarde comecei a pregar o retiro em Scorzè, estarei là todos os domingos da quaresma e na semana santa. Hoje introduzi com as tentaçõe de Jesus e pretendo percorrer o tema da vida humana de Jesus. A razão do tema é porque, sempre quando falo para a pessoas que Jesus foi tentado e venceu, a reposta que ouço é: "Mas Ele é Deus!", assim irei buscar mostrar que a tentação é justamente para mostrar-nos a humanidade de Jesus. Ok. Terei uma dura semana: estudos e ministério sacerdotal. Cansaço e felidade. Muito obrigado pelas mensagens de retorno sobre o blog - no blog, no e-mail ou no orkut. Elas servem como um reforço para continuar escrevendo. Colocarei também as homilias. Conservo-lhes no meu coração.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-36093507150124604952010-02-14T11:53:00.000-08:002010-02-18T13:25:13.372-08:00Novo norte em minha vidaPaz e Bem!<br />Quero usar este espaço para dividir com vocês algumas coisas boas que aconteceram na minha vida nestes dias, por decisão do Ministro Geral da Ordem e que me alegraram muito.<br />1. Desde a ordenação eu sempre acalentei o desejo de estudar liturgia em Pádua, mas nunca tinha a oportunidade. No último sábado eu recebi a proposta de estudar lá. A proposta me foi apresentada pelo P. Giulio, em nome do Geral. Eu já me inscrevi e estarei começando o <strong>mestrado em teologia, com especialização em pastoral da liturgia</strong>. Este curso é tido como o mais sério, entre os três mestrados que temos em Pádua.<br />A diferença funcamental entre o mestrado de Roma e este, é que em Pádua o curso é pastoral e não arqueológico.<br />Estou muito feliz. Irei ter aulas na segunda a tarde e terça e quarta durante todo o dia. Terei que me esforçar muito com línguas, mas em suma, nada disto tem me preocupado.<br />2. O Ministro Geral me deixou continuar nesta <strong>comunidade de Camposampiero</strong>. Aqui não juridicamente inserido na comunidade, mas sou tratado com um da casa, participarei até dos capítulos conventuais. <br />3. O Ministro Geral também me devolveu a graça do <strong>uso das ordens sacerdotais</strong>. A partir de quarta-feira de cinzas estarei empenhado, à medida do possibilidade que me deixa o mestrado, nas celebrações, pregações e confissões dos nossos santuários e nas comunidades vizinhas. Começarei por pregar um quaresmal em Scorzè.<br />Rezem por mim. A cada dia me vem mais forte a sensação que <strong>há males que vem para bem</strong>. E enfim, tudo é graça.<br />Grande abraço e fiquem com Deus.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-37235751159513693412009-12-27T01:15:00.000-08:002009-12-27T01:19:48.672-08:00TUTTO CONCORRE AL BENE DI COLORO CHE AMANO DIO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikSgVcTN9KSst-V-sY1owf-9wLd5ZNvngY3rijhj_DMTcOJ9qRdHto7gyMXdeBl_S7FY2Jprzc9xmfNIpCI_68ZUXVdjUZAUFUEqPP4-pEYnQJVC0F1B6MGRo3cg8OP8RzB3Ibt7Abg6Sh/s1600-h/bose-monastero%5B1%5D.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 219px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikSgVcTN9KSst-V-sY1owf-9wLd5ZNvngY3rijhj_DMTcOJ9qRdHto7gyMXdeBl_S7FY2Jprzc9xmfNIpCI_68ZUXVdjUZAUFUEqPP4-pEYnQJVC0F1B6MGRo3cg8OP8RzB3Ibt7Abg6Sh/s320/bose-monastero%5B1%5D.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5419843107408006626" /></a><br />Estava distante estes dias, esta foi uma razão do meu silêncio.<br />Nestes dias eu tive a graça de fazer aquele que considero o melhor retiro da minha vida (até hoje, naturalmente). Sozinho, longe de todos e de tudo, sem a preocupação com preparar retiro para os outros, abandonado na Palavra de Deus.<br />Quando ainda estava em Brasília, tivemos um retiro que foi animado pelo Frei Agostino Gardin, pessoa que me foi sempre vizinha, e muito mais desde quando aqui cheguei. Naquele retiro ele citou muitas vezes um tal Enzo Bianchi, até aquele momento desconhecido para mim. Fiquei sempre profundamente impressionado com a sua afirmação sobre o perigo da falta de fé no “homem religioso”, e usei este testo mil vezes para pregar retiro para outras pessoas. <br />Quando Deus me deu a graça de uma profunda crise que me abalou naquilo que eu mais acreditava (vida fraterna), eu comecei a escutar muito aquilo que pregava para os outros. Naquele momento o discuso da falta de fé me veio aos ouvidos como uma grande auto-crítica. Foi neste momento que repensei a minha vida já “repensada” e resolvi pedir ao Ministro Geral que me enviasse a qualquer lugar. Bom, vocês sabem onde vim parar, e não canso de afirmar que este tem sido o momento da graça do Senhor na minha vida.