No mês de setembro, quando estive no Brasil, encontrei a campanha eleitoral no seu auge: era uma guerra descomunal pelo poder. Eu sempre fui muito interessado ao desenvolvimento da política nacional e do Distrito Federal, daqui eu leio a cada dia as notícias, sempre fui assíduo e interessado eleitor, mas desta vez eu não votei porque deveria viajar a Milão (400 km ida e vinda) para transferir o título ao Consulado do Brasil e depois deveria ir a cada turno de votação.
O voto não é obrigatório na União Européia, aqui o voto é compreendido como um direito, e por isto a pessoa pode renunciá-lo. Isto tem produzido a pouca frequência dos eleitorer às urnas, na última eleição francesa somente 20% dos eleitores foram votar. Já no Brasil o voto é compreendido como um dever para com a democracia.
Confesso que experimentei uma certa alegria em não ter que votar. Somos uma nação pacífica, um povo amigável, mas quando é momento de eleição aparece o que temos de pior: tanta mentira, calúnia, raiva e corrupção que só mostra que o que está em jogo é o poder e os seus frutos. No fundo a ilusão é do eleitor que pensa estar escolhendo entre projetos diversos, mas fundamentamente estamos escolhendo pessoas diversas que têm em comum o interesse pelo poder e não pelo bem do povo.
Uma discussão que era muito presente era sobre a catolicidade dos candidatos, que diga-se: todos se tornam pessoas de fé e em geral católicas, numa nação de maioria católica. É uma “fé” oportunista, que usa Deus e a Igreja em função de um projeto de partido. Como corolário desta discussão veio aquela sobre o aborto. Partilho com vocês a realidade italiana sobre este tema: aqui o aborto é legalizado e pode ser feito na rede pública. Muitos médicos não o fazem por objeção de consciência e a surpresa é que o número de abortos clandestinos cresceu desde a legalização, foram cerca de 200 mil no ano passado. O motivo é para as pessoas que têm dinheiro é ainda cômodo não usarem a rede pública para manterem-se no anonimato. Dizer que a legalização diminui o número de abortos, se mostra como um argumento falacioso.
A principal preocupação que ficou no meu coração, como fruto desta eleição é a seguinte: temos uma carência de lideranças católicas-leigas para o mundo da política. Aprofundemos:
• Me parece equivocado buscar um candidato católico nas eleições. Muitas vezes não é o candidato que se diz católico que irá devender os valores do evangelho. É preciso olhar o compromisso pessoal do candidato e do seu partido com os valores do reino de Deus, e é preciso ver também que nem todo bom católico tem capacidade para ser bom político.
• Sou profundamente convencido que a política não é só lugar de corruptos, a crença na opinião contrária está fazendo com que o povo brasileiro, em especial os jovens, percam o interesse pela democracia que foi conquistada com o sangue e a vida de muitos dos nossos antepassados. Precisamos de garantir a presença de pessoas de valor no mundo da política.
• Na política a sedução pela fraude é muito presente, mais que em outros âmbitos. Daí é preciso que a comunidade cristã tenha a sabedoria de acompanhar com suas orações e com atos os seus eleitos: estas pessoas se vêem abandonadas e caluniadas pelos seus irmãos de fé. Não seria esta uma bela missão para a população de Brasília?
• A rejeição pela política tem feito com que este tema seja rejeitado nas nossas paróquias e isto é um equívoco, pois se o Evangelho é um anúncio de salvação para o ser humano, e este é por natureza político, logo o mesmo Evangelho deve tocar também este homem-político. Daí que devemos encorajar a comunidade cristã a assumir a vida política, precisamos de gente de fé que entre nas instituições políticas para transformá-las a partir de dentro. E nisto tenho a clareza que não precisamos de um partido da Igreja, pois nenhum partido pode esgotar todos os valores do Evangelho, opção partidária é questão de consciência pessoal. Precisamos de cristãos leigos que se façam presentes na diversidade dos partidos para levar a eles o valor do Evangelho. O triste que muitas vezes estes cristãos se perdem e se tornam mais partidários que pessoas de fé. Além disto, historicamente os partidos ditos “cristãos” não representaram os valores defendidos pela Igreja.
• A última eleição presidencial do Brasil foi muito marcada pelo disse-não-disse das TVs católicas e do episcopado. Eu nunca usei o meu ministério sacerdotal para pedir votos e não manifesto minhas opções a não ser para pessoas íntimas. Acredito que precisamos nos cuidar ao dar as nossas opiniões, pois muitas vezes os religiosos não são os mais capazes para emitir posições sobre política. Devemos dar fundamentos evangélicos e ser capaz de ver que a opção partidária é muito relativa, pois, como disse, nenhum partido esgota os valores do Evangelho e será que podemos ariscar o anúncio da Boa Nova para justificar um candidato?. O pior desta situação é que vemos clérigos ocupando lugar de leigos e leigos fugindo da vida social e política.
Enfim, celebrando nestes dias para a comunidade brasileira em Mantua, eu conclamei a assembléia para rezar pela nova presidente e por todos os eleitos. Alguns rostos faziam cara de desaprovação. Meus irmãos, a campanha acabou, resta-nos agora rezar pelos nossos governantes e cobrar deles o zelo efetivo pelo bem do Brasil, não só nesta geração, mas pensando também nas gerações futuras.
Basta. Falo muito. Abraços e bênçãos.
Até mais.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Um olhar de fora, mas profundamente dentro (1)
Estive no Brasil no mês de setembro e vivi a maravilhosa experiência de viver com os meus familiares a amigos, a maioria eu não via há quinze meses. Foi pouco tempo para saborear o meu país e muito tempo para estar longe da vida de estudos, pois tenho que aproveitar o tempo de férias para ir reunindo material para a tese em liturgia.
Onde é a minha pátria? Quando as pessoas me perguntavam se estava ansioso para chegar no Brasil ou se vivo a saudade hoje, eu sempre digo assim: cheguei no Brasil quando o avião aterrizou e sai quando o avião decolou. Voltar a Brasília, depois de meses, era para mim a prova de fogo de meus sentimentos: ali vivi as minhas maiores felicidades e tristezas. Me perguntava como meu coração se moveria ao ver lugares e pessoas que me eram tão afins. Hoje, depois de voltar a Itália, lhes confesso: estou em paz, mas uma paz tão interessante que me possibilita dizer: nada, nem niguém a pode roubar. Estou sempre mais em casa na Itália, sem perder jamais meus laços com meu Brasil: sou brasileiro na Itália.
