Nestes dias eu tive a oportunidade de pelegrinar a Terra Santa. Hoje muitos entendidos preferem chamar de Terra do Santo, o verdadeimente Santo: Jesus. Usarei nos meus textos o nome mais popular Terra Santa.
Neste espaço buscarei dividir com vocês um tanto daquilo que experimentei nestes dias. Partimos de Verona no dia 12 de agosto e voltamos de Tel Aviv no dia 19 de agosto. Éramos 45 pessoas, sendo um brasileiro (euzinho mesmo), dois romenos e o restante era italiano. No grupo tinhamos seis sacerdotes e um frade, sendo que dos sacerdotes só um não era franciscano conventual.
Eu recusei por três vezes no Brasil o convite para ir a Terra Santa, pois vivia viajando e queria reservar esta experiência para os 25 anos de ordenação. Acontece que quando trabalhei organizando a biblioteca conventual de Camposampiero, encontrei as anotações de Provincial, Frei Gianni, para esta peregrinação, li e fiquei desejoso de fazer a experiência. Na visita de Gianni a Camposampiero eu lhe disse que um dia desejaria fazer este caminho com ele, e ele me disse venha na próxima, pois depois nao terei muito tempo.
Gianni é biblista que estudou também em Jerusalém. Já seguiu trinta grupos na Terra Santa. A cada ano ele organiza a seguintes peregrinações: Nas pegadas de Cristo, nas pegadas de Moisés e nas pegadas de São Paulo. Em cada lugar ele buscava o texto bíblico para explicar o que aconteceu ali, e acrescentava o aspecto histórico e arqueológico. A peregrinação foi de fato um retiro na Terra Santa.
Foi boa pelo lugar, pelo guia e pelo grupo, com quem estabeleci uma bela relação de convivência.
Tirei umas mil fotos, que estão no endereço: http://www.flickr.com/photos/frjoaobenedito/ e no meu orkut: fr.joaobenedito@gmail.
Nas semanas seguintes irei falar do que vi em cada dia de peregrinação.
Um beijo. Fiquem com Deus. Que Ele vos abençoe!
Frei João
domingo, 22 de agosto de 2010
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Uma experiência inesquecível
Na comunidade onde moro, reside o capelão do hospital de Camposampiero. Nestes dias ele tirou férias e eu tive a oportunidade de substitui-lo do dia 18 ao dia 31 de julho e voltarei lá nos dias 22 a 29 de agosto.
Desta vez irei fazer uma especie de entrevista comigo mesmo, para dizer como foi a experiência de ser capelão num hospital público no norte da Itália.
Como funciona a saúde na Itália?
A Itália tem uma grande diferença sócio-econômica entre norte e sul, eu estou na região rica do norte. Aqui a saúde depende de cada região. No Veneto o sistema público é tão bom que não existe lugar para o sistema privado.
Eu tive que usar o hospital primeiro como paciente, e funciona assim: você vai ao seu médico de base e ele te encaminha para a clínica especializada. O médico de base trabalha em clínica fora do hospital, e pode ser procurado de segunda a sexta-feira. De posse do encaminhamento a pessoa marca o exame por internet, telefone ou no hospital. Se paga uma taxa por cada exame, que varia, mas para uma consulta é algo em torno de R$ 30,00.
Na minha cidade tem um hospital superdimensionado. Em uma população de seis mil habitantes, ele tem 8 andares, com cerca de mil leitos. É impecavelmente limpo, bem mantido e nunca o encontrei cheio. Recordo que ele pode ser usado, e é, pelas cidades vizinhas, mas existem muitos bons hospitais na região.
Uma coisa me chama a atenção: a fama dos profissionais de saúde no Brasil é de serem estressados, aqui eles são tão tranquilos e gentis, que destoa daquilo que existe fora dos hospitais.
Qual o trabalho do capelão?
A Itália é para mim uma sociedade invejável no senso que aqui vejo que, muito mais que no Brasil, há uma integração entre fé e cultura, mesmo que seja uma sociedade secularizada e com baixo percentual de frequência na igreja.