<br />Desde quando cheguei aqui eu tenho escutado Enzo Bianchi, tenho no meu computador todas as conferências que ele prega em Bose, e quando trabalho ou faço esportes eu o escuto no MP3. Penso que é uma graça de Deus quando se encontra alguém que se torna um pai espiritual, e eu encontrei. Adquiri sempre mais uma profunda identificação com o pensar deste homem. Eu dei crédito a ele, primeiramente porque Gardin me indicou, eu eu tenho grande apresso e admiração por este, e hoje tenho também por Bianchi.<br />Quem é Enzo Bianchi? Aqui na Itália eu penso que é a personalidade eclesial mais escutada. É um leigo, e cada vez mais me vai confirmado que são estes que chamam a Igreja a conversão. Hoje ele tem 64 anos, mas na sua juventude era já um “buscador de Deus”. Filho de pai ateu, ele foi desde menino educado pela mãe para ter uma vida de união com Deus. Fez a faculdade de economia no meio dos professores ateus do seu tempo, mas sempre manteve viva a sede de Deus. Daí que saiu pelo mundo buscando conhecer as diversas religiões, sem nunca colocar em dúvida a sua própria. Nele se encontra uma rara sintese de homem de cultura e homem de fé. <br />Um dia ele foi ajudar um amigo a restaurar a Igreja de São Segundo, em Bose. Ali encontrou uma vila abandonada, e resolveu ficar e fazer um caminho de seguinto de Jesus, valorizando sobretudo a Palavra de Deus. Três anos depois vieram duas pessoas pedindo para viver com ele a mesma experiência: uma jovem católica italiana e um pastor protestante sueco. Nasce assim a comunidade mista e ecumênica de Bose.<br />Depois de quarenta anos, Bose tem 70 monges. Uma comunidade ecumênica de homens e mulheres, católicos e outros cristãos. A grande força daquela comunidade é a Palavra de Deus. Com Enzo nestes meus 7 meses em Camposampiero, e sobretudo nestes dias de retiro, eu aprendi a revalorizar a Palavra de Deus, e sobretudo a fazer uma lectio divina, que indico para todos como único caminho possivel de conversão e de espiritualidade.<br />Escolhi ir para Bose, local onde pretendo voltar algumas vezes, quando não havia um retiro para um grupo. Ali fiquei de domingo a domingo. Quis estar só, participei das orações da comunidade, escutei um retiro pregado por Enzo sobre as parabolas de Jesus em Lucas, fiquei só diante do Senhor rezando com a Palavra de Deus (Lectio Divina), participei da Lectio da comunidade e tive encontros pessoais com Enzo Bianchi (isto foi um milagre). Primeira vez o encontrei, um homem muito interessante, que mais que dar respostas, ele tem a capacidade de escutar o outro com atenção e sem se impacientar. Ao final com poucas palavras, em geral usando a Palavra de Deus, ele resume o que pensa. Para mim disse: “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus!” (Rm 8). Amém! É verdade, posso dizer isto com toda força do meu coração.<br />Hoje está difícil resumir, mas me forçarei a terminar assim: no Brasil eu aprendi a ter grande admiração pelas comunidades laicais, isto eu ja disse antes. A comunidade de Bose me colocou novamente diante da realidade de leigos que se amam e querem viver o Evangelho, e me chamou ainda mais a atenção por ser ecumênica, mista, fundada na Palavra de Deus, nos Santos dos primeiros séculos (Padres da Igreja) e nas Regras da vida religiosas do oriente e do ocidente, entre elas São Francisco e Santa Clara. É uma realidade que vale a pena conhecer: cativante e desafiadora (http://www.monasterodibose.it).<br />Um abraço, ainda com votos de Feliz Natal e um ano novo cheio de Deus.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-88284445327178979622009-11-16T00:13:00.000-08:002009-11-16T00:15:03.241-08:00A ESPIRITUALIDADE COMO RELAÇÃOUma verdadeira <strong>espiritualidade nos conduz à dimensão comunitária</strong>. Este foi o percurso natural de todas as espiritualidades: até mesmo aqueles que se decidiram por viver no deserto, eram cheios de uma abertura para o outro.<br />O ser humano é um ser feito para a relação. Não somos e não podemos ser mônadas, isoladas em si mesmas, mas somos feitos para nos abrirmos ao outro. E isto se deve a algumas motivações:<br />• <strong>No plano Trinitário</strong>: a grandeza da nossa fé, a singularidade da fé cristã, não é tanto a afirmação do monoteísmo, se pensarmos bem esta é a fé dos muçulmanos e dos judeus também. Até a filosofia, com um esforço profundamente humano, já tinha chegado à afirmação de um só deus. A singularidade da fé cristã é afirmar que existe um Deus-Comunidade. Um Deus que é ser-para–o-outro. Não existe como ser discípulo deste Deus, se não se afirma a dimensão comunitária da vida.