Na verdade existem duas coisas que eu sinto falta do Brasil: meus amigos (as) e a liturgia. De vez em quando eu fujo para celebrar para a comunidade brasileira de Mantova para matar a saudade e com os amigos eu busco sobreviver com os meios de comunicação, sobretudo internet. Descobrir estes sentimentos em mim era interessante, pois me foram fazendo perceber que fui sendo transformado em um ser humano normal: com sentimentos, amigos, inimigos, saudades, etc.
Quando falo da falta de amigos e da liturgia é porque nós, brasileiros que aqui estamos, vamos percebendo a riqueza da nossa igreja: uma liturgia viva, a participação ativa do laicato, a amizade, a alegria. Tudo isto não se vive na realidade italiana, e não porque é melhor ou pior, mas porque é diferente. Fundamentalmente, mesmo sem perceber isto claramente, o meu escasso apostolado me fez ter poucos e bons amigos leigos.
Esperei passar o fusuê das eleições (quanta poluição sonora e visual) para só depois escrever no meu blog. Na próxima vez quero compartilhar com vocês uma avaliação das eleições, olhadas por mim (profundamente brasileiro) a partir de fora (Itália).
Quero aqui agradecer muito, de coração a todos os meus amados amigos e amigas (incluída a minha família) pelas muitas e efusivas manifestações de amizade, carinho e proximidade nos dias que passei pelo Brasil. Confesso-lhes que faltou tempo para ver todos aqueles que eu queria e para conseguir atender todos os convites. Posso dizer que o resultado das férias foram 5 kg a mais no meu corpo e muitos, muitos quilos de amor e felicidade para meu coração. Deus lhes recompense sempre.
Abraços grandes.
Onde é a minha pátria? Quando as pessoas me perguntavam se estava ansioso para chegar no Brasil ou se vivo a saudade hoje, eu sempre digo assim: cheguei no Brasil quando o avião aterrizou e sai quando o avião decolou. Voltar a Brasília, depois de meses, era para mim a prova de fogo de meus sentimentos: ali vivi as minhas maiores felicidades e tristezas. Me perguntava como meu coração se moveria ao ver lugares e pessoas que me eram tão afins. Hoje, depois de voltar a Itália, lhes confesso: estou em paz, mas uma paz tão interessante que me possibilita dizer: nada, nem niguém a pode roubar. Estou sempre mais em casa na Itália, sem perder jamais meus laços com meu Brasil: sou brasileiro na Itália.
Na verdade existem duas coisas que eu sinto falta do Brasil: meus amigos (as) e a liturgia. De vez em quando eu fujo para celebrar para a comunidade brasileira de Mantova para matar a saudade e com os amigos eu busco sobreviver com os meios de comunicação, sobretudo internet. Descobrir estes sentimentos em mim era interessante, pois me foram fazendo perceber que fui sendo transformado em um ser humano normal: com sentimentos, amigos, inimigos, saudades, etc.
Quando falo da falta de amigos e da liturgia é porque nós, brasileiros que aqui estamos, vamos percebendo a riqueza da nossa igreja: uma liturgia viva, a participação ativa do laicato, a amizade, a alegria. Tudo isto não se vive na realidade italiana, e não porque é melhor ou pior, mas porque é diferente. Fundamentalmente, mesmo sem perceber isto claramente, o meu escasso apostolado me fez ter poucos e bons amigos leigos.
Esperei passar o fusuê das eleições (quanta poluição sonora e visual) para só depois escrever no meu blog. Na próxima vez quero compartilhar com vocês uma avaliação das eleições, olhadas por mim (profundamente brasileiro) a partir de fora (Itália).
Quero aqui agradecer muito, de coração a todos os meus amados amigos e amigas (incluída a minha família) pelas muitas e efusivas manifestações de amizade, carinho e proximidade nos dias que passei pelo Brasil. Confesso-lhes que faltou tempo para ver todos aqueles que eu queria e para conseguir atender todos os convites. Posso dizer que o resultado das férias foram 5 kg a mais no meu corpo e muitos, muitos quilos de amor e felicidade para meu coração. Deus lhes recompense sempre.
Abraços grandes.
domingo, 22 de agosto de 2010
Terra Santa ou Terra do Santo
Nestes dias eu tive a oportunidade de pelegrinar a Terra Santa. Hoje muitos entendidos preferem chamar de Terra do Santo, o verdadeimente Santo: Jesus. Usarei nos meus textos o nome mais popular Terra Santa.
Neste espaço buscarei dividir com vocês um tanto daquilo que experimentei nestes dias. Partimos de Verona no dia 12 de agosto e voltamos de Tel Aviv no dia 19 de agosto. Éramos 45 pessoas, sendo um brasileiro (euzinho mesmo), dois romenos e o restante era italiano. No grupo tinhamos seis sacerdotes e um frade, sendo que dos sacerdotes só um não era franciscano conventual.
Eu recusei por três vezes no Brasil o convite para ir a Terra Santa, pois vivia viajando e queria reservar esta experiência para os 25 anos de ordenação. Acontece que quando trabalhei organizando a biblioteca conventual de Camposampiero, encontrei as anotações de Provincial, Frei Gianni, para esta peregrinação, li e fiquei desejoso de fazer a experiência. Na visita de Gianni a Camposampiero eu lhe disse que um dia desejaria fazer este caminho com ele, e ele me disse venha na próxima, pois depois nao terei muito tempo.
Gianni é biblista que estudou também em Jerusalém. Já seguiu trinta grupos na Terra Santa. A cada ano ele organiza a seguintes peregrinações: Nas pegadas de Cristo, nas pegadas de Moisés e nas pegadas de São Paulo. Em cada lugar ele buscava o texto bíblico para explicar o que aconteceu ali, e acrescentava o aspecto histórico e arqueológico. A peregrinação foi de fato um retiro na Terra Santa.
Foi boa pelo lugar, pelo guia e pelo grupo, com quem estabeleci uma bela relação de convivência.