A Igreja da Itália leva com muita seriedade o trabalho nos hospitais. Aqui neste hospital a equipe é constituída por um sacerdote, um diácono e uma religiosa, sinto sempre falta de leigos (as) na pastoral italiana, muito marcada pela presença do clero. O sacerdote está no hospital todos os dias das 8 as 20 h, e quando não está, o celular fica disponível para o caso de emergência: morte e terminal. Eu fui chamado neste tempo duas vezes a noite para defuntos: a meia-noite e às 2:27 h.
Todos os que estão internados no hospital têm a possibilidade de receber a cada dia a comunhão e de solicitar unção e confissão. Tem a cada dia o rosário e a missa.
Quando acontece um óbito, aqui que é ainda mais diverso do Brasil, na hora a família chama o capelão que faz a primeira parte da encomendação. O corpo fica três dias na geladeira, por burocracia italiana. Ao final deste período, o pároco vem para acompanhar o corpo para a missa no cemitério ou na paróquia, e ele celebra a última parte da encomendação. Isto é possível porque as paróquias do Veneto são pequeníssimas.
O que significa isto para mim?
Aprendi com o sofrimento que a única possibilidade de humanização é a cruz: sem esta experiência nós somos iludidos sobre nós mesmos, os outros e Deus. É o sofrimento que nos faz humanos, ou melhor, ele tem uma força de nos fazer crudelíssimos ou nos converter.
Durante estes dias no hospital eu estava lidando todo o tempo com o limite da situação humana: dor, doença e morte. Encontrei pessoas com diversas histórias de vida, mas profundamente abertas. Que aprenderam a sorrir e a ter desejos simples.
Um homem me dizia assim, mostrando as fotos com os grandes do mundo: ele era chefe-militar do palácio presidencial em Roma, muito rico e cercado de pessoas. Acreditava ter poder e amigos. Hoje está numa ala de pacientes terminais, com câncer. Concluía: Deus foi o único amigo que me sobrou de fato e tudo aqui que vivi antes foi ilusão.
Já uma mulher, que aceitava a comunhão, mas não aceitava a confissão, me dizia: se alguém tem que se confessar comigo é Deus – Ele sempre me perseguiu, me fez viúva aos 28 anos, me deu um câncer e uma mestátase. Ela foi sincera comigo, e desde aquele dia eu a visito todo dia, com uma missão: possibilitar àquela paciente terminal de fazer a experiência do amor de Deus.
O hospital é isto: não tem tempo, não tem hora. Tudo pode acontecer. Mas você se encontra com a humanidade na sua forma mais simples: sem as ilusões que temos sobre nós mesmos, nos nossos limites e com a possibilidade de um encontro sereno com o Senhor.
Em resumo:
Quando me diziam que eu fazia bem a eles eu pensava e às vezes dizia: vocês é que me fazem bem. Eu só sorria, conversava e oferecia sacramentos. Eles me deixaram impressas algumas convicções que vou somando na minha vida: a vida humana é algo muito mais simples que nossos devaneios.
Diante daqueles corpos envelhecidos e doentes, mas que continham um espírito vigoroso, eu pensava: como somos pequenos, só vale a pena usar estes poucos anos para Deus e os irmãos, o resto é ilusão.
Partilho com vocês porque creio que tenho o dever de narrar esta experiência bela para vocês, seja para lhes envolver ou, melhor, para lhes encorajar a fazer o mesmo.
Fiquem com Deus!
PS: parto para terra santa no dia 12 de agosto, ali estarei por uma semana.
Desta vez irei fazer uma especie de entrevista comigo mesmo, para dizer como foi a experiência de ser capelão num hospital público no norte da Itália.
Como funciona a saúde na Itália?
A Itália tem uma grande diferença sócio-econômica entre norte e sul, eu estou na região rica do norte. Aqui a saúde depende de cada região. No Veneto o sistema público é tão bom que não existe lugar para o sistema privado.
Eu tive que usar o hospital primeiro como paciente, e funciona assim: você vai ao seu médico de base e ele te encaminha para a clínica especializada. O médico de base trabalha em clínica fora do hospital, e pode ser procurado de segunda a sexta-feira. De posse do encaminhamento a pessoa marca o exame por internet, telefone ou no hospital. Se paga uma taxa por cada exame, que varia, mas para uma consulta é algo em torno de R$ 30,00.