<br />• <strong>No plano cosmógico</strong>: toda a criação tem em si uma lei de interdependência. Nós só vivemos na convivência. O ser humano é tão dependente do outro, que mesmo Adão tendo sido criado depois da criação de tantos outros elementos, ainda se queixava da solidão.<br />• <strong>No plano humano</strong>: nós dependemos do outro para viver em plenitude todas as nossas dimensões: física, psíquica e espiritual. Não é possível viver e amadurecer prescindindo da convivência com o outro. O outro me faz crescer.<br />Sejamos honestos: tantas vezes a nossa tentação é reconhecer como Sartre que o outro é meu inferno. Mas se nos deixarmos libertar das armadilhas do nosso “eu” sempre tendencioso, chegaremos a ver que o outro, ainda que seja o meu inimigo mais perverso, merece agradecimento. Quem mais nos ajuda a crescer é justamente o outro, e muito mais se este se torna nosso algoz, porque nos ensina a ser muito mais críticos, prudentes e capazes de nos avaliarmos tal como somos, e não pelos exageros daquilo que pensam de nós, de bem ou de mal.<br />Diante das dificuldades da vida de cada um de nós, a fuga para um isolamento se torna fácil. Sem dúvida que o <strong>suportar a solidão consigo mesmo, faz parte de uma pessoa madura, mas de todo modo o outro é uma graça na nossa vida</strong>, independentemente de como ele seja, poderá sempre nos trazer algo de bom. Basta a capacidade de saber distinguir o que posso aproveitar do encontro com cada pessoa, e discernir isto é ESPIRITUALIDADE.<br />Até mais! Fiquem com Deus.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-49001499724282149262009-11-06T12:09:00.000-08:002009-11-06T12:13:26.912-08:00FRANCISCO DE ASSIS – O IRMÃO MENOREstou fazendo neste tempo a releitura das fontes franciscanas, agora na sua edição italiana mais nova. Tenho lido também os livros de alguns franciscanólogos. Tem sido uma bela redescoberta da figura de Francisco de Assis.<br />Francisco é exemplo vivo daquele ser com o <strong>coração aberto a Deus e plasmado do Seu Espírito</strong>. A sua experiência parte do encontro com o Crucifixo-Ressuscitado, que o levará depois a ser ele mesmo “crucificado”, e por isto “homem aberto”, que encontra o outro como um irmão, menor, até alcançar “o outro de todo outro” que é o mistério da irmã Morte. <br />Tudo iniciou com o leproso e ele mesmo fala no seu Testamento: <em>“O Senhor deu a mim, Frei Francisco, de começar a fazer penitência assim: quando estava nos pecados me parecia coisa muito amarga ver os leprosos, e o Senhor mesmo me conduziu entre eles e usei com eles misericórdia. E distanciando-me deles, o que me parecia amargo me foi transformado em doçura da alma e do corpo”</em> (Tradução a partir do texto italiano). O contraste “amargo-doce” marca este encontro que determinou uma mudança interior radical, uma verdadeira e própria conversão, que se repercutirá não só sobre sua relação com Deus, mas também sobre sua visão do homem e do universo. <br />Nas narrações mais ricas de Tomás de Celano e Boaventura existe um contraste entre um <strong>“antes”</strong> de horror e repugnância, e um <strong>“depois”</strong> falando assim do beijo com o qual Francisco marca o encontro com o leproso, expressão forte de comunhão e amor, de fraternidade profunda.<br />Eis agora que a dificuldade de Francisco de se avizinhar da diversidade assim tão fortemente diferente, se transforma, à luz do Cristo, em <strong>capacidade de encontrar e fazer comunhão</strong>. Em um momento de <strong>“estado de inquietude espiritual”, </strong>como o define Manselli – um dos seus maiores estudiosos -, Francisco encontra o Crucificado na pequena igrejinha de São Damião, fora de Assis. O Cristo sofredor se torna para Francisco “espaço de encontro”, confirmando o precedente episódio do leproso. Reconhecendo em Cristo o rosto de Deus, ele acolhe o convite a reconhecer no último e mais desfigurado homem o próprio rosto de Cristo, e ele olha com os olhos que entrevê, mesmo se não ainda completamente, o mistério que é este Deus, mistério que fala, que envolve, que move e co-move fora de si. É esta consciência que o impulsiona a escolher a marginalidade como estilo de