Tirei umas mil fotos, que estão no endereço: http://www.flickr.com/photos/frjoaobenedito/ e no meu orkut: fr.joaobenedito@gmail.
Nas semanas seguintes irei falar do que vi em cada dia de peregrinação.
Um beijo. Fiquem com Deus. Que Ele vos abençoe!
Frei João
Neste espaço buscarei dividir com vocês um tanto daquilo que experimentei nestes dias. Partimos de Verona no dia 12 de agosto e voltamos de Tel Aviv no dia 19 de agosto. Éramos 45 pessoas, sendo um brasileiro (euzinho mesmo), dois romenos e o restante era italiano. No grupo tinhamos seis sacerdotes e um frade, sendo que dos sacerdotes só um não era franciscano conventual.
Eu recusei por três vezes no Brasil o convite para ir a Terra Santa, pois vivia viajando e queria reservar esta experiência para os 25 anos de ordenação. Acontece que quando trabalhei organizando a biblioteca conventual de Camposampiero, encontrei as anotações de Provincial, Frei Gianni, para esta peregrinação, li e fiquei desejoso de fazer a experiência. Na visita de Gianni a Camposampiero eu lhe disse que um dia desejaria fazer este caminho com ele, e ele me disse venha na próxima, pois depois nao terei muito tempo.
Gianni é biblista que estudou também em Jerusalém. Já seguiu trinta grupos na Terra Santa. A cada ano ele organiza a seguintes peregrinações: Nas pegadas de Cristo, nas pegadas de Moisés e nas pegadas de São Paulo. Em cada lugar ele buscava o texto bíblico para explicar o que aconteceu ali, e acrescentava o aspecto histórico e arqueológico. A peregrinação foi de fato um retiro na Terra Santa.
Foi boa pelo lugar, pelo guia e pelo grupo, com quem estabeleci uma bela relação de convivência.
Tirei umas mil fotos, que estão no endereço: http://www.flickr.com/photos/frjoaobenedito/ e no meu orkut: fr.joaobenedito@gmail.
Nas semanas seguintes irei falar do que vi em cada dia de peregrinação.
Um beijo. Fiquem com Deus. Que Ele vos abençoe!
Frei João
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Uma experiência inesquecível
Na comunidade onde moro, reside o capelão do hospital de Camposampiero. Nestes dias ele tirou férias e eu tive a oportunidade de substitui-lo do dia 18 ao dia 31 de julho e voltarei lá nos dias 22 a 29 de agosto.
Desta vez irei fazer uma especie de entrevista comigo mesmo, para dizer como foi a experiência de ser capelão num hospital público no norte da Itália.
Como funciona a saúde na Itália?
A Itália tem uma grande diferença sócio-econômica entre norte e sul, eu estou na região rica do norte. Aqui a saúde depende de cada região. No Veneto o sistema público é tão bom que não existe lugar para o sistema privado.
Eu tive que usar o hospital primeiro como paciente, e funciona assim: você vai ao seu médico de base e ele te encaminha para a clínica especializada. O médico de base trabalha em clínica fora do hospital, e pode ser procurado de segunda a sexta-feira. De posse do encaminhamento a pessoa marca o exame por internet, telefone ou no hospital. Se paga uma taxa por cada exame, que varia, mas para uma consulta é algo em torno de R$ 30,00.
Na minha cidade tem um hospital superdimensionado. Em uma população de seis mil habitantes, ele tem 8 andares, com cerca de mil leitos. É impecavelmente limpo, bem mantido e nunca o encontrei cheio. Recordo que ele pode ser usado, e é, pelas cidades vizinhas, mas existem muitos bons hospitais na região.
Uma coisa me chama a atenção: a fama dos profissionais de saúde no Brasil é de serem estressados, aqui eles são tão tranquilos e gentis, que destoa daquilo que existe fora dos hospitais.
Qual o trabalho do capelão?
A Itália é para mim uma sociedade invejável no senso que aqui vejo que, muito mais que no Brasil, há uma integração entre fé e cultura, mesmo que seja uma sociedade secularizada e com baixo percentual de frequência na igreja.
A Igreja da Itália leva com muita seriedade o trabalho nos hospitais. Aqui neste hospital a equipe é constituída por um sacerdote, um diácono e uma religiosa, sinto sempre falta de leigos (as) na pastoral italiana, muito marcada pela presença do clero. O sacerdote está no hospital todos os dias das 8 as 20 h, e quando não está, o celular fica disponível para o caso de emergência: morte e terminal. Eu fui chamado neste tempo duas vezes a noite para defuntos: a meia-noite e às 2:27 h.
Todos os que estão internados no hospital têm a possibilidade de receber a cada dia a comunhão e de solicitar unção e confissão. Tem a cada dia o rosário e a missa.
Quando acontece um óbito, aqui que é ainda mais diverso do Brasil, na hora a família chama o capelão que faz a primeira parte da encomendação. O corpo fica três dias na geladeira, por burocracia italiana. Ao final deste período, o pároco vem para acompanhar o corpo para a missa no cemitério ou na paróquia, e ele celebra a última parte da encomendação. Isto é possível porque as paróquias do Veneto são pequeníssimas.
O que significa isto para mim?
Aprendi com o sofrimento que a única possibilidade de humanização é a cruz: sem esta experiência nós somos iludidos sobre nós mesmos, os outros e Deus. É o sofrimento que nos faz humanos, ou melhor, ele tem uma força de nos fazer crudelíssimos ou nos converter.
Durante estes dias no hospital eu estava lidando todo o tempo com o limite da situação humana: dor, doença e morte. Encontrei pessoas com diversas histórias de vida, mas profundamente abertas. Que aprenderam a sorrir e a ter desejos simples.
Um homem me dizia assim, mostrando as fotos com os grandes do mundo: ele era chefe-militar do palácio presidencial em Roma, muito rico e cercado de pessoas. Acreditava ter poder e amigos. Hoje está numa ala de pacientes terminais, com câncer. Concluía: Deus foi o único amigo que me sobrou de fato e tudo aqui que vivi antes foi ilusão.