Na minha cidade tem um hospital superdimensionado. Em uma população de seis mil habitantes, ele tem 8 andares, com cerca de mil leitos. É impecavelmente limpo, bem mantido e nunca o encontrei cheio. Recordo que ele pode ser usado, e é, pelas cidades vizinhas, mas existem muitos bons hospitais na região.
Uma coisa me chama a atenção: a fama dos profissionais de saúde no Brasil é de serem estressados, aqui eles são tão tranquilos e gentis, que destoa daquilo que existe fora dos hospitais.
Qual o trabalho do capelão?
A Itália é para mim uma sociedade invejável no senso que aqui vejo que, muito mais que no Brasil, há uma integração entre fé e cultura, mesmo que seja uma sociedade secularizada e com baixo percentual de frequência na igreja.
A Igreja da Itália leva com muita seriedade o trabalho nos hospitais. Aqui neste hospital a equipe é constituída por um sacerdote, um diácono e uma religiosa, sinto sempre falta de leigos (as) na pastoral italiana, muito marcada pela presença do clero. O sacerdote está no hospital todos os dias das 8 as 20 h, e quando não está, o celular fica disponível para o caso de emergência: morte e terminal. Eu fui chamado neste tempo duas vezes a noite para defuntos: a meia-noite e às 2:27 h.
Todos os que estão internados no hospital têm a possibilidade de receber a cada dia a comunhão e de solicitar unção e confissão. Tem a cada dia o rosário e a missa.
Quando acontece um óbito, aqui que é ainda mais diverso do Brasil, na hora a família chama o capelão que faz a primeira parte da encomendação. O corpo fica três dias na geladeira, por burocracia italiana. Ao final deste período, o pároco vem para acompanhar o corpo para a missa no cemitério ou na paróquia, e ele celebra a última parte da encomendação. Isto é possível porque as paróquias do Veneto são pequeníssimas.
O que significa isto para mim?
Aprendi com o sofrimento que a única possibilidade de humanização é a cruz: sem esta experiência nós somos iludidos sobre nós mesmos, os outros e Deus. É o sofrimento que nos faz humanos, ou melhor, ele tem uma força de nos fazer crudelíssimos ou nos converter.
Durante estes dias no hospital eu estava lidando todo o tempo com o limite da situação humana: dor, doença e morte. Encontrei pessoas com diversas histórias de vida, mas profundamente abertas. Que aprenderam a sorrir e a ter desejos simples.
Um homem me dizia assim, mostrando as fotos com os grandes do mundo: ele era chefe-militar do palácio presidencial em Roma, muito rico e cercado de pessoas. Acreditava ter poder e amigos. Hoje está numa ala de pacientes terminais, com câncer. Concluía: Deus foi o único amigo que me sobrou de fato e tudo aqui que vivi antes foi ilusão.
Já uma mulher, que aceitava a comunhão, mas não aceitava a confissão, me dizia: se alguém tem que se confessar comigo é Deus – Ele sempre me perseguiu, me fez viúva aos 28 anos, me deu um câncer e uma mestátase. Ela foi sincera comigo, e desde aquele dia eu a visito todo dia, com uma missão: possibilitar àquela paciente terminal de fazer a experiência do amor de Deus.
O hospital é isto: não tem tempo, não tem hora. Tudo pode acontecer. Mas você se encontra com a humanidade na sua forma mais simples: sem as ilusões que temos sobre nós mesmos, nos nossos limites e com a possibilidade de um encontro sereno com o Senhor.
Em resumo:
Quando me diziam que eu fazia bem a eles eu pensava e às vezes dizia: vocês é que me fazem bem. Eu só sorria, conversava e oferecia sacramentos. Eles me deixaram impressas algumas convicções que vou somando na minha vida: a vida humana é algo muito mais simples que nossos devaneios.
Diante daqueles corpos envelhecidos e doentes, mas que continham um espírito vigoroso, eu pensava: como somos pequenos, só vale a pena usar estes poucos anos para Deus e os irmãos, o resto é ilusão.
Partilho com vocês porque creio que tenho o dever de narrar esta experiência bela para vocês, seja para lhes envolver ou, melhor, para lhes encorajar a fazer o mesmo.
Fiquem com Deus!
PS: parto para terra santa no dia 12 de agosto, ali estarei por uma semana.
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