vida; esta posição entre os homens e no mundo lhe permite de se tornar homem ecumênico e, portanto homem do encontro, irmão menor. <br /><strong>Depois do abraço ao leproso e da palavra do Crucificado em São Damião, em Francisco acontece uma mudança interior profunda, mas também de horizontes</strong>, que o portará ao Alverne e a receber o amoroso sinal dos estigmas. Se pode dizer que passou do centro do mundo, cento do seu mundo que era Assis, às margens do mundo, fazendo desta margens a sua ecumene, ou seja, o seu mundo, a sua casa, que é também a casa de todos os outros, os diferentes dele. <br /><strong>Ele morreu como viveu</strong>, isto é, indo sempre ao encontro ao outro, pobremente, armado somente da sua única certeza: o seu Senhor crucificado-ressuscitado que resolve em si até as contradições, até a Morte. A presença de Francisco no horizonte da história assinala, portanto, um momento de graça e uma exultante experiência de diálogo universal e fecundo. <br /><strong>Penso que o lugar certo, o lugar franciscano, ou seja, onde o franciscano pode encontrar Deus, é o leproso e o Crucificado.</strong> É ai que Francisco se encontrou com o seu Senhor, com a sua fé, e seguramente consigo mesmo e os outros. <br />Um abraço. Vamos em frente!Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-76095261467127246542009-10-05T00:18:00.000-07:002009-10-05T00:20:52.544-07:00Francisco de Assis: plenamente humanoNestes dias estamos comemorando o Pobrezinho de Assis, <strong>uma pessoa tão reconciliada consigo mesmo, com Deus e com as criaturas </strong>que acaba por extrapolar os confins do mundo católico, para ser atrativo a outros cristãos e a outras pessoas.<br />Gosto sempre de recordar como fiquei impressionado quando visitei Assis pela primeira fez. Era o ano 1996 e eu fiquei estupefato com o grande número de budistas que estavam em oração silenciosa na tumba de Francisco. Enquanto os cristãos faziam barulho nas basílicas superiores, eles estavam lá, não para encontrar-se com a arte, mas para se encontrarem com Francisco.<br />Depois, ao longo dos anos, eu fui me deixando atrair sempre mais por esta figura. Primeiramente, foi lendo os Fioretti que fiquei encantado por Francisco, a ponto de pedir para entrar no postulantado do Jardim da Imaculada. Depois, sobretudo a formação do noviciado, me moveram para aceitar plenamente este homem e sua espiritualidade. Acredito que a isto eu devo ter suportado uma série de coisas.<br />É interessante porque quando se lê as biografias medievais, elas tendem a fazer uma imagem do santo tão angelical que acabam produzindo no leitor o sentimento de que é impossível chegar a ser assim. Devemos reconhecer que esta tendência está presente na hagiografia de Francisco, mas ao mesmo tempo deixa escapar um Francisco muito humano, simpático, dócil, terno e vigoroso. <strong>Francisco é um santo simpático</strong>, não é como alguns que nos provocam uma distância quando queremos conhecer a sua vida.<br />A sua grandeza nos coloca diante do imenso desafio que é atualizar o seu carisma no m<strong>undo de hoje.</strong> Na verdade penso que diante de pessoas grandes tendemos somente a repetir os gestos e formas, pois é muito difícil conseguirmos entender o essencial da sua vida. Aqui está o desafio, sempre mais instigante, para os filhos de Francisco: <strong>fazer com que a nossa vida transpareça o carisma de Francisco, sem aprisionar este carisma, que pode e deve ser vivido fora das instituições franciscanas</strong>.<br />Se pensarmos nos grandes desafios da modernidade: <strong>ecumenismo, diálogo, ecologia, justiça, paz</strong>, etc, e nos eternos sonhos da humanidade: <strong>encontro com Deus, auto-reconciliação, fraternidade</strong>, etc, veremos que no Irmão de Assis encontraremos uma resposta, uma direção a ser seguida, e que após tantos séculos permanece valida para nós hoje.<br />Que o Santo de Assis e do mundo todo nos ajude na vocação comum de seguir o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-70744507095693134412009-09-28T09:40:00.000-07:002009-09-28T09:43:16.969-07:00Que coisa é a fé?Tem algumas perguntas na vida que são tão complexas que dão a impressão que vale tudo como resposta, ao mesmo tempo que não vale nada. Parece que diante destas perguntas <strong>nós não conseguimos verbalizar claramente </strong>que coisa é esta sobre a qual queremos discursar.