Já uma mulher, que aceitava a comunhão, mas não aceitava a confissão, me dizia: se alguém tem que se confessar comigo é Deus – Ele sempre me perseguiu, me fez viúva aos 28 anos, me deu um câncer e uma mestátase. Ela foi sincera comigo, e desde aquele dia eu a visito todo dia, com uma missão: possibilitar àquela paciente terminal de fazer a experiência do amor de Deus.
O hospital é isto: não tem tempo, não tem hora. Tudo pode acontecer. Mas você se encontra com a humanidade na sua forma mais simples: sem as ilusões que temos sobre nós mesmos, nos nossos limites e com a possibilidade de um encontro sereno com o Senhor.
Em resumo:
Quando me diziam que eu fazia bem a eles eu pensava e às vezes dizia: vocês é que me fazem bem. Eu só sorria, conversava e oferecia sacramentos. Eles me deixaram impressas algumas convicções que vou somando na minha vida: a vida humana é algo muito mais simples que nossos devaneios.
Diante daqueles corpos envelhecidos e doentes, mas que continham um espírito vigoroso, eu pensava: como somos pequenos, só vale a pena usar estes poucos anos para Deus e os irmãos, o resto é ilusão.
Partilho com vocês porque creio que tenho o dever de narrar esta experiência bela para vocês, seja para lhes envolver ou, melhor, para lhes encorajar a fazer o mesmo.
Fiquem com Deus!
PS: parto para terra santa no dia 12 de agosto, ali estarei por uma semana.
Desta vez irei fazer uma especie de entrevista comigo mesmo, para dizer como foi a experiência de ser capelão num hospital público no norte da Itália.
Como funciona a saúde na Itália?
A Itália tem uma grande diferença sócio-econômica entre norte e sul, eu estou na região rica do norte. Aqui a saúde depende de cada região. No Veneto o sistema público é tão bom que não existe lugar para o sistema privado.
Eu tive que usar o hospital primeiro como paciente, e funciona assim: você vai ao seu médico de base e ele te encaminha para a clínica especializada. O médico de base trabalha em clínica fora do hospital, e pode ser procurado de segunda a sexta-feira. De posse do encaminhamento a pessoa marca o exame por internet, telefone ou no hospital. Se paga uma taxa por cada exame, que varia, mas para uma consulta é algo em torno de R$ 30,00.
Na minha cidade tem um hospital superdimensionado. Em uma população de seis mil habitantes, ele tem 8 andares, com cerca de mil leitos. É impecavelmente limpo, bem mantido e nunca o encontrei cheio. Recordo que ele pode ser usado, e é, pelas cidades vizinhas, mas existem muitos bons hospitais na região.
Uma coisa me chama a atenção: a fama dos profissionais de saúde no Brasil é de serem estressados, aqui eles são tão tranquilos e gentis, que destoa daquilo que existe fora dos hospitais.
Qual o trabalho do capelão?
A Itália é para mim uma sociedade invejável no senso que aqui vejo que, muito mais que no Brasil, há uma integração entre fé e cultura, mesmo que seja uma sociedade secularizada e com baixo percentual de frequência na igreja.
A Igreja da Itália leva com muita seriedade o trabalho nos hospitais. Aqui neste hospital a equipe é constituída por um sacerdote, um diácono e uma religiosa, sinto sempre falta de leigos (as) na pastoral italiana, muito marcada pela presença do clero. O sacerdote está no hospital todos os dias das 8 as 20 h, e quando não está, o celular fica disponível para o caso de emergência: morte e terminal. Eu fui chamado neste tempo duas vezes a noite para defuntos: a meia-noite e às 2:27 h.
Todos os que estão internados no hospital têm a possibilidade de receber a cada dia a comunhão e de solicitar unção e confissão. Tem a cada dia o rosário e a missa.
Quando acontece um óbito, aqui que é ainda mais diverso do Brasil, na hora a família chama o capelão que faz a primeira parte da encomendação. O corpo fica três dias na geladeira, por burocracia italiana. Ao final deste período, o pároco vem para acompanhar o corpo para a missa no cemitério ou na paróquia, e ele celebra a última parte da encomendação. Isto é possível porque as paróquias do Veneto são pequeníssimas.
O que significa isto para mim?
Aprendi com o sofrimento que a única possibilidade de humanização é a cruz: sem esta experiência nós somos iludidos sobre nós mesmos, os outros e Deus. É o sofrimento que nos faz humanos, ou melhor, ele tem uma força de nos fazer crudelíssimos ou nos converter.
Durante estes dias no hospital eu estava lidando todo o tempo com o limite da situação humana: dor, doença e morte. Encontrei pessoas com diversas histórias de vida, mas profundamente abertas. Que aprenderam a sorrir e a ter desejos simples.
Um homem me dizia assim, mostrando as fotos com os grandes do mundo: ele era chefe-militar do palácio presidencial em Roma, muito rico e cercado de pessoas. Acreditava ter poder e amigos. Hoje está numa ala de pacientes terminais, com câncer. Concluía: Deus foi o único amigo que me sobrou de fato e tudo aqui que vivi antes foi ilusão.
Já uma mulher, que aceitava a comunhão, mas não aceitava a confissão, me dizia: se alguém tem que se confessar comigo é Deus – Ele sempre me perseguiu, me fez viúva aos 28 anos, me deu um câncer e uma mestátase. Ela foi sincera comigo, e desde aquele dia eu a visito todo dia, com uma missão: possibilitar àquela paciente terminal de fazer a experiência do amor de Deus.
O hospital é isto: não tem tempo, não tem hora. Tudo pode acontecer. Mas você se encontra com a humanidade na sua forma mais simples: sem as ilusões que temos sobre nós mesmos, nos nossos limites e com a possibilidade de um encontro sereno com o Senhor.
Em resumo:
Quando me diziam que eu fazia bem a eles eu pensava e às vezes dizia: vocês é que me fazem bem. Eu só sorria, conversava e oferecia sacramentos. Eles me deixaram impressas algumas convicções que vou somando na minha vida: a vida humana é algo muito mais simples que nossos devaneios.
Diante daqueles corpos envelhecidos e doentes, mas que continham um espírito vigoroso, eu pensava: como somos pequenos, só vale a pena usar estes poucos anos para Deus e os irmãos, o resto é ilusão.
