Tem algumas perguntas na vida que são tão complexas que dão a impressão que vale tudo como resposta, ao mesmo tempo que não vale nada. Parece que diante destas perguntas nós não conseguimos verbalizar claramente que coisa é esta sobre a qual queremos discursar.
Veja, se nos perguntarmos quem é Deus, podemos dar milhões de respostas. Na verdade a tentação mais comum será dar aquela resposta que aprendemos no catecismo. Uma resposta útil para educar na fé, mas penso que a maturidade, os anos que passam, deve nos permitir forjar uma resposta experiencial. Mas esta resposta, já por ser experiencial, em geral, não pode ser facilmente verbalizada. Basta pensar que os místicos não conseguem transmitir com palavras a experiência de encontro que tiveram com Deus. Assim, penso que Deus, em certo sentido, só pode ser experienciado e conhecido pelo encontro de fé. Com isto logo se coloca um problema colateral: para que estudar teologia? Ora, a teologia nos coloca diante de um mistério (Deus) e diante de um grande risco: pensarmos em conhecer Deus somente pelos livros, sem uma experiência vital, quando assim o fazemos, e é algo comum, Ele é facilmente instrumentalizado para estar a nosso serviço.
Ao dizer que a fé é o caminho para conhecer Deus, parece que já definimos muita coisa, mas é pura ilusão pensar assim. Se pedirmos a um enamorado que defina a pessoa amada e o sentimento que os liga, ele terá um grande problema, pois ao mesmo tempo que tem certeza sobre o que sente, não conseguirá com palavras dizer tudo o que sente. Isto é o que acontece quando tentamos falar sobre Deus e sobre fé. São entes sobre os quais nós balbuciamos e não falamos.
A fé, não como definição dogmática, mas como encontro de amor, é o eixo que conduz a história da salvação. De certo que ela não tem um valor em si, é uma via para ser percorrida neste vale de lágrimas, e que um dia será substituída pela visão.
O encontro com Deus não é fácil. Quase sempre ele passa pela cruz, pela rejeição, pelo silêncio de Deus, pelo desprezo. Um místico chamado Thomas Merton, vai dizer que se pensarmos que encontramos Deus numa via de facilidade, podemos ter certeza que encontramos tudo, menos Deus. Neste sentido é preocupante que é sempre mais presente a tendência de fazer da espiritualidade uma psicologia ou uma experiência de prazer pessoal, onde se conclui, pelo choro ou outro sentimento, que me encontrei com Deus, mas isto não é verdadeiro.
Por cultura, creio que nós latinos tendemos a confundir fé com sentimento: se nos emocionamos diante do Sagrado ou se vemos alguém se emocionar, logo concluímos que houve uma experiência de fé. Aqui na Europa o risco é da intelectualização da experiência de Deus, se há planejamento e racionalidade, Deus foi encontrado. Contudo, a fé passa por tudo isto, mas a fé não é isto: não é sentimento só, não é razão só, não é só corpo, não se reduz ao espírito e não se condensa na alma. Ainda mais: a fé não é só a devoção, não é o ter dons diversos, não é o falar bem das coisas sagradas e nem sequer é um estado de vocação na Igreja. A fé, como experiência de abandono total em Deus, deve se apropriar de tudo que somos e temos, só a partir daí que vamos deixando-nos morrer, para que Ele viva em nós.
Esta é uma tarefa difícil, pois facilmente a força do nosso eu é tão grande que substituímos Deus por nós mesmos e pensamos que O encontramos. Contudo esta é uma tarefa para toda a vida e a tarefa mais bela da nossa vida: o encontro com o totalmente Outro, que de algum modo já está no que há de mais profundo de nós. Sem este encontro nós não nos tornamos nem humanos nem divinos. Sem este encontro nós não somos pessoas e não nos encontramos com a nossa identidade mais íntima. A vida sem fé é sem sabor, sem sentido e extremamente fugaz.
Um abraço grande. Fiquem com Deus e que Ele lhes abençoe!
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
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Ótimo texto, frei. Leva à meditação. Sem dúvida, a fé, como o amor, não tem definição concreta. É um mistério a ser vivido e não explicado. Aproveito para lhe desejar boa sorte em sua missão aí na Itália. A última vez que nos encontramos foi em Brasília. E aproveito também para sugerir que conheça o meu recém-lançado blog www.rainhauxiliadora.blogspot.com em homenagem a Nossa Senhora Auxiliadora.
ResponderExcluirAbs,
Daniel Campos
A Fé é para todos, independe de estudo, principalmente a teologia. Deus se revela para todos...
ResponderExcluirO nosso grande problema é estarmos abertos a Ele, mas não gostamos de fazer isto pois gostamos de sermos independentes. É o mesmo que uma criança faz com o pai, não escuta seus conselhos para ousar na aventura da vida sem medir as conseqüências.
Não gostamos dos conselhos “silenciosos” de Deus, seguimos muito aos apelos das coisas humanas , “palpáveis”.
Seguir a Deus só com o Espírito Santo para nos convencer, e ele que nos impulsiona para amor de Deus.
Paz e bem
Manoel
Contudo, não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos nos céus”.
ResponderExcluir21. Naquele mesma hora, ele exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado.
22. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
23. E voltando-se para os discípulos em particular, disse-lhes: “Felizes os olhos que vêem o que vós estais vendo!
24. Pois eu vos digo: muitos profetas e reis quiseram ver o que vós estais vendo, e não viram; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram”.
Manoel