domingo, 16 de maio de 2010

Um ano de Camposampiero

Hoje faz um ano que cheguei aqui em Camposampiero. No dia 13 de maio de 2009 eu peguei o vôo Brasília-Lisboa-Roma, e depois o Ministro Geral me trouxe para este convento. Nunca fiquei tanto tempo longe do Brasil.
Fiz uma grande revisão deste tempo que vivo aqui, que foi para mim um grande retiro. Agora quero partilhar com vocês um pouco de tudo isto, pois uma das conquistas deste tempo é saber que para se viver verdadeiramente uma vocação é preciso fazer o caminho inverso do usual e ter a capacidade de partilhar a vida, e a vida é feita de vitórias e fracassos.
Eu muitas vezes na minha vida cristã celebrei a semana santa, como sacerdote eu presidi estas celebrações por onze vezes antes de vir para cá. Este ano eu presidi a semana santa com um novo sentimento: eu havia passado pela experiência de cruz, de morte, de traição como o Senhor, e agora tinha a possibilidade de entrar no mistério pascal de uma maneira mais decisiva. Aqui posso dizer o que foi fundamental na minha vida: tudo que me aconteceu me fez mais humano.
Quando eu aceitei o convite do Ministro Geral para vir para Itália, eu vim decidido a mudar de vida, e esta decisão foi o diferencial da minha existência. Creio que de tudo que passei, isto é somente o que importa, deixando de lado definitamente pessoas, lugares e circunstâncias que me fizeram sofrer.
Posso lhes dizer uma coisa surpreendente: quando penso na vida que tenho hoje e naquela de antes, sou grato a Deus por tudo que me aconteceu. Acho que em tantos anos de vida religiosa, nunca estive tão bem e sem ter que carregar um mundo de preocupações na minhas costas. Mas quero dizer, tentanto ajudar a todos que possam sofrer qualquer dificuldade: somente quando nos decidimos a aceitar a graça de Deus e mudar de vida, é que conseguimos fazer do nosso sofrimento uma ocasião de graça, de vitória e até de alegria. É este o meu olhar para tudo que me aconteceu.
Camposampiero ficará sempre na minha história como o lugar do meu renascimento: ficarão sempre as cicatrizes da morte, mas sem a dor da cruz. E por isto eu posso louvar o meu Senhor, que esteve comigo, até quando eu não percebi: "Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!" (Gn 28, 16)
Enfim, posso testemunhar que, uma pessoa sem uma experiência de sofrimento, de abandono e de morte (a tristeza profunda é uma certa morte), pode falar de cruz, mas somente a cruz vivida faz com que sejamos mais misericordiosos e mais próximos de Deus.
A todos a minha gratidão, pois a certeza que tudo isto me trouxe é que a minha vida não me pertence, e que tenho consciência que junto a mim estavam muitas outras pessoas sofrendo e rezando.
De Brasília me ficou a saudade. Não da cidade, mas de pessoas com quem compartilhei a vida, especialmente a minha família e muitos leigos, principalmente casais, que conheci nas pastorais. Para todos a bênção de Deus.

2 comentários:

  1. Frei amado!
    Quando vivemos a intensa "dor" da perda de controle do ego começamos a reconhecer a verdadeira Graça: o milagre da vida aconteceu e um novo homem está ai!
    Sua reflexão serve como estímulo na conquista da FÉ.
    Tenho orgulho de sua coragem!
    Continue me abençoando.
    PAZ e BEM!
    Socorro Sampaio

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  2. Caríssimo Frei João, a caminho da eternidade vemos que só o que é eterno importa...Tudo o mais Deus deixou para que víssemos nas criaturas a fragilidade que somos e víssemos Nele, Aquele que tudo sustenta e que por isso mesmo nada nos impedirá do Seu Amor...Paz e Bem! Frei Fernando!

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