Partilho com vocês porque creio que tenho o dever de narrar esta experiência bela para vocês, seja para lhes envolver ou, melhor, para lhes encorajar a fazer o mesmo.
Fiquem com Deus!
PS: parto para terra santa no dia 12 de agosto, ali estarei por uma semana.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Rumo ao Congresso do ano Sacerdotal
Paz e Bem!
Hoje eu parto para Roma para participar do congresso de conclusão do ano sacerdotal.
O número de participantes é tão grande que tiveram que dividir-nos em dois grupos, por línguas: um na Basilica de São Paulo e outro na Basilica de São João, eu estarei nesta.
Tenho já a carteira de habilitação européia, passei do difícil exame e amanhã saio daqui dirigindo um furgão, levando unas 2 toneladas de livros para serem doados para nossa faculdade em Roma. Eu sou o bibliotecário do convento, e estes livros chegaram aqui doados por um padre de uma paróquia vizinha.
Rezem por nós sacerdotes participantes do congresso. Terei a alegria de ver muitos amigos.
Um abraço e que Deus lhes abençoe!
Hoje eu parto para Roma para participar do congresso de conclusão do ano sacerdotal.
O número de participantes é tão grande que tiveram que dividir-nos em dois grupos, por línguas: um na Basilica de São Paulo e outro na Basilica de São João, eu estarei nesta.
Tenho já a carteira de habilitação européia, passei do difícil exame e amanhã saio daqui dirigindo um furgão, levando unas 2 toneladas de livros para serem doados para nossa faculdade em Roma. Eu sou o bibliotecário do convento, e estes livros chegaram aqui doados por um padre de uma paróquia vizinha.
Rezem por nós sacerdotes participantes do congresso. Terei a alegria de ver muitos amigos.
Um abraço e que Deus lhes abençoe!
sábado, 22 de maio de 2010
Visitei o Santo Sudário
Ontem eu estive em Turim para ver o Santo Sudário, junto com um grupo de pessoas de Loreggia, fomos em três ônibus. Partimos as 5 da manhã e retornamos pela uma da manhã de hoje. Fizemos cerca de 800 km.
O Sudário está exporto depois de dez anos e é a primeira vez depois da restauração do tecido. Se prevê, como nas outras vezes, que venham em torno de três milhões de fiéis para a visita, ontem a fila era imensa.
Qual a minha sensação diante do Sudário? Uma coisa impressionante. Mesmo que a Igreja não chame o Sudário de relíquia da Paixão, devemos reconhecer que estamos diante de um tecido miraculoso: uma impressão sem tinta, uma pintura que não transpassa o tecido e que não tem espessura, tantos detalhes que nos reportam à narração dos evangelhos.
Eu não sou um caçador de relíquias e sempre fui muito prudente em relação a elas, mas o Sudário é sem dúvida uma coisa que impressiona. Diante dele eu não busquei a certeza da ciência, isto é importante, mas nao é tudo. Busquei sim atravessar aquele tecido com o olhar da fé e me deixar carregar para dentro do mistério de Cristo.
Celebrei a missa para o grupo na Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora, onde viveu e está sepultado São João Bosco.
Foi a minha primeira experiência mais vizinha com um grupo de italianos, foi muito interessante: depois que se vence a resistência reverencial que eles têm diante dos sacerdotes, a convivência se faz tranquila e amigável. Para minha surpresa no grupo tinha uma brasileira que não fala português porque voltou para a Itália com oito anos e havia um outro João, um peruano que a mãe batizou com este nome para homenagear a um brasileiro.
Um abraço para todos. Fiquem com Deus.
domingo, 16 de maio de 2010
Um ano de Camposampiero
Hoje faz um ano que cheguei aqui em Camposampiero. No dia 13 de maio de 2009 eu peguei o vôo Brasília-Lisboa-Roma, e depois o Ministro Geral me trouxe para este convento. Nunca fiquei tanto tempo longe do Brasil.
Fiz uma grande revisão deste tempo que vivo aqui, que foi para mim um grande retiro. Agora quero partilhar com vocês um pouco de tudo isto, pois uma das conquistas deste tempo é saber que para se viver verdadeiramente uma vocação é preciso fazer o caminho inverso do usual e ter a capacidade de partilhar a vida, e a vida é feita de vitórias e fracassos.
Eu muitas vezes na minha vida cristã celebrei a semana santa, como sacerdote eu presidi estas celebrações por onze vezes antes de vir para cá. Este ano eu presidi a semana santa com um novo sentimento: eu havia passado pela experiência de cruz, de morte, de traição como o Senhor, e agora tinha a possibilidade de entrar no mistério pascal de uma maneira mais decisiva. Aqui posso dizer o que foi fundamental na minha vida: tudo que me aconteceu me fez mais humano.
Quando eu aceitei o convite do Ministro Geral para vir para Itália, eu vim decidido a mudar de vida, e esta decisão foi o diferencial da minha existência. Creio que de tudo que passei, isto é somente o que importa, deixando de lado definitamente pessoas, lugares e circunstâncias que me fizeram sofrer.
Posso lhes dizer uma coisa surpreendente: quando penso na vida que tenho hoje e naquela de antes, sou grato a Deus por tudo que me aconteceu. Acho que em tantos anos de vida religiosa, nunca estive tão bem e sem ter que carregar um mundo de preocupações na minhas costas. Mas quero dizer, tentanto ajudar a todos que possam sofrer qualquer dificuldade: somente quando nos decidimos a aceitar a graça de Deus e mudar de vida, é que conseguimos fazer do nosso sofrimento uma ocasião de graça, de vitória e até de alegria. É este o meu olhar para tudo que me aconteceu.
Camposampiero ficará sempre na minha história como o lugar do meu renascimento: ficarão sempre as cicatrizes da morte, mas sem a dor da cruz. E por isto eu posso louvar o meu Senhor, que esteve comigo, até quando eu não percebi: "Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!" (Gn 28, 16)
Enfim, posso testemunhar que, uma pessoa sem uma experiência de sofrimento, de abandono e de morte (a tristeza profunda é uma certa morte), pode falar de cruz, mas somente a cruz vivida faz com que sejamos mais misericordiosos e mais próximos de Deus.