<br />Veja, se nos perguntarmos quem é Deus, podemos dar milhões de respostas. Na verdade a tentação mais comum será dar aquela resposta que aprendemos no catecismo. Uma resposta útil para educar na fé, mas penso que a maturidade, os anos que passam, deve nos permitir forjar <strong>uma resposta experiencial</strong>. Mas esta resposta, já por ser experiencial, em geral, não pode ser facilmente verbalizada. Basta pensar que os místicos não conseguem transmitir com palavras a experiência de encontro que tiveram com Deus. Assim, penso que Deus, em certo sentido, só pode ser experienciado e conhecido pelo encontro de fé. Com isto logo se coloca um problema colateral: para que estudar teologia? Ora, a teologia nos coloca diante de um mistério (Deus) e diante de um grande risco: pensarmos em conhecer Deus somente pelos livros, sem uma experiência vital, quando assim o fazemos, e é algo comum, Ele é facilmente instrumentalizado para estar a nosso serviço.<br />Ao dizer que a fé é o caminho para conhecer Deus, parece que já definimos muita coisa, mas é pura ilusão pensar assim. Se pedirmos a um enamorado que defina a pessoa amada e o sentimento que os liga, ele terá um grande problema, pois ao mesmo tempo que tem certeza sobre o que sente, não conseguirá com palavras dizer tudo o que sente. Isto é o que acontece quando tentamos falar sobre Deus e sobre fé. <strong>São entes sobre os quais nós balbuciamos e não falamos.</strong><br /><strong>A fé, não como definição dogmática, mas como encontro de amor, é o eixo que conduz a história da salvação.</strong> De certo que ela não tem um valor em si, é uma via para ser percorrida neste vale de lágrimas, e que um dia será substituída pela visão. <br /><strong>O encontro com Deus não é fácil.</strong> Quase sempre ele passa pela cruz, pela rejeição, pelo silêncio de Deus, pelo desprezo. Um místico chamado Thomas Merton, vai dizer que se pensarmos que encontramos Deus numa via de facilidade, podemos ter certeza que encontramos tudo, menos Deus. Neste sentido é preocupante que é sempre mais presente a tendência de fazer da espiritualidade uma psicologia ou uma experiência de prazer pessoal, onde se conclui, pelo choro ou outro sentimento, que me encontrei com Deus, mas isto não é verdadeiro.<br />Por cultura, creio que nós latinos <strong>tendemos a confundir fé com sentimento</strong>: se nos emocionamos diante do Sagrado ou se vemos alguém se emocionar, logo concluímos que houve uma experiência de fé. Aqui na Europa o risco é da intelectualização da experiência de Deus, se há planejamento e racionalidade, Deus foi encontrado. Contudo, a fé passa por tudo isto, mas a fé não é isto: não é sentimento só, não é razão só, não é só corpo, não se reduz ao espírito e não se condensa na alma. Ainda mais: a fé não é só a devoção, não é o ter dons diversos, não é o falar bem das coisas sagradas e nem sequer é um estado de vocação na Igreja. <strong>A fé, como experiência de abandono total em Deus, deve se apropriar de tudo que somos e temos, só a partir daí que vamos deixando-nos morrer, para que Ele viva em nós.</strong><br />Esta é uma tarefa difícil, pois facilmente a força do nosso eu é tão grande que substituímos Deus por nós mesmos e pensamos que O encontramos. Contudo esta é uma tarefa para toda a vida e a tarefa mais bela da nossa vida: o encontro com o totalmente Outro, que de algum modo já está no que há de mais profundo de nós. Sem este encontro nós não nos tornamos nem humanos nem divinos. <strong>Sem este encontro nós não somos pessoas e não nos encontramos com a nossa identidade mais íntima. A vida sem fé é sem sabor, sem sentido e extremamente fugaz.</strong><br />Um abraço grande. Fiquem com Deus e que Ele lhes abençoe!Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-20046083528646696462009-09-18T07:46:00.000-07:002009-09-18T07:56:33.331-07:00A fé: uma questão fundamental<em>Queridos, Paz e bem! Antes de tudo perdão pelo atraso em colocar textos. Aqui pra frente serão colocados com pontualidade. Estávamos no verão, e entre saídas e chegadas, eu não tive como atualizar o blog. Abraços.</em><br /><br />Quando se estuda teologia, tem uma disciplina chamada <strong>teologia fundamental </strong>onde se reflete sobre a fé. O nome da disciplina é este porque ela se confronta com temas importantes que permeiam todas as outras disciplinas (se querem um nome antigo, tratados), e porque ela trata de temas que são preliminares ao estudo da teologia. <br />Recordando-me nestes dias do tempo que lecionei introdução à teologia, eu pensava um paralelo para poder compreender a espiritualidade: <strong>a fé é o seu fundamento</strong>. Mas também a fé é algo que cresce com a própria espiritualidade. Fé é um dom, mas também uma responsabilidade pessoal diante do sagrado.<br />Quando nós pensamos em nós mesmos ou se perguntamos a outros se têm fé, logo vem, quase sempre automaticamente, uma resposta afirmativa. Recordo-me da pergunta do Senhor Jesus: <strong>“Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?”. </strong>Tenho a impressão que a facilidade com a qual nós afirmamos a fé destoa da pergunta de Jesus, pois Ele parece “descrer” que encontrará um mundo cheio de fiéis. Reconhecer, até com muita dor, que não somos pessoas de fé, é o primeiro passo para começar a tê-la.<br />No mês de julho eu participei de um retiro com um sacerdote de 97 anos, Arturo Paoli (http://pt.wikipedia.org/wiki/Arturo_Paoli), um homem de uma lucidez, atualidade e força que destoam daquilo que se pode pensar de alguém desta idade. Um homem que teve uma história de vida luminosa em nível de igreja, até os 47 anos, e depois de uma enorme perseguição por parte de seus pares aqui na Itália, ele pediu a Paulo VI para ir para América Latina, viveu inclusive no Brasil. Na viagem de ida ele conheceu um irmão da congregação de Charles de Foucauld e pediu para entrar na congregação. Depois de um sim do superior geral, ele foi rejeitado pelo formador e por fim admitido. Foi viver no deserto durante anos e naquela experiência, sem o poder, sem as luzes, sem o palco, sem os alunos, ele percebeu que não tinha fé. Ele nos dizia que era a experiência mais desoladora do mundo, algo semelhante a uma depressão, mas muito pior. <br />Ele percebeu que ele não tinha uma fé, mas confiava nas suas qualidades, no seu talento, no seu poder, ou seja, em si mesmo. Somente depois de um episódio no deserto, é que Ele começou a perceber o essencial e encontrou consolo: <strong>não sou eu que busco Deus, é Ele que está me buscando!</strong><br />Olha, devo-lhes dizer que a minha experiência pessoal de vida foi muito semelhante. Eu pensava ter fé quando era o centro das atenções, quando tinha poder, contava com palco e auditório, suposto amor e respeito. Quando eu perdi tudo isto, e algo mais, que foi a proximidade dos irmãos, aos poucos eu fui decidindo de deixar tudo, inclusive Deus. Para explicar: a experiência de doença e morte coloca muitas pessoas no ponto crucial da fé, mas isto é ainda pior quando se passa pela experiência da “própria morte” em vida. <strong>Desta experiência eu fui para uma fuga de Deus, um vazio, a constatação de que não tinha fé, o desejo de Deus, uma busca e um encontro, que de algum modo Camposampiero foi o deserto que eu precisava.</strong><br />Contar estas duas histórias, de dois ministros da Igreja, somente serve para nos ajudar a colocarmo-nos diante da questão de Jesus: <strong>o Filho do Homem encontrará fé em mim?</strong>Sugiro que pense sobre isto. Mas coloque-se também a questão anterior a esta: o que é fé?<br />Até a próxima, daqui a uma semana. Abraços e bênçãos!Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-75330397034742259732009-08-06T02:59:00.000-07:002009-08-06T05:08:15.404-07:00Encontro com o Senhor – Valor da Palavra de DeusPaz e Bem!<br />Nos últimos tempos eu tenho me colocado com seriedade a pergunta sobre o que é <strong>essencial na espiritualidade</strong>. Há um tempo atrás, depois do Sínodo sobre a <strong>Vida Consagrada, foi publicada a Exortação Apóstolica Vita Consecrata, pelo Papa João Paulo II.</strong> Ao longo do texto ela diz que o essencial, o característico da vida consagrada é a <strong>confissão da Trindade, o sinal da fraternidade o serviço da caridade</strong>. Contudo, devemos reconhecer que isto não é peculiaridade da vida consagrada, mas o ideal da vida de qualquer pessoa.<br />Quando falo de espiritualidade, não penso que ela seja apenas um elo que me liga a Deus, mas <strong>algo que dá sabor a toda a existência</strong>. Podemos pensar que um sorvete sem sabor se torna apenas um punhado de gelo, assim é a vida sem espiritualidade: podemos fazer tudo, mas não tem sabor. Torna-se como o sal sem gosto ou a luz que não ilumina. Ou seja, a espiritualidade dá sentido a tudo aquilo que somos e que temos; dá um norte ao nosso pensar e ao nosso querer; dá uma unicidade à nossa mente, coração, psique e corpo.