A todos a minha gratidão, pois a certeza que tudo isto me trouxe é que a minha vida não me pertence, e que tenho consciência que junto a mim estavam muitas outras pessoas sofrendo e rezando.
De Brasília me ficou a saudade. Não da cidade, mas de pessoas com quem compartilhei a vida, especialmente a minha família e muitos leigos, principalmente casais, que conheci nas pastorais. Para todos a bênção de Deus.
Fiz uma grande revisão deste tempo que vivo aqui, que foi para mim um grande retiro. Agora quero partilhar com vocês um pouco de tudo isto, pois uma das conquistas deste tempo é saber que para se viver verdadeiramente uma vocação é preciso fazer o caminho inverso do usual e ter a capacidade de partilhar a vida, e a vida é feita de vitórias e fracassos.
Eu muitas vezes na minha vida cristã celebrei a semana santa, como sacerdote eu presidi estas celebrações por onze vezes antes de vir para cá. Este ano eu presidi a semana santa com um novo sentimento: eu havia passado pela experiência de cruz, de morte, de traição como o Senhor, e agora tinha a possibilidade de entrar no mistério pascal de uma maneira mais decisiva. Aqui posso dizer o que foi fundamental na minha vida: tudo que me aconteceu me fez mais humano.
Quando eu aceitei o convite do Ministro Geral para vir para Itália, eu vim decidido a mudar de vida, e esta decisão foi o diferencial da minha existência. Creio que de tudo que passei, isto é somente o que importa, deixando de lado definitamente pessoas, lugares e circunstâncias que me fizeram sofrer.
Posso lhes dizer uma coisa surpreendente: quando penso na vida que tenho hoje e naquela de antes, sou grato a Deus por tudo que me aconteceu. Acho que em tantos anos de vida religiosa, nunca estive tão bem e sem ter que carregar um mundo de preocupações na minhas costas. Mas quero dizer, tentanto ajudar a todos que possam sofrer qualquer dificuldade: somente quando nos decidimos a aceitar a graça de Deus e mudar de vida, é que conseguimos fazer do nosso sofrimento uma ocasião de graça, de vitória e até de alegria. É este o meu olhar para tudo que me aconteceu.
Camposampiero ficará sempre na minha história como o lugar do meu renascimento: ficarão sempre as cicatrizes da morte, mas sem a dor da cruz. E por isto eu posso louvar o meu Senhor, que esteve comigo, até quando eu não percebi: "Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!" (Gn 28, 16)
Enfim, posso testemunhar que, uma pessoa sem uma experiência de sofrimento, de abandono e de morte (a tristeza profunda é uma certa morte), pode falar de cruz, mas somente a cruz vivida faz com que sejamos mais misericordiosos e mais próximos de Deus.
A todos a minha gratidão, pois a certeza que tudo isto me trouxe é que a minha vida não me pertence, e que tenho consciência que junto a mim estavam muitas outras pessoas sofrendo e rezando.
De Brasília me ficou a saudade. Não da cidade, mas de pessoas com quem compartilhei a vida, especialmente a minha família e muitos leigos, principalmente casais, que conheci nas pastorais. Para todos a bênção de Deus.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Tema da Tesi
No nosso último encontro eu lhes falava da minha interrogação diante do falimento da instituição seminário: qual poderia ser a mudança substancial? Durante muito tempo, sobretudo tendo a graça de viver um pouco de tudo na minha vida, eu me perguntava para onde se deveria deslocar o eixo, o essencial, da formação seminarística, deixando de lado o eixo intelectual, que é aquele que domina hoje. A primeira conclusão é que este eixo deveria ser a espiritualidade, a bíblia ou a liturgia.
Num segundo momento eu vi que a liturgia é o mais englobante, pois ela contém a espiritualidade e a bíblia, além de que a espiritualidade sem a liturgia se torna algo egoísta e a bíblia sem a liturgia se torna facilmente instrumentalizada.
Chegando na faculdade eu comecei logo nos primeiros dias a buscar um orientador e gostei dos textos de um professor. Conversei com ele, Giorgio Bonaccorso, um monge de Santa Giustina que se interessou muito pelo tema e fez algumas indicações. Me dizia que não é a liturgia em geral que é formativa, mas é o rito. Ele trabalha com pedagogos na Universidade de Pádua e me dizia que hoje existe um consenso entre eles: a falta de rito está fazendo com que a família não consiga mais formar o filho, a escola não forma o aluno e a sociedade não forma o cidadão.
O tema do rito é hoje comum na psicologia, pedagogia, sociologia e antropopologia. Bonaccorso me fazia ver que o problema não é só no seminário, mas é o mesmo na vida consagrada, na catequese, na família e na sociedade.
A minha tese de mestrado buscará colocar a importância da revalorização do rito em prol da formação para a vida consagrada e sobretudo sacerdotal.
Até breve. Um abraço e bênçãos de Deus.
Num segundo momento eu vi que a liturgia é o mais englobante, pois ela contém a espiritualidade e a bíblia, além de que a espiritualidade sem a liturgia se torna algo egoísta e a bíblia sem a liturgia se torna facilmente instrumentalizada.
Chegando na faculdade eu comecei logo nos primeiros dias a buscar um orientador e gostei dos textos de um professor. Conversei com ele, Giorgio Bonaccorso, um monge de Santa Giustina que se interessou muito pelo tema e fez algumas indicações. Me dizia que não é a liturgia em geral que é formativa, mas é o rito. Ele trabalha com pedagogos na Universidade de Pádua e me dizia que hoje existe um consenso entre eles: a falta de rito está fazendo com que a família não consiga mais formar o filho, a escola não forma o aluno e a sociedade não forma o cidadão.
O tema do rito é hoje comum na psicologia, pedagogia, sociologia e antropopologia. Bonaccorso me fazia ver que o problema não é só no seminário, mas é o mesmo na vida consagrada, na catequese, na família e na sociedade.
A minha tese de mestrado buscará colocar a importância da revalorização do rito em prol da formação para a vida consagrada e sobretudo sacerdotal.
Até breve. Um abraço e bênçãos de Deus.
domingo, 25 de abril de 2010
Mestrado em Liturgia
Quero partilhar com vocês a minha vida acadêmica. Voltar ao banco escolar depois de anos de distância não é uma tarefa fácil: sinto o cansaço desta tarefa, mas confesso-lhes que estou cheio de entusiamo com o meu curso.