<br /><strong>Sem espiritualidade não é possível construir uma relação com Deus, uma fraternidade ou uma vida apostólica</strong>, seria uma ilusão. E aqui está justamente o risco da pessoa que se julga de fé: se afadigar por outros valores, justificando sempre que está trabalhando por Deus. Daí que devemos ter sempre um modo de como acrisolar, purificar, medir a nossa verdadeira opção por Deus.<br />Acredito que temos dois modos de evitar este perigo: <strong>a direção espiritual</strong>, que não entendo necessariamente como diálogo com um sacerdote, mas como partilha de vida com alguém de espírito, e que para isto não basta a confissão; contudo tem um meio que acredito ainda mais: <strong>a Lectio Divina </strong>– leitura orante da Palavra de Deus. <br />A Palavra de Deus, diferentemente dos sacramentos, é acessível a todos. Os sacramentos sem a Palavra se tornam idolatria, pois não encontram um terreno fértil em nós. A leitura da Palavra dá a oportunidade de se escutar, de falar com o Senhor e, o mais difícil, de escutar o Senhor. Em outras palavras: é oração – fundamento de uma verdadeira espiritualidade.<br />A vocação de Francisco de Assis, para citar um santo entre muitos, começa justamente com o encontro com a Palavra e é esta palavra que vai dando sentido à vida de Francisco: <em>“É isto que eu quero, isso que procuro, é isso que desejo fazer de todo o coração.”</em><br />Entre outros sites sobre lectio divina, eu encontrei este do qual gostei mais: <a href="http://antoniosilvio.tripod.com/LECTIO/LDPT.HTM">http://antoniosilvio.tripod.com/LECTIO/LDPT.HTM</a><br />Um abraço e bênçãos para todos.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-43812973032113089032009-07-31T01:28:00.000-07:002009-07-31T14:03:16.608-07:00Uma palavra sobre espiritualidadeOla, Caríssimos,<br />Paz e Bem!<br />Hoje é o dia de <strong>Santo Inácio de Loyola</strong>, um dos grandes fundadores da vida consagrada e um pai da espiritualidade moderna. Escolhi este dia, o último do mês de julho, para dar um novo enfoque a este blog, que até agora era uma partilha da minha vida e a partir de agora buscará somar algumas reflexões mais pontuais.<br />A igreja, ao longo dos seus dois mil anos, acumulou diversas formas de espiritualidade que, nascidas na vida consagrada, transbordaram para o mundo dos leigos, e em um lugar e outro produziram frutos fecundos. Se pensarmos na história iremos nos reportar à espiritualidade <strong>monástica</strong>, à <strong>mendicante </strong>– entre elas a franciscana, e a espiritualidade <strong>inaciana</strong>. A colaboração de cada uma pode ser sintetizada assim: a espiritualidade monástica colocou o elemento do <strong>“só Deus”</strong>, para isto ajudava a fuga do mundo; os mendicantes acrescentaram elementos como <strong>fraternidade, pobreza, castidade e obediência</strong>, e a espiritualidade inaciana acrescentou os tempos de <strong>retiro e métodos</strong>.<br /><strong>A espiritualidade Franciscana é mais do que a espiritualidade de Francisco</strong>, é a espiritualidade de uma família na qual Francisco está presente como membro, como pai e como irmão. Esta forma de espiritualidade foi sempre avessa ao método, no sentido inaciano. Pessoalmente, como era de se esperar eu sou um apaixonado por esta forma de espiritualidade, sem, no entanto, deixar de reconhecer o valor de outras formas de espiritualidade para outras pessoas. Penso que aqui está o segredo: <em>de absoluto nós temos poucas coisas que devem ser uniformes entre todos, a maioria da coisas pelas quais brigamos para uniformizar, podem e devem ser diferentes – mostram a força criativa do Espírito de Deus</em>.<br />Acredito que existem elementos, como aqueles antes apresentados, que podem e devem ser assimilados por toda pessoa que quer ser de “espírito”: não há como pensar a espiritualidade sem um saber distanciar-se do mundo para buscar a Deus (o modo como entendemos este distanciar-se, deve variar); não há como pensar uma intimidade com Deus sem uma vida de fraternidade e de conselhos evangélicos (estes não são propriedades dos consagrados – ainda bem!!!) e não há como pensar em um progresso na vida espiritual sem reservar tempos fortes para o Senhor e uma certa metodologia de encontro.