O curso é um mestrado em liturgia com especialização em pastoral, na Abadia Beneditina de Santa Giustina. Na cidade de Pádua tem três mestrados: espiritualidade, liturgia e pastoral. Eu tenho aulas de segunda a quarta-feira, assim é pensado para facilitar a vida dos párocos que fazem o curso.
Quando ouvem que faço mestrado em liturgia, é comum que as pessoas me façam perguntas sobre celebrações, na verdade isto não é tema do meu mestrado. A faculdade de Santa Giustina se interessa pelo estudo do rito no seu aspecto antropológico e fenomenológico, daí que temos poucos cursos voltados para teologia da celebração.
Escolhi esta faculdade porque vinha em resposta a uma reflexão que faço há alguns anos e agora muito mais: existe um consenso no mundo eclesial que o problema da atual formação para o presbiterato e vida religiosa está numa fase anterior – na falta de formação humana e cristã. Eu concordo com isto, mas sempre mais tenho a impressão que o seminário (ou casa de formação) não consegue formar o ser humano, o cristão ou o consagrado. Fundamentalmente, penso que o seminário, como pensado pelo Concílio de Trento, já cumpriu seu papel e não tem muito mais a oferecer à Igreja de hoje, os frutos destes seminário pipocam no mundo atual.
Me explico de modo melhor: sou convicto que o equívoco do seminário nos moldes de Trento está no fazer o eixo formativo recair sobre a formação intelectual. Ora, o intelecto não forma a pessoa, que é conduzida sobretudo pela vontade. A partir de tal percepção eu sempre me perguntei qual deveria ser o eixo formativo do seminário. É a esta pergunta que buscarei responder com a tese de mestrado.
Nos vemos depois. Na ocasião iremos aprofundar sobre o que propriamente irei tratar na minha tese.
Boa semana e fiquem com Deus.
PS.: Irei postar sempre algo no domingo e na quarta-feira.
O curso é um mestrado em liturgia com especialização em pastoral, na Abadia Beneditina de Santa Giustina. Na cidade de Pádua tem três mestrados: espiritualidade, liturgia e pastoral. Eu tenho aulas de segunda a quarta-feira, assim é pensado para facilitar a vida dos párocos que fazem o curso.
Quando ouvem que faço mestrado em liturgia, é comum que as pessoas me façam perguntas sobre celebrações, na verdade isto não é tema do meu mestrado. A faculdade de Santa Giustina se interessa pelo estudo do rito no seu aspecto antropológico e fenomenológico, daí que temos poucos cursos voltados para teologia da celebração.
Escolhi esta faculdade porque vinha em resposta a uma reflexão que faço há alguns anos e agora muito mais: existe um consenso no mundo eclesial que o problema da atual formação para o presbiterato e vida religiosa está numa fase anterior – na falta de formação humana e cristã. Eu concordo com isto, mas sempre mais tenho a impressão que o seminário (ou casa de formação) não consegue formar o ser humano, o cristão ou o consagrado. Fundamentalmente, penso que o seminário, como pensado pelo Concílio de Trento, já cumpriu seu papel e não tem muito mais a oferecer à Igreja de hoje, os frutos destes seminário pipocam no mundo atual.
Me explico de modo melhor: sou convicto que o equívoco do seminário nos moldes de Trento está no fazer o eixo formativo recair sobre a formação intelectual. Ora, o intelecto não forma a pessoa, que é conduzida sobretudo pela vontade. A partir de tal percepção eu sempre me perguntei qual deveria ser o eixo formativo do seminário. É a esta pergunta que buscarei responder com a tese de mestrado.
Nos vemos depois. Na ocasião iremos aprofundar sobre o que propriamente irei tratar na minha tese.
Boa semana e fiquem com Deus.
PS.: Irei postar sempre algo no domingo e na quarta-feira.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Primeira experiência de Semana Santa
Paz e Bem!
Tenho tido uma vida muito cheia de atividades. Confesso que depois de anos de correria, já aprendido a gostar da quietude que vivi nos meus 9 primeiros meses em Camposampiero. Como lhes falei anteriormente, no mesmo período eu tive que assumir atividades pastorais aqui no santuário e começar o mestrado em liturgia na Abadia de Santa Justina em Pádua.
A minha semana santa foi intensa de confissões. O meu convento é a penitenciaria (lugar de confissões) da diocese de Treviso. Temos sempre pessoas que vêm se confessar aqui, e por isto temos uma escala periodica de atendimentos, eu estou no confessionário duas na quinta-feira e duas na sexta, ao passo que os confessores ordinários estão todos os dias. Eu, como sabem, estou aqui sobretudo para estudar.
Na semana santa trabalhamos em multirão, porque era uma multidão de pecadores. Estive no confessionário de domingo de ramos a sábado santo, das 9h as 19h, exceto quando tive que sair para celebrar fora. Eu celebrei em geral na casa de repouso de Camposampiero, exceto na quinta-feira santa que celebrei numa casa de deficientes mentais.
O contato com as pessoas no confessionário, mais que o altar, permite de conhecer melhor o pessoal, a cultura e a prática religiosa.
Na próxima vez falarei dos meus estudos. Grande abraço e fiquem com Deus!
Frei João de Araújo
Tenho tido uma vida muito cheia de atividades. Confesso que depois de anos de correria, já aprendido a gostar da quietude que vivi nos meus 9 primeiros meses em Camposampiero. Como lhes falei anteriormente, no mesmo período eu tive que assumir atividades pastorais aqui no santuário e começar o mestrado em liturgia na Abadia de Santa Justina em Pádua.
A minha semana santa foi intensa de confissões. O meu convento é a penitenciaria (lugar de confissões) da diocese de Treviso. Temos sempre pessoas que vêm se confessar aqui, e por isto temos uma escala periodica de atendimentos, eu estou no confessionário duas na quinta-feira e duas na sexta, ao passo que os confessores ordinários estão todos os dias. Eu, como sabem, estou aqui sobretudo para estudar.
Na semana santa trabalhamos em multirão, porque era uma multidão de pecadores. Estive no confessionário de domingo de ramos a sábado santo, das 9h as 19h, exceto quando tive que sair para celebrar fora. Eu celebrei em geral na casa de repouso de Camposampiero, exceto na quinta-feira santa que celebrei numa casa de deficientes mentais.
O contato com as pessoas no confessionário, mais que o altar, permite de conhecer melhor o pessoal, a cultura e a prática religiosa.
Na próxima vez falarei dos meus estudos. Grande abraço e fiquem com Deus!
Frei João de Araújo
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Relíquias do Santo e algo mais
Hoje quero dividir com vocês uma experiência linda que vivemos aqui na Itália nestes dias. Desde o ano 2008 os ossos de Santo Antônio, aqui chamado somente de O Santo, foram colocados num lugar provisório da Basílica de Pádua, para que fosse restaurada a Arca do Santo, uma linda capela da Basílica. Nestes dias, de segunda-feira até ontem, as relíquias foram tiradas do túmulo provisório e expostas para a veneração pública num caixão de cristal. Aqui veio a grande surpresa: na segunda-feira eram 15 mil fiéis nafila, na terça 23 mil, na sexta eram 47 mil. Os frades pediram ao Vaticano para prolongar a veneração por mais uma semana, mas não foi concedido. Na sexta a fila ja tinha 5 km e as pessoas estavam debaixo de chuva ou neve, com fé e devoção. Minha gente, este é Santo Antônio. Não precisa dizer mais nada. Estive concelebrando na Basília na quarta-feira de cinzas e ontem eu fui para a bela cerimônia de encerramento e lacre do corpo na arca restaurada. Pedi meu documento de participação, pois esta é a quarta vez que as relíquias são expostas em 800 anos. Vivi coisas belas nestes dias de ministério sacerdotal: celebrei ontem em Fossalta, por primeira vez preguei em italiano, e sinto que consigo dizer o que quero. Hoje cebrelei na casa de repouso (idosos), uma missa linda, diante de mim idosos em cadeiras de rodas. Depois da missa fiquei com eles por uma hora, fazendo pouca coisa, como tocá-los, abençoá-los, dar um sorriso, e ver a alegria deles com o pouco. A tarde comecei a pregar o retiro em Scorzè, estarei là todos os domingos da quaresma e na semana santa. Hoje introduzi com as tentaçõe de Jesus e pretendo percorrer o tema da vida humana de Jesus. A razão do tema é porque, sempre quando falo para a pessoas que Jesus foi tentado e venceu, a reposta que ouço é: "Mas Ele é Deus!", assim irei buscar mostrar que a tentação é justamente para mostrar-nos a humanidade de Jesus. Ok. Terei uma dura semana: estudos e ministério sacerdotal. Cansaço e felidade. Muito obrigado pelas mensagens de retorno sobre o blog - no blog, no e-mail ou no orkut. Elas servem como um reforço para continuar escrevendo. Colocarei também as homilias. Conservo-lhes no meu coração.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Novo norte em minha vida
Paz e Bem!
Quero usar este espaço para dividir com vocês algumas coisas boas que aconteceram na minha vida nestes dias, por decisão do Ministro Geral da Ordem e que me alegraram muito.
1. Desde a ordenação eu sempre acalentei o desejo de estudar liturgia em Pádua, mas nunca tinha a oportunidade. No último sábado eu recebi a proposta de estudar lá. A proposta me foi apresentada pelo P. Giulio, em nome do Geral. Eu já me inscrevi e estarei começando o mestrado em teologia, com especialização em pastoral da liturgia. Este curso é tido como o mais sério, entre os três mestrados que temos em Pádua.
A diferença funcamental entre o mestrado de Roma e este, é que em Pádua o curso é pastoral e não arqueológico.
Estou muito feliz. Irei ter aulas na segunda a tarde e terça e quarta durante todo o dia. Terei que me esforçar muito com línguas, mas em suma, nada disto tem me preocupado.
2. O Ministro Geral me deixou continuar nesta comunidade de Camposampiero. Aqui não juridicamente inserido na comunidade, mas sou tratado com um da casa, participarei até dos capítulos conventuais.
3. O Ministro Geral também me devolveu a graça do uso das ordens sacerdotais. A partir de quarta-feira de cinzas estarei empenhado, à medida do possibilidade que me deixa o mestrado, nas celebrações, pregações e confissões dos nossos santuários e nas comunidades vizinhas. Começarei por pregar um quaresmal em Scorzè.
Rezem por mim. A cada dia me vem mais forte a sensação que há males que vem para bem. E enfim, tudo é graça.
Grande abraço e fiquem com Deus.
Quero usar este espaço para dividir com vocês algumas coisas boas que aconteceram na minha vida nestes dias, por decisão do Ministro Geral da Ordem e que me alegraram muito.
1. Desde a ordenação eu sempre acalentei o desejo de estudar liturgia em Pádua, mas nunca tinha a oportunidade. No último sábado eu recebi a proposta de estudar lá. A proposta me foi apresentada pelo P. Giulio, em nome do Geral. Eu já me inscrevi e estarei começando o mestrado em teologia, com especialização em pastoral da liturgia. Este curso é tido como o mais sério, entre os três mestrados que temos em Pádua.
A diferença funcamental entre o mestrado de Roma e este, é que em Pádua o curso é pastoral e não arqueológico.
Estou muito feliz. Irei ter aulas na segunda a tarde e terça e quarta durante todo o dia. Terei que me esforçar muito com línguas, mas em suma, nada disto tem me preocupado.
2. O Ministro Geral me deixou continuar nesta comunidade de Camposampiero. Aqui não juridicamente inserido na comunidade, mas sou tratado com um da casa, participarei até dos capítulos conventuais.
3. O Ministro Geral também me devolveu a graça do uso das ordens sacerdotais. A partir de quarta-feira de cinzas estarei empenhado, à medida do possibilidade que me deixa o mestrado, nas celebrações, pregações e confissões dos nossos santuários e nas comunidades vizinhas. Começarei por pregar um quaresmal em Scorzè.
Rezem por mim. A cada dia me vem mais forte a sensação que há males que vem para bem. E enfim, tudo é graça.
Grande abraço e fiquem com Deus.
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