<br />Tenho tido a impressão que o desejo de encontrar uma certa segurança conceitual tem marcado muito a nossa época, daí a busca de projetos, métodos e formas de mensurar o crescimento e estabelecer metas. Por isto a força que na nossa modernidade têm as formas de espiritualidade ligadas aos jesuítas, como por exemplo a Renovação Carismática. Sem menosprezar o seu valor como espiritualidade, mas desejando provocar uma reflexão, manifesto a minha impressão de tantos anos: <strong>nós franciscanos não estamos conseguindo apresentar Francisco ao mundo de hoje</strong>, pois se o fizéssemos ele atrairia de um modo espetacular, pois o Irmão de Assis é um figura humana e cristã extraordinária, que responde aos anseios do ser humano de hoje.<br />Cansei de ouvir pessoas fazerem um pérfido comentário: <strong>“Francisco, sim; mas as ordens franciscanas, não!”</strong> Talvez, mas do que as nossas preocupações de salvar as instituições, devemos pensar em saber apresentar o carisma, a pessoa de Francisco para o mundo de hoje, pois ele não pertence aos “franciscanos” mais vai mais além das ordens e do mundo cristão. <br />Vivemos um momento de uma significativa diminuição numérica dos membros das ordens franciscanas que parecem realizar o desejo de Francisco expresso em Celano: <em>“Oh! Se fosse possível que o mundo só visse os frades raramente e se admirasse de serem tão poucos!”</em> (70b). É este o momento ideal para percebermos que as ordens religiosas, mais que a Igreja, são transitórias, o que importa é o carisma de Francisco: <strong>é mais significativo um carisma sem ordens, do que ordens sem carisma</strong>. A salvação numérica os institutos passa pela volta ao carisma do fundador, ao qual nós franciscanos e franciscanos somos chamados sempre de novo.<br />Um abraço, cheio de ternura e bênçãos.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6389825576527224503.post-58002243207627322582009-07-21T08:51:00.000-07:002009-07-21T09:00:39.442-07:00Sono guarito!!!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm8Wolt2U58T_XNQyEQX2E9aH21s2veWFoNB5pbI7K6HEqZtNH3tX-zVFBCnSiqKFtERd-bjEv-SripJ6KLqTCus8QzLu_FeLPv4W_y9Xfr_TAQAMuW0YgRJ_OG01vIMA10DL8vU6RpAXs/s1600-h/IMG_4264.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm8Wolt2U58T_XNQyEQX2E9aH21s2veWFoNB5pbI7K6HEqZtNH3tX-zVFBCnSiqKFtERd-bjEv-SripJ6KLqTCus8QzLu_FeLPv4W_y9Xfr_TAQAMuW0YgRJ_OG01vIMA10DL8vU6RpAXs/s320/IMG_4264.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5360943628782204130" /></a><br />Caríssimos,<br />Paz e Bem!<br />Como se diz na Itália: <strong>Sono guarito!!! </strong>Ontem fui ao hospital de Camposampiero e me foi tirado o gesso (na verdade algodão e gaze) e os pontos. Confesso que tinha grande curiosidade de ver meu braço, depois de um mês. Fiquei surpreendido ao ver como ele diminui com a perda de massa muscular e assustado ao ver que aqui eles não usam mais ponto com linha, mas grampeiam a cirurgia. Eu tinha vinte grampos e já imaginei a dor que seria para tirar tudo isto, mas eu nem senti eles tirarem. Resultado: não senti dor nem antes, nem durante e nem depois da cirurgia.<br />Agora tenho que <strong>reacostumar meu braço a se movimentar </strong>bem, depois de ficar tanto tempo parado. Dói um pouco para se mover, mas aos poucos já percebi que ele vai voltando ao normal. Planejo voltar às <strong>atividades físicas </strong>na semana que vem.<br />Deixei de postar o título dos livros que estou lendo porque desde quando terminei a teologia eu acalento o desejo de fazer uma <strong>leitura continuada da Palavra de Deus </strong>e agora tenho o tempo propício. Escolhi fazer não uma leitura cronológica ou na ordem que estão os livros dispostos na Bíblia, mas numa ordem escolhida por mim. Assim já li as <strong>Cartas de João</strong>, buscando contemplar o amor a Deus e ao próximo; o <strong>Evangelho de Marcos</strong>, querendo ver o primeiro anúncio do evento Jesus de Nazaré e agora, aproveitando deste meu tempo de distância, resolvi entrar no deserto com o povo de Israel, estou lendo o <strong>Êxodo</strong>. A minha amiga de infância, que vive como missionária leiga na Argentina, chamada <strong>Lúcia</strong>, resolveu aderir e iremos fazer este caminho juntos, partilhando esta lectio divina por e-mail.<br />Queridos, a vida continua. Entre as alegrias deste dia, partilho com vocês a reeleição de minha amiga <strong>Madre Maria Longo </strong>como superiora geral da queridas Salesianas dos Sagrados Corações.<br />Um beijo no coração de cada um. Continuo rezando por muitos no meu terço matinal e na missa.Frei João Beneditohttp://www.blogger.com/profile/00632488900806130875noreply@blogger.com1